Importação afeta setor rico em trabalho e em tecnologia

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No setor têxtil, a parcela importada passou de 8,2% para 21,5% no período, enquanto no segmento de máquinas e equipamentos ela pulou de 22% do fim de 2005 para 36,1%. No setor de material eletrônico e equipamentos de comunicação, a fatia de produtos estrangeiros atingiu 55,2% na média dos três até novembro, bem acima dos 36,7% do quarto trimestre de 2005. Calculados pela LCA Consultores, os números mostram um avanço mais forte da participação dos importados a partir de 2006.

 

Nesse quadro, esses setores aparecem como os prováveis candidatos a se beneficiarem das políticas de desoneração tributária a serem adotadas pelo governo. Ao tomar posse, na semana passada, o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, acenou com medidas para favorecer os segmentos que sofrem com o real forte.

 

Segmentos da indústria com pesada folha de pagamentos têm sofrido muito com a competição da China, que se beneficia do câmbio desvalorizado e de uma mão de obra extremamente barata, observa o economista Douglas Uemura, da LCA. De janeiro a novembro de 2010, o volume importado de produtos têxteis aumentou 47,7% sobre o mesmo período de 2009, segundo números da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex). Nesse intervalo, a produção local desses bens subiu 5%. No caso do setor de calçados e artigos de couro, as compras externas subiram 18,8%, muito acima dos 8,5% da produção.

 

Para Uemura, um câmbio mais desvalorizado e desonerações tributárias, como a redução dos encargos sobre a folha de salários, dariam alguma ajuda a esses setores, mas há uma dificuldade estrutural em competir com o custo da mão de obra e a escala de produção da China, com exceção de nichos de maior valor agregado.

 

O economista Silvio Sales, consultor da Fundação Getulio Vargas (FGV), lembra que nesses segmentos, já em situação mais frágil em termos de competitividade, ocorre um aumento forte das importações em momentos de aceleração da demanda, ainda que a produção doméstica também cresça. O resultado é o aumento da fatia dos importados no consumo interno.

 

A situação é preocupante nos segmentos de maior intensidade tecnológica. De janeiro a novembro de 2010, as compras externas de material eletrônico e equipamentos de comunicação aumentaram 43% sobre o mesmo período de 2009, enquanto a produção local cresceu 5,1%. Para Sales, esse movimento se deve ao câmbio valorizado, mas também ao fato de que hoje o Brasil cresce a um ritmo bem mais forte que o da média da economia global. Com isso, os produtores estrangeiros buscam o mercado brasileiro de modo agressivo, com preços atraentes.

 

Para Sales, o ideal é que o governo adote medidas que beneficiem todos os setores, em vez de conceder desonerações tributárias para alguns segmentos específicos. Baixar os encargos da folha de salários indistintamente seria positivo, embora haja o problema de renunciar a receitas num momento de situação fiscal delicada.

 

O professor David Kupfer, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), diz que as medidas a serem adotadas pelo governo serão "tão mais extensas quanto menos efeito tiverem as ações do governo para conter a valorização do câmbio". Para ele, pode ser o caso de se usarem medidas de proteção a segmentos que sofrem mais com a concorrência dos importados, como a implementação de regimes especiais tarifários, desde que sejam temporários e incluam programas de reestruturação setorial, com definição de metas e contrapartidas claras. "Também é fundamental o Brasil usar mais os instrumentos de defesa comercial", diz ele, referindo-se a ações no âmbito da Organização Mundial de Comércio (OMC).

 

Uemura acredita que fatores mais estruturais têm afetado a competitividade dos produtos brasileiros. No Brasil, diz ele, não há tradição de inovação e existe carência de mão de obra qualificada, dada a educação de baixa qualidade. Um câmbio mais desvalorizado e desonerações tributárias ajudam as empresas, mas sem a resolução desses problemas de fundo a indústria brasileira de maior intensidade tecnológica tende a continuar a perder espaço para os produtos importados, acredita ele.

 


Veículo: Valor Econômico


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