A escalada de preços dos alimentos no mundo infelizmente não tem perspectiva de reversão no curto prazo.
O mais novo dado do indicador calculado pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação) mostra que, em janeiro, os preços superaram os de dezembro de 2010, estabelecendo um novo patamar histórico na série.
O lado político é parte do problema. Governantes preocupados com o aumento dos preços domésticos dos alimentos distorcem as mensagens transmitidas pelo sistema de preços, impondo subsídios, tarifas e restrições a exportações.
Um problema potencial e grave de coordenação surge à medida que retaliações de outros países inviabilizam as vantagens do comércio internacional.
As mudanças climáticas planetárias já aparecem como candidatas a parte da explicação, mesmo no curto prazo.
Eventos climáticos radicais verificados recentemente já são, de um lado, em parte creditados à tendência de aquecimento global e, de outro, responsabilizados pelos problemas de oferta de várias commodities.
As mudanças climáticas podem até ter um impacto positivo sobre a produtividade agrícola, decorrentes do aumento projetado nas quantidades de dióxido de carbono (que atua como fertilizante) e chuvas.
Mas os efeitos são particularmente perversos para questões de combate à miséria em escala global, à medida que isso não ocorre de forma homogênea entre as regiões. E aquelas que concentram populações de menor poder aquisitivo teriam, na realidade, queda de produtividade decorrente desses fatores.
E são os países dessas regiões que estão aumentando o consumo de dietas ricas em proteínas, principalmente carnes e derivados de leite, criando o argumento de pressão de demanda. Os preços dos insumos são um fator adicional a ser considerado.
Os recentes aumentos de preços do petróleo possuem efeitos de pressão sobre os custos de produção (energia e fertilizantes) e transporte dos alimentos.
A incerteza torna-se um fator adicional, à medida que não só o nível dos preços mas também sua volatilidade são importantes para a segurança alimentar mundial.
Com estoques em baixa, qualquer novo anúncio de previsão de queda de produtividade é seguido por um movimento intenso de preços nos mercados à vista e de futuros.
Nesse último, principalmente, o comportamento especulativo passa a ser apontado como fator adicional de pressão sobre os preços dos alimentos.
O quanto cada um desses fatores contribui individualmente para a nova crise global de alimentos é uma questão complexa do ponto de vista analítico, e da sua compreensão depende o sucesso de qualquer política que tente reverter a situação.
Por enquanto, a quantidade e a qualidade das informações também estão entre as causas da crise.
Veículo: Folha de S.Paulo