Em meio às discussões em torno do financiamento da safra agrícola neste período de forte restrição de crédito, o economista Guilherme Leite Dias, professor da Universidade de São Paulo (USP), é categórico ao afirmar que não adianta injetar mais recursos no financiamento rural, como pedem lideranças do setor.
"Não adianta liberar recursos. Com o risco elevado, você acha que os bancos vão emprestar para os produtores rurais?", questiona Dias, que já foi secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura.
Ele lembra que as perspectivas mudaram tanto desde o início da crise nos Estados Unidos que há "uma grande dúvida" sobre a rentabilidade da atividade agrícola no próximo ano, o que fez os bancos pisar no freio do crédito rural. Uma fonte do Ministério da Agricultura disse que há uma grande preocupação porque a safra que está sendo plantada tem custos elevados, já que os insumos foram comprados num momento de forte demanda internacional, o que elevou consideravelmente os preços dos fertilizantes e adubos importados.
Um levantamento feito pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) mostra que o custo de produção subiu 30%, em média, em 2008. Só os gastos com fertilizantes subiram 94,32% no ano. Num quadro de demanda aquecida por alimentos como o registrado no primeiro semestre deste ano, esses gastos seriam facilmente absorvidos.
Agora, com o temor de uma recessão mundial, ninguém sabe o que vai acontecer com os preços das commodities. Essas incertezas já são percebidas no campo, especialmente no Centro-Oeste, onde os custos para cobrir as deficiências de logística são maiores. "Para a maioria dos produtores, especialmente do Brasil Central, as planilhas mostram que sobra nada ou muito pouco", explica Dias.
Dólar- Apesar das incertezas econômicas mundiais, o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, acredita que a crise não vai chegar à mesa dos consumidores daqui e de outros países. "O mundo vai continuar comendo. O mundo vai continuar precisando de produtos agrícolas", disse ele na quinta-feria passada.
O vice-presidente de Agronegócios do BB, Luís Carlos Guedes Pinto, que já foi ministro da Agricultura, considera "precipitado" falar nos reflexos da crise do subprime americano para o agronegócio brasileiro. Ele lembra que pela primeira vez nos últimos anos uma safra será plantada com dólar mais baixo (R$ 1,60) e poderá ser vendida com dólar em alta (R$ 2,10).
Mas os bancos não pensam da mesma maneira, lembra Dias. "Dinheiro novo nesse ambiente de incertezas, nem pensar", afirma. Pelo menos no BB, o financiamento continua a todo vapor. Nos três primeiros meses do ano-safra, a partir de julho, as liberações para a agricultura empresarial e familiar somaram R$ 6,1 bilhões, crescimento de 64,5% em relação a igual período do ano passado, quando foram aplicados R$ 3,7 bilhões. (AE)
Veículo: Diário do Comércio - MG