Nova regra do BC deve elevar a inadimplência

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Medida deve criar dificuldades, como concentração bancária e aumento de crédito mais caro, como cheque especial

 

A grande vantagem da venda de carteiras de crédito de um banco para outro tem sido a antecipação dos ganhos. Com a venda, o banco eleva seu patrimônio líquido, podendo ceder mais crédito.

 

O que o Banco Central quer é que o banco vendedor não antecipe ganhos imediatamente, que estes sejam ser diluídos ao longo do vencimento do crédito no tempo. A medida (resolução 3.533) visa enquadrar o Brasil globalmente em termos contábeis e reduzir o aumento veloz do patrimônio e de novos créditos.

 

Alguns bancos pequenos e médios se utilizaram da postergação dessa resolução para se capitalizar mais rapidamente e, com isso, facilitar o crédito para o tomador.
A antecipação dos ganhos teve efeito direto sobre tomadores: permitiu, por exemplo, que o crédito consignado (com desconto em folha), produto marginal há anos, virasse vedete para pessoa física.

 

O consignado é um produto de juro baixo, que incorporou excluídos bancários (como aposentados e pensionistas), tem penetração forte também no interior do país e, em última instância, ajudou a reduzir os juros médios e controlar a inadimplência.
A medida reduzirá a capacidade de crescimento de crédito dos bancos que precisam das cessões para manter posição e atender à demanda.

 

A conjuntura de combate à inflação e o crescimento do endividamento por um lado e, a convergência contábil por outro, atingem diretamente esses bancos, já afetados após o caso PanAmericano.
O BC tem o desafio duplo de controlar crédito e inflação e, ao mesmo tempo, garantir solidez do sistema e impedir alta da inadimplência. Nesse cenário, há algumas possíveis saídas. Por um lado, uma eventual flexibilização da regra ou um novo adiamento da resolução.

 

Por outro, os bancos buscariam imediatamente aumentar seus patrimônios, via aporte de capital, entrada de sócio estratégico, fusões, vendas ou redução/descontinuidade das atividades de crédito consignado, já que não contarão mais com essa mecânica de antecipação de ganhos.

 

A medida deve criar dificuldades: bancos ficarão limitados na capacidade de crescimento de crédito, haverá maior concentração bancária, e alguns segmentos da população correrão para modalidades de crédito mais caras (como cheque especial).
Se for o caso, o comprometimento de renda poderá ficar mais alto, com efeito negativo sobre a inadimplência.

 


Veículo: Folha de S.Paulo


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