Apesar do uso do cheque estar em declínio, o valor médio das transações feitas com essa modalidade de pagamento segue em direção contrária. De 2005 até 2010, o valor médio aumentou 79,74% de R$ 558 para R$ 1.003 como mostram os dados do Banco Central (BC). Por outro lado, o número de operações realizadas teve queda de 33,71% no mesmo período, de 2,5 bilhões para 1,6 bilhão.
Na avaliação dos especialistas, o recuo no número de transações está relacionado ao avanço dos cartões de crédito e débito nas compras do brasileiro. Já a alta no valor médio reflete o momento econômico positivo com os consumidores gastando mais. O conselheiro do Conselho Regional de Economia (Corecon-SP) e economista da Planning Consultoria, Cláudio Gonçalves, afirma que a entrada de mais pessoas no mercado bancário, impulsionada pela alta dos empregos com carteira assinada, contribuíram para os números positivos do cheque.
Os recordes de vendas de veículos e de imóveis no ano passado também podem ter ajudado a impulsionar o valor médio das transações. Isso porque a entrada da compra do carro ou da moto e até as transações relacionadas a aquisição do imóvel, como pagamento de corretores e cartório, envolvem o uso do cheque.
Para Gonçalves, outra situação que pode estar relacionada ao aumento do valor do cheque é o uso da modalidade como alternativa para quem já está com outras linhas de crédito comprometidas. “Ainda existe a cultura do uso do cheque e ela deve continuar por muito tempo”, diz o economista.
O assessor econômico da empresa de análise de crédito Serasa Experian, Carlos Henrique de Almeida, ainda inclui entre os fatores influentes para a alta do valor médio o uso do cheque pelos micro e pequenos empresários. “O pequeno empresário têm usado o próprio cheque, como pessoa física, para pagar fornecedores da empresa”, afirma.
Cheque, cartão e dinheiro
Na comparação entre cheque, cartão de crédito e dinheiro, o professor Marcelo Cambria, da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap), explica que o consumidor ainda prefere o cheque para quitar compromissos de maior valor por dois motivos. O primeiro é que não há limite de valor na hora de preencher, assinar e transferir o cheque ao credor. Já o cartão tem um limite de crédito diferente para cada cliente. No caso do dinheiro, pagar débitos de maior valor com as cédulas é inconveniente e arriscado para se transportar.
“O talão de cheque deixou de estar na carteira do brasileiro. Está mais na gaveta, no cofre. Por causa do medo de roubo, as pessoas andam com, no máximo, três folhas de cheque”, destaca o professor Marcos Crivelaro, da Faculdade de Informática e Administração Paulista (Fiap).
Necessidade eventual
Segundo o professor da Fiap, o cheque é usado só em casos pontuais. É o caso da comerciante Regina Oliveira, 49 anos, que só carrega algumas folhas na bolsa.
“Uso cheque em uma eventual necessidade, só quando o estabelecimento comercial oferece algum desconto ou só aceita esse tipo de pagamento”, diz a comerciante que usou o cheque na semana passada em uma loja no Bom Retiro.
O motorista Sidinei Batista, 32 anos, dificilmente anda com o talão de cheque na carteira. Mas a última vez que usou foi para comprar material de construção para sua casa. “O limite do cartão era pouco e usei o cheque pré-datado”, lembra.
Veículo: Jornal da Tarde - SP