Serviços e preços administrados são os principais culpados pela alta da inflação neste ano, deixando alimentos e bebidas num distante terceiro lugar. Da alta de 4,2% registrada pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) de janeiro a julho, os serviços (como aluguel, condomínio, empregado doméstico, cabeleireiro e mensalidades escolares) foram responsáveis por 37,1% do aumento, seguido pelos preços administrados (como tarifas de ônibus, energia elétrica e combustíveis), com 31%. O grupo alimentação e bebidas, por sua vez, contribuiu com 18,6% da alta do IPCA-15 no período, bem menos que os 32% registrados em igual período do ano passado e os 40% de 2010 inteiro.
A composição da inflação neste ano reflete especialmente o aquecimento do mercado de trabalho e o peso da inflação passada, numa economia que ainda tem um grau razoável de indexação. O impacto dos preços de commodities sobre a inflação de alimentos foi mais forte em 2010, embora ainda tenha feito estragos no primeiro trimestre deste ano.
As cotações dos serviços subiram 6,4% de janeiro a julho, uma alta mais forte que os 5,1% de igual período do ano passado. Nos 12 meses até julho, esse grupo de preços teve aumento de 8,9% no IPCA-15, mostrando aceleração forte desde o terceiro trimestre de 2010. Para o economista Fabio Romão, da LCA Consultores, o comportamento dos serviços se deve à combinação do mercado de trabalho aquecido - ainda que o emprego e a renda cresçam a taxas mais fracas do que nos melhores momentos do ano passado - com a inflação salgada do ano passado.
Com baixo desemprego e rendimento em alta ainda considerável, aumenta o espaço para reajuste de serviços como cabeleireiro, médico e dentista, entre outros. Nos 12 meses até julho, o item médico subiu 9,75% no IPCA-15, uma variação bastante forte.
Romão também lembra que a inflação passada em níveis elevados pressiona alguns serviços, como aluguel, cujos contratos são em geral corrigidos pelo Índice Geral de Preços de Mercado (IGP-M), que em 2010 avançou 11,3%. Nos 12 meses até julho, o aluguel aumentou 10,21% no IPCA-15, um movimento também facilitado pelo aquecimento da economia, que permite reajustes mais elevados. "Os serviços devem continuar a ser a principal fonte de pressão sobre os preços", diz o economista Thiago Curado, da Tendências Consultoria, destacando também o impacto da força do mercado de trabalho sobre essas cotações.
Uma das surpresas desagradáveis da inflação neste ano veio dos preços administrados. "Houve uma alta surpreendente desse grupo no primeiro quadrimestre do ano", diz Romão. Curado vai na mesma linha, lembrando que, nos primeiros quatro meses de 2011, a inflação de administrados superou o acumulado em todo o ano de 2010.
Uma das altas com maior impacto é da tarifa de ônibus urbano, com aumento de 8,45% acumulada no ano. "Esse tipo de tarifa costuma subir com força em anos em que não há eleições, como 2011", diz Romão, observando que os preços do táxi também aumentaram significativamente - 8,36% de janeiro a julho. O economista também ressalta que os preços de energia elétrica subiram mais do que muitos analistas esperavam.
Em comparação com serviços e preços administrados, o grupo alimentação e bebidas mostra um comportamento até benigno neste ano. Subiu 3,3% de janeiro a julho, bem menos que os 4,6% do mesmo período do ano passado. Depois de avançar com força no primeiro trimestre, as commodities deram algum alívio a partir de abril. Além disso, alguns preços haviam subido muito em 2010, sendo natural alguma descompressão neste ano, diz Romão. A projeção da Tendências para alimentos e bebidas em 2011 é de 6,5%, com alimentação no domicílio subindo 4,8% e fora do domicílio, 10%. Para o IPCA no ano, Curado estima alta de 6,6%, acima do teto da meta, de 6,5%, e Romão, de 6,1%
Veículo: Valor Econômico