Para confederação, indústria vive 'frustração' de perder relevância no país
Segmento que puxava economia representa hoje 3,5% do PIB; queda vem acompanhada por deficit comercial maior
Com custos de produção muito menores, a concorrência asiática pressiona o setor têxtil brasileiro em todas as fases, da indústria de tecidos à de confecções, afirma a CNI (Confederação Nacional da Indústria).
Assim, embora o segmento venha aumentando o número de trabalhadores e de empresas, perdeu importância relativa na economia.
"É a grande frustração da indústria têxtil: por falta de políticas de apoio, perdeu a chance de expansão internacional, que a Ásia aproveitou, e corre o risco de não dar conta do crescimento da demanda interna", diz Flávio Castelo Branco, gerente-executivo de política econômica da CNI.
Hoje, o setor representa 3,5% do PIB (Produto Interno Bruto) do país, segundo dados da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção).
Alguns itens, como tecidos para camisas, ternos e jaquetas, deixaram de ser produzidos no Brasil porque grande parte das tecelagens fechou, diante de falta de condições para competir com os produtos importados.
Além disso, roupas prontas vindas da Ásia, tanto feitas por empresas estrangeiras como por brasileiras instaladas lá, ganham a disputa com produtos nacionais.
A CNI destaca que a situação foi agravada pela valorização do real, que barateou as importações.
O economista Alexandre Schwartsman afirma que a crise em dois dos principais mercados consumidores de confecções e têxteis e brasileiros -EUA e Europa- tem impacto negativo na indústria nacional. "Eles ainda não recuperaram a demanda."
FINANCIAMENTO
De acordo com Roberto Chadad, presidente da Abravest (Associação Brasileira do Vestuário), faltam alternativas de financiamento para a cadeia de confecções, pulverizada em mais de 23 mil micro e pequenas empresas.
"Esses empresários não dispõem de uma estrutura administrativa para apresentar projetos ao BNDES. Desse modo, ficam reféns de financiamentos caros", diz.
Com novas medidas, indústria têxtil vislumbra 'contra-ataque'
A desoneração da folha de pagamentos e a unificação da alíquota do ICMS para mercadorias importadas foram as boas notícias que a indústria têxtil e de confecção recebeu do ministro da Fazenda, Guido Mantega.
Também foi instituído grupo técnico a fim de analisar propostas para ampliar a competitividade setorial: intensificar fiscalização do comércio de importados e criar linhas de financiamento.
As medidas respondem à perda de competitividade do setor, abalado pelo custo Brasil e pelo câmbio sobrevalorizado, que o expõem ao ataque internacional e a práticas comerciais pouco éticas.
Resultado: foi de US$ 5 bilhões o deficit da balança setorial em 2010 -US$ 2,17 bilhões do intercâmbio bilateral com a China. O problema se agrava: o saldo negativo do comércio multilateral no ano (até maio) já foi de US$ 1,89 bilhão -46,2% maior que no mesmo período de 2010).
A despeito de todas essas dificuldades, que nos custaram a criação de 135 mil empregos no ano passado, o setor continua investindo (mais de US$ 2 bilhões em 2010) e priorizando diferenciais competitivos civilizados e politicamente corretos, como o respeito a direitos trabalhistas e ao ambiente, design avançado, tecnologia, inovação e serviços de qualidade.
O Brasil tem a quinta maior indústria têxtil e de confecção. Possivelmente, passaremos ao quarto lugar em 2011.
As empresas estão em todo o território nacional e mesclam uma base produtiva forte, ampla, diversificada e fomentadora de conhecimento e inovação. Temos semanas de moda com importância global, cadeia de distribuição com mais de 100 mil pontos de venda e um dos maiores mercados consumidores.
Portanto, a partir das medidas anunciadas, o setor agregará melhores condições para se defender do assédio de concorrentes estrangeiros.
Assim, delineiam-se novas perspectivas, viabilizadas pelo diálogo e o entendimento entre sociedade e governo. Pode-se vislumbrar até mesmo um contra-ataque, mirando o universo de consumo das economias com as quais temos hoje desvantagem no comércio bilateral.
Veículo: Folha de S.Paulo