Consultoria estima que as commodities devem subir 9,5% no Brasil, caso a cotação média do dólar este mês fique em torno de R$ 1,75; preço de manufaturados importados também deve subir
A escalada do dólar deve ter forte impacto na inflação ao consumidor no último trimestre do ano, tanto pelo lado das cotações dos alimentos e de outras matérias primas, como das cotações dos produtos manufaturados.
Se o câmbio médio deste mês girar em torno R$ 1,75, os preços das commodities terão alta de 9,5% em reais, com reflexos nos preços no atacado e no varejo, calcula o sócio da RC Consultores, Fabio Silveira.
"Será uma forte pressão inflacionária sobre os IGPs e os IPCs", afirma o economista. Para chegar a esse número, ele considerou um câmbio médio de R$ 1,75 neste mês e o comportamento do índice CRB (Commodity Research Bureau), que acompanha a cotação de 25 commodities, entre as quais estão alimentos, metais e petróleo.
Apesar de o índice CRB ter recuado desde julho em dólar, o dólar caminhou no sentido oposto e se valorizou em relação ao real. Com isso foi anulado o impacto desinflacionário dos preços em reais das commodities.
Silveira não se arrisca a projetar o tamanho do repasse da alta dos preços das commodities para o IPCA, Mas diz que no quarto trimestre de 2010, quando os preços das commodities medidos pelo CRB variaram entre 4% e 5% em reais, o impacto ocorreu no primeiro trimestre deste ano: em fevereiro e março, o IPCA variou entre 0,7 a 0,8% ao mês. "O impacto é inevitável."
José Augusto de Castro, vice-presidente executivo da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), observa que apesar de os importadores terem fechado o câmbio quando a cotação era mais favorável às compras externas, provavelmente haverá algum repasse porque a conta que o empresário faz é custo de reposição do produto. Com o dólar mais alto, o custo aumenta.
"É possível que haja um aumento de 10% nos preços em reais dos manufaturados no Natal", prevê Castro. Ele observa também que, do ponto de vista das exportações, o dólar na casa de R$ 1,80 diminui a defasagem, mas ainda é insuficiente para tornar os produtos brasileiros competitivos no exterior.
"O dólar terá impacto nos preços dos produtos, seja no arroz, no feijão ou no iPad", afirma Antonio Pargana, presidente da Cisa Tranding, uma das maiores tradings e que administra as importações da Apple no Brasil.
O executivo pondera que no caso dos automóveis, o maior impacto decorre não do câmbio, mas do aumento do IPI para as marcas que importam fora do Mercosul e do México. "Neste caso, as importações podem cair abaixo de 50%", diz ele, após ter trocado ideias com os clientes.
O presidente da Sertranding, Alfredo de Goeye, considera que o impacto inflacionário do câmbio nos importados deve ocorrer a médio prazo. "Os reflexos no comércio exterior são mais demorados", diz o executivo. Ele explica que um pedido fechado hoje com dólar beirando a R$ 1,80 chegará no País em 90 dias.
Veículo: O Estado de S.Paulo