Brasil é o que mais atrai capital para o varejo

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O varejo brasileiro tem chamado cada vez mais a atenção do capital externo, e já atrai mais investimentos do que o chinês e os outros países que compõem as economias do BRICS, como Rússia e Índia, que cresceram nos últimos anos bem mais do que as dos países industrializados. De acordo com dados da consultoria americana A.T.Kearney, principalmente o capital europeu, que ainda parece ter interesse em ampliar suas estratégias no País, deve se destacar, mesmo depois de uma década de fusões e aquisições de empresas brasileiras de vários segmentos do setor varejista, entre os quais estão os de shopping centers, supermercados, vestuário, franquias e veículos.

Segundo o coordenador de Promoção e Investimentos da Apex-Brasil, Marcos Mandacaru, a combinação de fatores como crescimento sustentado, estabilidade macroeconômica e institucional, forte política de inclusão social e melhoria da distribuição de renda proporciona ao Brasil melhores condições para sua inserção no concorrido mercado mundial. "E projeta o País no cenário internacional, político e econômico", diz.

Para Mandacaru, vale lembrar que em apenas oito anos a renda per capita do brasileiro aumentou quase 50%, ao passar de US$ 7,6 mil em 2002 para US$ 11 mil em 2010. Instituições financeiras projetam que nos próximos dez anos a renda per capita dobrará de valor em relação ao que é hoje. Hoje, o varejo representa cerca de 15,5% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, e a tendência é que este percentual cresça em termos significativos nos próximos anos.

De acordo com o coordenador e professor do MBA Empresarial da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), Mário Pascarelli Filho, de três anos pra cá cerca de 50% das varejistas brasileiras listadas na bolsa possuem alguma parte de participação de fundos estrangeiros. Para o analista, o Brasil tornou-se o local com uma das rentabilidades mais altas para se investir; ele diz que a força no varejo do País, combinada com a crise nos países europeus, deve contribuir ainda mais para a intensidade desses investimentos.

"No varejo, pela experiência que temos nos eventos realizados no exterior e pelas demandas de investidores, notamos que os ramos de shopping centers, alimentação, vestuário e cosméticos são os mais procurados", afirma Mandacaru.

Centros de compras

Na mesma linha de raciocínio seguem especialistas do ramo de centros de compras, que envolve gigantes do mercado como parte da BrMalls, que surgiu com investimento americano, além do Sonae Sierra, de capital português, afora a Aliansce e a Squarestone com investimentos americano e britânico, respectivamente. De acordo com a Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop), estima-se que, nos últimos seis anos, os investimentos a estrangeiros em shopping centers brasileiros giram em torno de US$ 10 bilhões e vieram principalmente calcados nos Estados Unidos e no Canadá.

A entidade afirma que o segmento foi atraído pela estabilidade da economia nacional e pela indústria crescente do setor. Outros fatores do crescimento foram a média de idade no País -cerca de metade população tem menos de 25 anos- e a inserção maior das mulheres no mercado de trabalho. Elas tendem a gastar mais que os homens, e por isso é importante que elas sejam ativas na economia, impulsionando as vendas e o desenvolvimento da área. "Hoje é possível sentir que o mundo está mais voltado às empresas do Brasil, não no sentido de uma monopolização, mas de interesse nas várias cadeias produtivas", afirma o diretor de Relações Institucionais da Alshop, Luís Augusto Ildefonso da Silva.

Em um setor que envolve atualmente 776 empreendimentos e em que no último ano houve um salto de 7,74% em relação a 2009, mais da metade desses empreendimentos é dominada por investidores externos; grande parte desses novos centros de compras que surgirão serão administrados justamente pelas líderes do segmento.

Em sua criação e desenvolvimento, a Aliansce, por exemplo, já tem participação em 19 malls do País, dos quais 15 estão em operação, e quatro, em desenvolvimento. A empresa nasceu de uma parceria entre a Nacional Iguatemi e a norte-americana General Growth Properties (GGP) com 31% de participação. Primeira a receber um investidor externo, a Aliansce apontou crescimento de 27,9% de vendas do terceiro trimestre, se comparadas às do mesmo período do ano passado, sendo que já tinha registrado R$ 1,2 bilhão em vendas no segundo trimestre de 2011.

Há cinco anos no Brasil, a britânica Squarestone pretende atingir 60 mil metros quadrados de área bruta locável (ABL) por ano no País. Já adquiriu o Shopping Bonsucesso, de Guarulhos, trabalha no remodelamento do futuro Golden Square Shopping, de São Bernardo do Campo (SP), e foca na construção de novos shoppings, especialmente nas Regiões Sul, Sudeste e Nordeste, onde a empresa vê um grande potencial de crescimento.

Oferecendo a clientes no exterior o seu conhecimento sobre o mercado local, a Sonae Sierra Brasil -braço da holding meio portuguesa Sonae Sierra e meio norte-americana DDR- administra 353 mil metros quadrados de ABL e possui 13 malls no País, dos quais três estão em desenvolvimento. Cuida também da expansão do Shopping Metrópole, uma aposta da rede na região do ABC Paulista, em São Bernardo do Campo (SBC).

Sem negar que nos últimos anos os investimentos externos têm se intensificado no Brasil, o CEO da empresa no País, José Baeta Tomás, diz que a meta é investir perto de R$ 770 milhões até 2013. "Sem dúvida os investimentos estrangeiros no Brasil cresceram nos últimos seis anos. Fomos um dos primeiros a chegar e a tendência é que aumente mais nos próximos anos; o Brasil é país onde o setor mais cresce", afirma Tomás. O grupo também anunciou ter interesse em trazer lojistas do exterior, como fez com a marca de roupas Zara e a rede de produtos Fnac.



Veículo: DCI


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