Com a crise, projeções sobre inflação se tornam mais dispersas

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Raras vezes as previsões de inflação do mercado financeiro estiveram tão dispersas como agora. Dados divulgados pelo Banco Central mostram que os projeções dos analistas econômicos para 2009 se dividem em três grandes grupos: os que esperam inflação perto de 6%, os que projetam números em torno de 5% e os que trabalham com percentuais na casa dos 4,5%, que é a meta do ano. Existe ainda uma parcela relativamente pequena, mas que cresceu em setembro, que espera inflação de 4%. 

 

As projeções se tornaram mais dispersas em razão da crise internacional, um desses eventos que ocorrem uma vez a cada século. As turbulências provocaram ruptura nas séries estatísticas usadas para alimentar os modelos econômicos. Sem dados confiáveis, os analistas são obrigados a se valer mais da intuição econômica para prever o futuro. 

 

Todas as semanas, o BC divulga o resultado da pesquisa que faz com cerca de 100 analistas econômicos. Os economistas costumam ter opiniões diferentes sobre a inflação, mas, em geral, sempre houve certo consenso, com as projeções gravitando em torno de um valor central. 

 

Em 30 de abril, por exemplo, cerca de 40% dos analistas esperavam que a inflação de 2009 fosse ficar em 4,4%. Os outros 60% citavam valores ao redor de 4,4%, metade acima desse percentual e metade abaixo dele, distribuídos de forma suave e ordenada, como duas caudas de jacaré. 

 

No levantamento feito pelo BC em 31 de outubro, porém, o desenho que salta aos olhos é uma cadeia com pequenas montanhas. Pouco menos de 15% dos analistas esperam inflação de 4,5%, pouco mais de 15% dos analistas espera inflação de 5% e pouco menos de 15% dos analistas espera algo perto de 6%. Há também uma parcela pouco inferior a 5% dos analistas que espera inflação de 4%. As projeções dos demais economistas gravitam em torno das montanhas. 

 

Outra forma de observar a falta de consenso do mercado é pelo chamado desvio padrão, que é uma medida estatística de dispersão. O desvio padrão passou de 0,35 para 0,5 entre o início de setembro e o fim de outubro, num indicador que, quanto maior, maior a dispersão. 

 

Os analistas econômicos passaram a fazer projeções díspares porque, com a crise financeira, os dados estatísticos do passado deixaram de ser um guia confiável para projetar o futuro. "É um período de ruptura", afirma o economista Roberto Padovani, do Banco West LB. "As projeções passaram a depender menos dos dados passados e mais das hipóteses sobre o futuro." 

 

Boa parte do trabalho dos economistas consiste em coletar séries de dados passados, como desemprego, juros e taxa de câmbio, e estabelecer relações matemáticas e estatísticas entre elas para antecipar o que vai acontecer no futuro. Com a crise internacional, porém, observam-se quebras nessas séries de dados. O câmbio vigente em agosto, por exemplo, diz pouco sobre como será o câmbio daqui por diante. 

 

Dois conjuntos de dados concentram as divergências dos economistas: a taxa de câmbio e a evolução do crédito. "Alguns economistas defendem, com argumentos consistentes, que a a taxa de câmbio ficará em R$ 2,30", afira Padovani. "Mas outros economistas apresentam argumentos sólidos para dizer que a taxa de câmbio voltará para R$ 1,80." 

 

O economista Elson Teles, da Concórdia Corretora, diz que a divergência não se resume à projeção sobre o futuro da taxa de câmbio, mas também sobre a influência que a taxa de câmbio vai ter na inflação. "Tem gente que projeta uma taxa de câmbio e, como nada tivesse mudado na economia, calcula automaticamente qual vai ser o impacto na inflação", afirma. "Outros ponderam que, no mundo atual, o repasse do câmbio na inflação será bem diferente que no passado." 

 

No caso do crédito, acontece algo semelhante. Diferentes economistas projetam de forma diferente o quanto o crédito vai encolher depois que a crise afetou o sistema bancário. Feita a hipótese sobre a queda do crédito, há dúvidas sobre quanto essa desaceleração vai afetar a demanda. 


Veículo: Valor Econômico


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