Alimentos mais baratos derrubaram a inflação percebida pelas famílias de baixa renda ao longo de 2011. No entanto, na margem, o setor foi o que mais contribuiu para o avanço de preços entre os mais pobres, de novembro para dezembro A avaliação é do economista da Fundação Getulio Vargas (FGV) André Braz.
Segundo ele, o Índice de Preços ao Consumidor - Classe 1 (IPC-C1) desacelerou de 11,33% para 5,98% de 2010 para 2011, favorecido pela perda de força da inflação dos alimentos (de 11,03% para 5,45%). Mas, de novembro para dezembro, o indicador saltou de 0,50% para 1%, pressionado também por Alimentação (de 0,63% para 1,74%).
Braz explicou que, no ano passado, a perda de dinamismo da economia global e a piora da crise europeia levaram ao arrefecimento no avanço dos preços das commodities, em particular as agropecuárias. Na prática, isso contribuiu para alimentos mais baratos no mercado doméstico. Ao mesmo tempo, o especialista lembrou que, em 2011, não houve quebras de safras expressivas no País, que poderiam causar redução na oferta. Mas de novembro para dezembro, aspectos sazonais como maior consumo de carnes e entressafras levaram a uma redução de oferta em itens mais consumidos na cesta básica dos mais pobres.
É o caso dos acréscimos nas taxas de variação de preços em carnes bovinas (de 2,51% para 3,63%); aves e ovos (de 0,85% para 2,56%); panificados e biscoitos (de 0,75% para 1,62%); frutas (1,04% para 2,53%); e arroz e feijão (-1% para 3,59%).
No entanto, em 2011, as principais quedas de preço foram originadas do setor de alimentação. É o caso de arroz e feijão (-5,91%); frutas (-0,12%); panificados e biscoitos (- 4,31%); aves e ovos (-5,56%); e carnes bovinas (-5,17%). "Não tivemos nenhum choque de oferta em 2011 em itens mais essenciais da cesta básica. Pelo contrário, os preços ficaram mais comportados."
Em 2012
Para o especialista, a inflação entre os mais pobres deve seguir "bem comportada" em 2012. Isso porque os fatores que contribuíram para commodities mais baratas em 2011 ainda devem permanecer este ano, pelo menos no curto e no médio prazo. "Não acho que seja um ano de grande valorização de preços para as commodities", acrescentou. Além disso, lembrou que as notícias sobre safra até o momento são positivas.
Entre as famílias mais pobres, as compras com alimentos respondem por 40% do orçamento mensal - enquanto que, entre famílias mais ricas, este percentual não ultrapassa 30%. Ou seja: a trajetória da inflação dos alimentos determina a trajetória do IPC-C1.
Selic
Se até o começo da semana passada o mercado titubeava em relação a um segundo corte da taxa básica de juros (Selic), em março, visto que a redução de 0,5 ponto percentual em janeiro é dada como certa, o cumprimento da meta de inflação em 2011 e as consecutivas melhoras do IPCA diário da FGV seguem retirando prêmios da curva a termo de juros futuros. Com isso, os agentes voltaram a enxergar o juro básico em 10% no fim do primeiro trimestre, ao aguardar apenas a sinalização do Banco Central (BC), após a reunião de março.
Assim, ao término da negociação normal na BM&F, o DI janeiro de 2013, com giro de 270.985 contratos, cedia a 10,00%, de 10,04% no ajuste, enquanto o DI janeiro de 2014 (171.260 contratos) recuava a 10,49%, de 10,57% na véspera. Entre os longos, o DI janeiro de 2017 (27.260 contratos) estava em 11,10%, de 11,15% da última segunda-feira, e o DI janeiro de 2021 (1.435 contratos) caía a 11,29%, de 11,34% no ajuste.
Ontem, segundo uma fonte que teve acesso à coleta diária da FGV, o IPCA no critério ponta desacelerou a alta de 0,40% no dia 7 para +0,33% de segunda-feira, com o grupo alimentação e bebidas arrefecendo o avanço de 1,24% para 0,98%. Já o IPCA geral saiu de 0,47% para 0,44%. A desaceleração do IPCA-15, por sua vez, passou de 0,47% para 0,41% no critério ponta.
Entre os efeitos que podem pressionar os preços mais adiante, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) reduziu ontem a projeção para a safra de grãos 2011/2012 em seu quarto levantamento, em razão de fatores climáticos adversos, principalmente no Sul do País, cujas lavouras enfrentam período de estiagem. A produção nacional está estimada em 158,45 milhões de toneladas, o que representa queda de 2,8% (4,51 milhões de toneladas) em comparação com a safra 2010/11, que foi de 162,96 milhões de toneladas.
Esse quadro ruim para as commodities pode reverter, mais adiante, os atuais indicadores positivos de inflação. Até mesmo porque o clima não está nos modelos da maioria dos analistas. E, além das commodities agrícolas afetadas pela seca no Sul, o excesso de chuvas no Sudeste - sobretudo em Minas Gerais - pode impactar a exploração de minério de ferro e, consequentemente, trazer pressão aos preços da matéria-prima.
Veículo: DCI