Produção industrial registra forte variação entre Estados

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Os dados regionais da produção industrial evidenciam as grandes diferenças da atividade entre os Estados brasileiros. Enquanto as indústrias do Paraná e do Espírito Santo tiveram forte crescimento em 2011 - 7% e 6,8%, respectivamente - Ceará e Santa Catarina viram a produção encolher 11,7% e 5,1% no período.

 

O que explica essa disparidade é a concentração de setores, segundo economistas. "Quando se tem apenas um ou dois setores de grande relevância no Estado, o desempenho da região acaba sendo reflexo dos resultados desses segmentos", diz Mariano Laplane, presidente do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE).

 

No Ceará, o resultado negativo pode ser explicado pela queda de mais de 20% na produção local de têxteis, calçados e artigos de couro no ano passado. O Estado reúne grande parte das indústrias desses setores, que sofreram duramente com o aumento das importações e as restrições às exportações. "A Argentina, um dos principais destinos dos nossos produtos, tem dificultado as negociações", afirma Laplane. Em 2011, a retração da indústria têxtil foi de 14,9%, enquanto a de calçados e artigos de couro encolheu 10,4%.
 


Outro importante produtor de têxteis é Santa Catarina, que viu o desempenho do segmento recuar 17,8% no ano passado. "Além disso, o Estado também sente o impacto em máquinas, equipamentos e materiais elétricos", conta Rogério César de Souza, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). Segundo ele, o segmento também é afetado pela concorrência dos produtos importados.

 

Na ponta contrária, o Paraná viu a expansão do segmento de transporte. "O crescimento da renda agrícola deu fôlego para a fabricação de tratores, caminhões e máquinas agrícolas", diz o professor do Ibmec, Marcus Xavier. Uma mudança na norma de emissão de poluentes, o Euro 5, que impôs alterações nos motores de veículos pesados, ajudou a impulsionar a produção de caminhões.

 

Prevendo antecipação nas encomendas, como normalmente acontece às vésperas de mudanças na legislação, as montadoras intensificaram a produção. O aumento em 2011, de acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), foi de 14%. No Paraná, a indústria de veículos cresceu 30% em 2011, sendo a principal contribuição para a alta de 2,4% na produção nacional do setor.

 

O segmento de petróleo, por sua vez, foi destaque tanto no Paraná quanto no Espírito Santo. "A Petrobras tem feito fortes investimentos no desenvolvimento do setor", lembra Laplane.

 

Outra commodity que tem movimentado a indústria capixaba é o minério de ferro, segundo Xavier. "Há indústrias de beneficiamento para exportação no Estado", afirma. No ano passado, a indústria extrativa local teve expansão 29,6%, puxando o crescimento de 2,1% do setor em âmbito nacional.

 

Com exceção de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, todos os demais Estados brasileiros têm como característica a concentração, o que os deixa suscetíveis a grandes oscilações. Os economistas concordam que este é um fator de vulnerabilidade, colocando em risco o emprego, o consumo, a prestação de serviços e a receita dos Estados.

 

"É como um time que depende de um craque. Se o craque está bem, o time ganha, mas no dia em que o craque se machuca, o time vai mal. O ideal seria ter vários craques no time", compara Laplane.

 

Para ele, mudanças não devem ocorrer no curto prazo. "Diversificação exige grande volume de investimentos e não é algo que se faça da noite para o dia", diz, acrescentando que os Estados sempre buscam atrair novas empresas, mas nem sempre o resultado é positivo.

 

Veículo: Valor Econômico


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