Crescimento das vendas no varejo e salário mínimo

Leia em 2min

Os dados do comércio varejista para o mês de janeiro surpreenderam. Acusaram, na margem, um crescimento de 2,6%, com reajuste sazonal, e de 7,3%, em relação ao mesmo mês de 2011 (sem reajuste). Mais surpreendentes são os dados dos supermercados, com crescimento de 7,9%, na margem, e de 7,7%, em relação ao mesmo mês do ano passado.

A primeira reação seria atribuir esse crescimento (o maior desde que existe a série) ao aumento de 14% do salário mínimo, cujo pagamento na maioria dos casos ocorreu só no final do mês. Seguramente, ele influiu nas vendas dos supermercados (bens de salário), mas a melhor explicação parece estar na mudança, muito sensível, no peso relativo dos setores analisados: o peso dos supermercados passou de 25,4% para 49,5%, enquanto o do setor de móveis e eletrodomésticos caiu de 53,9% para 20,6%. Isso torna difícil a comparação com os dados anteriores.

O que parece incontestável é o "efeito salário mínimo" no forte aumento das vendas em Estados onde o contingente dos trabalhadores que recebem salário mínimo é o mais importante.

De fato, o comércio varejista do Estado de Roraima cresceu 24,5%; o do Tocantins, 22,8%; o de Mato Grosso do Sul, 18,5%; enquanto o de São Paulo cresceu 7,8% e o do Distrito Federal, onde pouca gente recebe o mínimo, cresceu 2,2%.

Não é apenas nos gastos com alimentação que a melhora da renda se traduziu em aumento das vendas. Com exceção dos equipamentos de informática, cujas vendas em dezembro haviam aumentado 7%, e diminuíram 2,3% em janeiro, todos os outros setores cresceram, com destaque para o vestuário, com aumento na margem de 5,2%, que pode ser resultado de um adiamento de compras à espera das liquidações.

O comércio varejista ampliado, que inclui as vendas de veículos e de material de construção, cresceu apenas 1,4%, e as vendas de veículos caíram 2,6%. Essa queda nos leva a uma reflexão que pode ser importante.

Certamente o endividamento das famílias, que cresceu nas festas natalinas, não favorece a compra de bens de custo elevado. Gastos com a compra de casa própria (que o aumento de 3,7% nas vendas de material de construção confirma) levam a adiar a troca de veículos. Parece, todavia que estamos diante de um novo contexto do consumo em razão do crescimento da classe C. Se nas classes mais ricas a troca de veículos é normal, na classe C ela não será tão frequente. É a mudança social influindo no perfil do comércio.



Veículo: O Estado de S.Paulo


Veja também

Empresas brasileiras de médio porte inovam pouco, diz estudo

Maioria não faz parcerias nem usa incentivos para inovação, segundo a Fundação Dom Ca...

Veja mais
Aumento das dívidas deve retirar fôlego do consumo

O aperto no orçamento familiar com dívidas maiores e de prazo mais longo pode amortecer o crescimento do c...

Veja mais
Rendimento médio bate recorde em fevereiro

Aumento de 14% no mínimo ajuda a elevar a renda média, que chega a R$ 1.699,70O aumento de 14% do sal&aacu...

Veja mais
Governo acena para indústria com novas medidas de estímulo

Dilma se reúne com empresários e banqueiros e pede 'instinto animal' para reativar crescimentoEm meio a cr...

Veja mais
Vendas com leve recuo em janeiro

Se comparado os negócios do 1º mês deste ano com os de dezembro de 2011, a retração foi ...

Veja mais
Brasil é o pior para negócios, segundo ranking

Em levantamento da Bloomberg, país aparece em 50º lugar, atrás de Rússia e ÍndiaO Brasi...

Veja mais
Inadimplência deve cair até 2013, diz BC

Relatório prevê 'estabilização com perspectiva de recuo' nos atrasos no pagamento de dí...

Veja mais
A indústria que vai crescer

Os índices negativos do início do ano escondem um processo de retomada da produção, que deve...

Veja mais
Importação ganha peso na arrecadação de ICMS em SP

A parcela do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre importados avanç...

Veja mais