No varejo e no atacado, inflação tem comportamento favorável no 1º tri

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O comportamento da inflação no primeiro trimestre foi muito favorável, sobrando boas notícias no atacado e no varejo. Preços administrados, alimentos e serviços perderam fôlego, enquanto os bens duráveis seguiram em deflação. Embora ainda pareça improvável a convergência do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para o centro da meta, de 4,5%, cresceram as chances de um indicador abaixo de 5% em 2012.

Para abril, porém, a situação deve ser menos benigna. O IPCA tende a se acelerar, na esteira de fatores como o reajuste do cigarro e da alta de algumas tarifas de água e esgoto , ao mesmo tempo em que se espera alguma aceleração no atacado, com avanço do minério de ferro e um quadro menos positivo para as commodities.

Já no primeiro trimestre, o resultado foi dos mais tranquilos. O economista Fabio Romão, da LCA Consultores, aponta como um fator importante "o vento desinflacionário" que veio de fora do país, com o comportamento favorável das commodities. Isso ajudou nas cotações dos preços agropecuários no atacado e de alimentos no varejo. No IPCA, o grupo de alimentação e bebidas teve alta de 1,3% no primeiro trimestre, bem abaixo dos 2,2% de igual período de 2011.

Romão também destaca o aumento mais modesto dos preços administrados (como tarifas públicas). Um exemplo são as passagens de ônibus urbano, que tiveram altas expressivas em 2011, e estão bem mais comportadas neste ano. Em São Paulo, as tarifas não devem subir em 2012, ano de eleições municipais. De janeiro a março deste ano, os preços administrados no IPCA avançaram 0,9%, muito abaixo dos 2,2% do mesmo intervalo de 2011.

O álcool, que tanto pressionou a inflação no ano passado, mostrou um resultado muito mais benigno neste ano, como ressalta o coordenador de análises econômicas da Fundação Getulio Vargas (FGV), Salomão Quadros. No primeiro trimestre de 2012, as cotações do produto caíram 2,3% no IPCA -, nos primeiros três meses do ano passado haviam subido 17,9%.

Uma das notícias mais positivas é que até mesmo os preços de serviços (como aluguel, mensalidades escolares e empregado doméstico) tiveram desaceleração, lembra Romão. Na nova classificação do Banco Central, que passou incluir nesse grupo a alimentação fora do domicílio e as passagens aéreas, os serviços avançaram 2,8% no primeiro trimestre. Segundo cálculos da LCA, a alta nos primeiros três meses de 2011 teria sido de 3,5%, caso o reagrupamento do BC já fosse adotado no ano passado.

Para o economista-chefe do J.P. Morgan, Fabio Akira, o fato de a economia avançar a um ritmo fraco por três trimestres (o terceiro e o quarto de 2011 e o primeiro deste ano) pode ser uma das explicações para a alta um pouco mais fraca dos serviços neste ano. Ele pondera, contudo, que esse grupo segue avançando em ritmo superior ao dos outros preços - no primeiro trimestre, o IPCA teve variação de 1,22%.

Romão observa ainda que o IGP-M, indexador ainda relevante para a economia, perdeu muita força. "O indicador terminou 2010 em 11,3%, em 2011 subiu 5,1% e, nos 12 meses até março, a variação ficou em 3,2%." Isso ajuda a segurar alguns serviços, como os aluguéis, corrigidos em geral pelo IGP-M, e também alguns preços administrados. Para colaborar ainda mais, os preços de bens duráveis (como automóveis e eletroeletrônicos), expostos à concorrência dos produtos importados, caíram 0,8% no IPCA no primeiro trimestre.

Com tudo isso, os núcleos de inflação também têm se desacelerado. O núcleo do IPCA por dupla ponderação, que diminui o peso dos itens mais voláteis, ainda está em alta de 6% nos 12 meses até março, mas tinha batido em 7,35% até setembro, na mesma base de comparação. Para Romão, o IPCA deve ficar em 4,8% neste ano, enquanto Quadros acha mais provável um número na casa de 5%. Akira tem projeção oficial de 5,1%, mas deve revisá-la para baixo.

No IGP-DI de março, surgiram alguns sinais de uma inflação mais pressionada. A forte alta dos preços de soja, causada por problemas climáticos ocorridos no Sul do Brasil, foi o principal motivo que explicou a aceleração do IGP-DI de fevereiro para março, de 0,07% para 0,56%, segundo Quadros. A soja subiu 10,9% no mês passado. Com isso, os preços no atacado, com peso de 60% no IGP-DI, avançaram 0,55% em março - em fevereiro, haviam recuado 0,03%. No ano, o aumento é modesto, de 0,53%.

Os preços ao consumidor no IGP-DI, por sua vez, também se aceleraram, fechando março em 0,6%. Uma das fontes de pressão veio do grupo vestuário, que subiu 0,61% no mês, bem acima do 0,02% do mês anterior. No IPCA, as cotações do vestuário caíram 0,61% em março, surpreendendo os analistas, por contrariar a sazonalidade.

Os preços do algodão no atacado caíram 38% nos 12 meses até março, o que poderia ajudar a puxar as cotações de vestuário para baixo. A questão é que isso não apareceu no indicador da FGV. Para Quadros, é possível que diferenças de métodos e locais de coleta expliquem a divergência entre a variação dos preços do grupo no IPCA, do IBGE, e o IPC, da FGV. Com o tempo, os dois tenderiam a convergir. No primeiro trimestre, o IGP-DI subiu 0,93%. Nos 12 meses até março, o avanço foi de 3,32%.


Veículo: Valor Econômico


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