Desaquecimento global afeta balança e exportações recuam 8% em abril

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O desaquecimento na economia global ampliou, em abril, os danos ao desempenho exportador brasileiro: com queda de quase 8% nas vendas ao exterior, no mês passado, o Brasil acumula um aumento de apenas 2% no primeiro quadrimestre de 2012 na média diária de exportações em comparação ao mesmo periodo de 2011, em valor. Com os dois dias úteis a mais do primeiro quadrimestre em 2012, as exportações totais do período ficaram 4,5% acima do valor entre janeiro e abril do ano passado.

Os produtos manufaturados tiveram queda de 4% na média diária das exportações, em abril, comparado ao mesmo mês de 2011, mas evitaram uma redução ainda maior no resultado do comércio exterior no mês passado, devido, principalmente, ao bom desempenho de mercadorias como aviões (alta de 92,5% em relação a abril do mês do ano passado), óleos combustíveis (mais 68%) e motores e geradores elétricos (mais 35%).

"Disse e continuo dizendo que esse semestre será o pior para a indústria brasileira em relação ao comércio internacional", comentou o secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Alessandro Teixeira. "Estou otimista, porque vamos atingir nossa meta de crescer as exportações em 3,1%, mas não digo que não será difícil." O cenário do governo prevê lenta recuperação na economia dos Estados Unidos e estabilização da situação europeia. Uma piora na Europa pode levar à revisão dos números, admitiu Teixeira.

Em abril, a média diária das exportações caiu 7,9% em relação ao mesmo mês de 2011, enquanto a das importações recuou 3,1%. Como neste ano abril teve um dia útil a mais que em 2011, o valor acumulado de exportações chegou a um recorde para o mês - US$ 19,6 bilhões. O saldo do comércio exterior no mês, descontadas as importações, foi de US$ 881 milhões, menos da metade do registrado em abril do ano passado.

A retração também nas importações brasileiras, de 3,1%, impediu, em abril, um resultado pior. Enquanto a importação de bens de capital, máquinas e equipamentos para a indústria registrou queda de apenas 0,6%, a compra de matérias primas e intermediários caiu 6,6%, e a de bens de consumo, puxadas pela queda no comércio de automóveis, 11,1%. Apenas a importação de combustíveis cresceu, com alta de 10,7%.

O governo considera prematuro atribuir a queda nas vendas de automóveis, de 22,6%, às medidas como o aumento do IPI para importados. Embora tenha havido forte queda na entrada de carros chineses e coreanos, caiu também a importação de carros dos EUA e da Europa, em função do acúmulo de estoques domésticos. A desaceleração na importação atingiu quase todos os bens de consumo, com recuo de 14% em máquinas de uso doméstico e de 8,5% em móveis, sempre em relação a abril de 2011, em valor pela média diária.

Teixeira e a secretária de Comércio Exterior, Tatiana Prazeres, argumentaram que o desempenho do comércio exterior brasileiro está semelhante ao de outros países emergentes, como Coreia do Sul, Chile, China, Argentina e África do Sul, que também mostraram tendência decrescente nas exportações nos três primeiros meses do ano.

"Há, claramente, em diferentes regiões do mundo, um movimento de queda das exportações, e o comércio exterior tem se comportado como havíamos previsto", comentou Tatiana Prazeres. "O cenário internacional é conturbado, temos sentido recuperação na economia americana, mas ainda não temos clareza", acrescentou Teixeira, mencionado as eleições nos EUA e Europa, e as incertezas na economia mundial.

Os Estados Unidos aumentaram a fatia comprada de produtos brasileiros, de 9,3% em abril de 2011 para 10,7% em abril deste ano. Foi o único grande mercado a crescer (em 5,5%) suas compras quando comparadas as médias de abril de 2011 e 2012. "Se for maior a recuperação da economia dos EUA, maior será a recuperação das exportações brasileiras", disse Teixeira, lembrando que o mercado americano absorve em grande quantidade tanto commodities, como petróleo e suco de laranja, como industrializados de maior valor agregado.

As vendas brasileiras à União Europeia caíram 8,5%, enquanto para a China a retração foi de 2,9% (embora tenham crescido 4,5% para a Ásia e para o Mercosul, de 24% (27% para a Argentina), sempre na comparação dos meses de abril. A maior queda foi para a Europa Ocidental (43%), principalmente com a redução em vendas de carnes, açúcar, aviões e café solúvel.

O secretário executivo comentou que as previsões oficiais para o comércio exterior, só liberadas em março, após maior clareza sobre a situação internacional, já levam em conta a antecipação de embarques de soja, graças aos estoques acumulados no ano passado e o bom momento de preços com a quebra de safra em produtores importantes como o próprio Brasil. Em abril, o país exportou 17% a menos em quantidade de grãos, mas o aumento do preço em 7,5% amorteceu a queda das exportações, que ficou em 11%.

No quadrimestre, o saldo comercial foi de US$ 3,3 bilhões, dois terços do registrado em 2011.



Veículo: Valor Econômico


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