Recuo da inflação ajuda BC a testar novo piso para juros

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Preços estão subindo menos do que haviam previsto analistas do mercado e governo no fim do ano passado



Inflação oficial deve chegar a 5% em abril, ajudada por preços mais baixos de alimentos e automóveis

O recuo recente da inflação é o principal trunfo do Banco Central (BC) para prosseguir com os cortes na taxa básica de juros para abaixo dos atuais 9% ao ano.

Desde janeiro, a inflação cedeu mais do que haviam previsto tanto analistas de mercado quanto o próprio BC no fim do ano passado.

Acumulada em 12 meses, a inflação oficial-medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo, do IBGE)-recuou de 6,5% em dezembro para 5,2% em março e deve seguir em queda em abril, prevê o economista-chefe do banco Credit Suisse, Nilson Teixeira.

O patamar ainda é superior à meta do governo para este ano (4,5%) mas, diz Teixeira, está em desaceleração.

"No fim do ano, a maioria dos analistas, inclusive nós, estimava que a inflação em abril estaria mais alta do que vemos hoje. Isso não se confirmou e a dinâmica para os próximos meses é favorável, o que foi uma grande surpresa", afirma Teixeira.

Relatório elaborado pelo economista, obtido pela Folha, mostra que, retirando os serviços, a inflação já está bem abaixo da meta-3,5% em março. Graças a deflações de automóveis e eletrodomésticos com IPI reduzido.

Também contribuíram menores aumentos nos alimentos e nas tarifas públicas, como ônibus, em baixa no embalo das eleições municipais.

Mas, pondera Teixeira, mesmo os serviços-como passagens aéreas, empregados domésticos e aluguel, por exemplo-também perderam fôlego. Uma das razões é que a inflação mais branda desestimula repasses mais altos. Esse comportamento inesperado ajuda o BC a testar um novo piso para a taxa básica.

O economista integra um grupo pequeno de analistas que estima que o BC pode ser ainda mais ousado no corte de juros. Na sua avaliação, a taxa pode chegar a inéditos 8,25% ao ano em julho.

"Uma inflação relativamente bem comportada e um crescimento econômico menor são compatíveis com um ciclo mais longo de corte de juros", diz o economista.

Para Teixeira, a inflação deverá fechar o ano por volta de 5% "com risco de ser mais baixa", e seguirá script semelhante no ano que vem.

A projeção mais otimista para os preços embute, contudo, a previsão de que a economia crescerá pouco neste ano, cerca de 2,5%.

A maioria dos analistas prevê uma expansão de 3,2% e o objetivo do governo é alcançar, ainda neste ano, um crescimento de 4,5%.

"Os impulsos colocados hoje são menores do que os usados nas acelerações recentes, como em 2009", diz.

Um risco de a inflação ficar mais alta é o dólar estacionar num patamar mais elevado, como parece buscar o BC.

"Mesmo assim, veremos se o impacto do câmbio nos preços será o mesmo dos padrões dos modelos do passado".



Veículo: Folha de S.Paulo


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