Inflação confunde e analistas sobem e reduzem previsão de IPCA

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A surpresa com alguns dados antecedentes da inflação de abril provocou uma onda de revisões em estimativas para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do mês. De dez instituições consultadas pelo Valor, cinco elevaram suas projeções, três as mantiveram e duas fizeram cortes após a divulgação do IPCA-15, que subiu 0,43%, pouco acima do previsto pelo mercado. No grupo que aumentou as previsões, pesaram na decisão itens que, pela metodologia do indicador oficial de inflação, têm as variações apuradas no IPCA-15 repetidas no IPCA. Esses preços são, na maioria, serviços.

A coleta da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) feita junto a 23 analistas de mercado aponta que a mediana de apostas para o IPCA subiu de 0,55% em 5 de abril para 0,60% no dia 24.

Mesmo para os economistas mais otimistas, é consenso que a alta no fim do mês será superior a 0,43%. O avanço deve ser puxado principalmente pelo reajuste do cigarro feito em 6 de abril- que, de acordo com o IBGE, foi de 25%, em média -, mas também pelo aumento de medicamentos e pressões em vestuário, após o fim das liquidações e entrada da coleção de inverno, e em alimentos, cuja alta no atacado começou a chegar ao varejo. Para o ano, as estimativas foram mantidas entre 5% e 5,5%.

Pedro Rotta, da Quest Investimentos, elevou de 0,55% para 0,62% sua previsão para o IPCA de abril porque o índice irá incorporar as mesmas taxas de serviços que o surpreenderam no meio do mês, tais como empregado doméstico, que subiu de 1,38% para 1,87% no IPCA-15, além de mão de obra para pequenos reparos (1% para 1,3%), aluguel (0,45% para 0,82%) e condomínio (0,48% para 1%). "São basicamente itens com alto índice de indexação", observa.

Assim como Rotta, o economista Thiago Carlos, da Link Investimentos, aponta que a surpresa com o IPCA-15 ficou concentrada em serviços e, por isso, revisou de 0,51 pra 0,56% sua estimativa para a aceleração do IPCA em abril. Também estão na conta dos dois analistas uma alta moderada no grupo alimentação e bebidas, após aumento dos insumos e também de alimentos processados nos Índices Gerais de Preços (IGPs).

O comportamento do grupo vestuário, diz o economista-chefe do banco ABC Brasil, Luis Otávio Leal, foi determinante para a revisão de sua projeção para o IPCA do fim do mês, de 0,53% para 0,57%. Após a surpreendente deflação de 0,61% no fim de março, os preços no grupo corrigiram boa parte da retração no IPCA-15 de abril, com alta de 0,49%. No IPCA fechado, Leal espera elevação de 0,9% para vestuário, mas não descarta que os preços subam mais de 1%.

Em relatório, o economista Elson Teles, do Itaú Unibanco, afirma que o resultado do grupo vestuário pode colocar viés de alta em sua projeção já revisada para o IPCA, "caso ocorra uma maior compensação do baixo resultado verificado no mês de março". Ele informa que alterou de 0,58% para 0,65% sua estimativa para o IPCA de abril, acrescentando o impacto de 0,03 ponto percentual de passagem aérea e de 0,04 ponto percentual de empregado doméstico à sua estimativa, ambos itens repetidos no IPCA-15 e no indicador fechado.

Na outra ponta, o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, assim como Thiago Curado, da Tendências Consultoria, reduziram suas projeções para o IPCA. Curado, que cortou sua estimativa de 0,63% para 0,55%, trabalha com ligeira desaceleração nos preços de alimentação no domicílio, na esteira de preços menores nos alimentos in natura.

O analista também vê perda de fôlego dos combustíveis, com estabilidade no preço da gasolina e espaço para alta menor no etanol. "Os preços nas usinas estão mais baixos porque a expectativa de oferta tem conseguido superar a demanda", explica Curado. No IPCA-15, a gasolina subiu 0,01%, e o álcool combustível, 2,2%.

Mais cauteloso, Vale diminuiu sua projeção para o IPCA de abril de 0,64% para 0,60%, revisão que, em sua avaliação, não é relevante. "A alta em alimentação deve ser um pouco menor". Ele pondera, contudo, que a maioria dos grupos deve mostrar aceleração entre o IPCA-15 e o fechamento do mês, com destaque para despesas pessoais, onde está o cigarro.


Veículo: Valor Econômico


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