Efeitos do câmbio já começam a ser sentidos na inflação

Leia em 2min 30s

A expressiva ascensão do dólar em pouco mais de dois meses ao passar de R$ 1,70 (fechamento de fevereiro) para R$ 1,95 (ontem), encostando em R$ 1,97 na máxima da última quarta-feira, tem se refletido em pressão inflacionária no primeiro estágio da cadeia de produção, observado no salto dos preços ao produtor em razão principalmente da alta da soja e seus derivados no ramo industrial, como o óleo e o farelo.

A principal commodity agrícola da pauta de exportação brasileira já se encontrava em aceleração no mercado internacional desde a segunda quinzena de dezembro, chegando a ultrapassar o pico do ano passado e, com o processo de elevação da taxa de câmbio, amplificou-se o impacto sobre esses custos no mercado doméstico. Além disso, também já se observam os efeitos sobre alguns produtos industriais sensíveis ao câmbio, como o minério de ferro.

De fato, a depreciação do real tem ligação com os próprios movimentos do Banco Central, que entrou 16 vezes no mercado comprando dólar em abril, muitas vezes quando a cotação já estava em alta, o que sinaliza a intenção de aumentar o patamar de oscilação da moeda americana.

Ao consumidor, esses impactos ainda não são visíveis, dado que há uma defasagem temporal e uma certa diluição ao longo da cadeia. No entanto, os riscos seguem em expansão.

Após a surpresa de caráter bastante pontual com o 0,21% em março, o IPCA mostrou expressiva aceleração em abril, para 0,64%, ficando um pouco acima das expectativas. Na verdade, uma aceleração já era esperada por causa dos reajustes anunciados em cigarros e remédios e uma retomada nos preços de vestuário, após a atípica deflação no mês anterior. Vale destacar que, juntando-se a categoria de medicamentos (impacto de 0,05 ponto porcentual no índice cheio) e fumo (0,12 pp), tem-se 0,17 pp, o que representa 27% da alta do IPCA em abril.

Mesmo com esse resultado quase três vezes acima da taxa de março, o acumulado em 12 meses voltou a recuar devido à saída da base de cálculo da alta de 0,77% em abril de 2011, puxada pela forte alta de combustíveis naquela época. Pelas atuais circunstâncias, o acumulado em 12 meses tem reais possibilidades de voltar a acelerar em maio e, para isso ocorrer, basta que o IPCA deste mês seja maior que 0,47%.

No entanto, neste mês de maio temos importantes fatores de descompressão, como a saída dos impactos dos reajustes que ocorreram em abril, reduzindo riscos e oferecendo um ambiente favorável para o Banco Central seguir reduzindo os juros, agora sem o piso de curto prazo da remuneração da caderneta de poupança.

Convergir para o centro da meta torna-se cada vez mais complicado devido principalmente a fatores de risco da própria conjuntura doméstica, como aumentos salariais acima dos ganhos de produtividade, mercado de trabalho apertado, efeito câmbio oferecendo riscos de pressão inflacionária à cadeia ao varejo e, além disso, tem-se os efeitos do afrouxamento monetário iniciado em agosto do ano passado, podendo gerar mais um vetor de sustentação da inflação.




Veículo: O Estado de S. Paulo


Veja também

Seca no Nordeste causa prejuízos de R$ 550 milhões

A seca que atinge o semiárido nordestino deve dizimar a produção local de milho e feijão, pr...

Veja mais
IGP-M sobe 0,89% na primeira prévia

Índice de Preços ao Produtor Amplo teve alta de 1,15%, após variar 0,47% na mesma pesquisa de abril...

Veja mais
Pesquisa confirma alto custo do Brasil

País é o último do ranking.Pesquisa feita pela KPMG Internacional - Competitive Alternatives coloca...

Veja mais
Massa salarial sobe 19% na construção no 1º tri

No primeiro trimestre, a massa salarial nas seis principais regiões metropolitanas cresceu 6,2% acima da infla&cc...

Veja mais
Exportação brasileira do grão e seus derivados perde fôlego

Sob a influência das turbulências europeias e de uma queda quase generalizada de preços, as exporta&c...

Veja mais
Vendas da indústria de SC sobem 13%

As vendas reais da indústria catarinense registraram crescimento de 13% no primeiro trimestre de 2012 em rela&cce...

Veja mais
Exportações mineiras registram forte queda

Embarques de soja despencaram.As exportações mineiras do agronegócio apresentaram recuo de 21,47% e...

Veja mais
Agricultura de precisão em alta no país

A valorização das principais commodities agrícolas na última década e a necessidade d...

Veja mais
Produtividade brasileira cresce acima da mundial

Ampliação do crédito rural, e incentivo à exportação e à pesquisa s&ati...

Veja mais