Cartão é o campeão da inadimplência

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Atrasos acima de 15 dias no pagamento da fatura do cartão de crédito somaram 42% em maio, mas não entram nos dados de inadimplência.


Números do Banco Central (BC) revelam que o cartão de crédito das pessoas físicas é campeão de inadimplência, ou seja, é a linha de crédito que possui o maior percentual de atrasos acima de 90 dias, critério utilizado pela autoridade monetária para calcular as operações inadimplentes. Em maio, a taxa de inadimplência nas operações com cartões de crédito somou 29,5%, a maior de todas as linhas de crédito calculadas pela instituição.
 
Em segundo lugar, aparece as operações com "export notes", linhas buscadas por empresas, com 20%, seguida por linhas de refinanciamento de saldo devedor de cheque especial e cartão de crédito – com 19,5% de inadimplência.
 
Ao todo, o BC levantou 20 linhas de financiamento, sendo 13 para empresas e 7 para pessoas físicas.
 
Calote – A taxa média de inadimplência, de todas as modalidades de crédito, totalizou 6% em maio deste ano, segundo o BC, e, no caso das operações com pessoas físicas, somou 8% no mês retrasado. Os dados mostram que a inadimplência com cartão de crédito é quase cinco vezes maior do que a média geral e 3,6 vezes superior à média de todas as operações bancárias com pessoas físicas.
 
Além do cartão de crédito, os calotes também cresceram na categoria financiamento de veículos (de 5,9% para 6,1%), cheque especial (de 10,1% para 11,3%), crédito pessoal (de 5,6% para 5,7%) e aquisição de bens (de 13,5% para 13,9%).
 
Acima de 15 dias  – Dados da autoridade monetária revelam ainda que as operações com cartão de crédito com atrasos acima de 15 dias, ou seja, sobre os quais já incidem os juros do crédito rotativo, somaram 42% de todas as operações desta modalidade em abril deste ano.
 
Embora os juros bancários já incidam nos atrasos acima de 15 dias no cartão de crédito, o BC não considera estas operações propriamente como "inadimplentes" e, por isso, não pede provisionamento para os bancos (manutenção de recursos em caixa para fazer frente a um eventual calote). A inadimplência vale somente para atrasos acima de três meses, lembra a autoridade monetária.
 
Segundo a série histórica do BC, os atrasos acima de 15 dias, que somaram 42% em maio deste ano, cresceram bastante nos últimos dez anos. Em abril de 2002, por exemplo, estavam em 27%. Com isso, o crescimento foi de 55% neste período.
 
Juro mais caro  – A autoridade monetária, apesar de realizar pesquisa mensalmente sobre várias modalidades de crédito, não faz levantamento sobre os juros do cartão.
 
Estudo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) mostra, porém, que a taxa de juros cobrada pelos bancos nas operações com cartões de crédito é a mais alta do País. Além de ser a mais alta de todas modalidades de crédito,  o patamar registrado em maio deste ano, de 238,3% ao ano, também é o maior desde junho de 2000 (238,67% ao ano), ou seja, em mais de dez anos.
 
Segundo a Anefac, os juros do cartão de crédito, que começam a incidir quando os clientes não pagam toda a fatura do mês, é mais do que o dobro da média das operações de crédito para pessoas físicas, de 105,3% ao ano em maio deste ano.
Superam até mesmo as taxas cobradas pelos bancos no cheque especial, que também são extremamente elevadas (158,6% ao ano em maio).
 
Proteste – Para a coordenadora institucional da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Proteste), Maria Inês Dolci, os juros cobrados nas linhas de crédito rotativo do cartão de crédito são "escorchantes". "O consumidor inadimplente não consegue mais pagar. Não consegue porque, além dos juros, há outras taxas que são cobradas, o que aumenta consideravelmente o débito", explicou ela.
 
A advogada recomenda que os consumidores não utilizem essa linha de crédito, ou seja, que paguem integralmente a fatura do cartão todos os meses, evitando entrar no  rotativo. "Se ele está preciando de empréstimos, há outros meios mais baratos. Se ele não conseguir pagar a totalidade do cartão, de repente vale a pena fazer um empréstimo para pagar do que ficar com estes juros altíssimos", declarou.
 
Para quem está em uma "situação crítica" no cartão de crédito, com débitos altos, Dolci aconselha uma renegociação com os bancos, que pode, inclusive, ser intermediada pela Proteste.
 
"Recomendamos que, tão logo se perceba que não pode pagar, o consumidor peça logo uma renegociação", concluiu ela.
 

Veículo: Diário do Comércio - SP




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