Pauta econômica do Mercosul está esvaziada

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A presidente Dilma Rousseff deverá assumir nesta sexta-feira o comando pro-tempore do Mercosul, após a cúpula dos presidentes em Mendoza, na Argentina, em um momento de retração no comércio bilateral com Buenos Aires (por barreiras mútuas) e pela dúvida sobre o destino do Paraguai.

Até mesmo o início de uma negociação para um acordo estratégico com a China, assunto de uma teleconferência dos presidentes do bloco e do primeiro-ministro chinês Wen Jiabao anteontem, pouco deverá caminhar. Da mesma forma, deverá ficar pendente o pleito argentino para que a lista de produtos fora da Tarifa Externa Comum (TEC) seja ampliada para 400 itens.

Os técnicos dos governos do Brasil, Argentina e Uruguai ainda estão negociando quais serão os itens que devem constar na lista de exclusão de cem produtos, aprovada na reunião do Mercosul de Montevidéu, em dezembro, e até hoje não implementada. A estratégia protecionista contra mercados externos está travada desde fevereiro, quando a Argentina passou a exigir uma declaração por parte dos importadores, o que, na prática, foi equivalente a estender para toda sua pauta o regime de licenças não automáticas.

Desde então, as importações argentinas caem mês a mês. Nos últimos dois meses, as exportações para o Brasil também começaram a retroceder, em função da falta de componentes importados na elaboração de produtos industriais, do desaquecimento da economia e da imposição de retaliações por parte do Brasil. No acumulado dos cinco primeiros meses deste ano, as exportações brasileiras para a Argentina recuaram 11% e as importações, 2,9%, em relação ao mesmo período do ano passado. As barreiras argentinas atingiram as vendas brasileiras de forma generalizada. As barreiras brasileiras se concentraram em peras, maçãs, batatas processadas, azeite de oliva, azeitona, vinho, farinha de trigo, uva, frutas secas e queijos.

Segundo levantamento feito pela empresa de consultoria Abeceb, especializada em comércio exterior, as quedas das compras argentinas do Brasil são percentualmente mais expressivas do que as registradas no comércio bilateral com a China, em razão da diferença entre as pautas. Como a China é grande importador de soja e derivados, o déficit com a Argentina, até 2010, era menor que o brasileiro, da ordem de US$ 4 bilhões por ano, ante US$ 5,8 bilhões do brasileiro.

As exportações brasileiras para a Argentina caíram 16% em março, 10% em abril e 14% em maio. Já as da China tiveram contração violenta em abril, quando caíram 34%. Em maio, a queda foi de apenas 6%. Em março, de 1%.

"O nível de conflito entre Brasil e Argentina tende a ser crescente, mesmo quando a Argentina não adota medidas de controle cambial, em razão das diferenças de estratégias entre os dois países. Para a Argentina, o Mercosul ainda é um mecanismo de inserção comercial e o objetivo sempre é equiparar a balança", comentou Dante Sica, diretor da Abeceb.


Veículo: Valor Econômico


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