Pagamento com cartão de crédito "blinda" as vendas do comércio

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Lojistas não arcam diretamente com o calote no cartão


A disseminação do uso do cartão de crédito alterou o alvo da inadimplência. Agora, os estabelecimentos comerciais não arcam mais com os prejuízos gerados pelo calote, mas as instituições financeiras, responsáveis pela administração das bandeiras. Conforme especialistas, a conseqüência direta é a manutenção dos altos juros que se aplicam sobre o "dinheiro de plástico". Segundo a Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), as taxas se mantêm em 10,69% há quase dois anos, a maior dentre as linhas de crédito para pessoa física.


Contudo, eles alertam que, no longo prazo, a fim de evitar perdas mais significativas, os limites de financiamento devem ser reduzidos e as taxas cobradas dos lojistas, que hoje variam entre 2,5% e 5%, podem até ser reajustadas.


O professor e coordenador de cursos da Fundação Instituto de Administração (FIA) Marcos Piellusch explica que a estratégia adotada para frear a inadimplência no financiamento de veículos pode ser aplicada aos cartões. Desde o início do ano, concessionárias reclamam que, como forma de restringir o crédito, os pré-requisitos estão maiores e que as instituições exigem maior valor da entrada e reduziram o prazo dos contratos. Para ele, os juros, em patamar já exorbitante, não devem subir, pois isso dificultaria ainda mais a quitação do débito.


Piellusch não rejeita a ideia de que, caso a curva da inadimplência continue em ascensão, instituições possam ir à falência. " ingênuo afirmar que a possibilidade não existe. Mas, é mais ingênuo ainda acreditar que bancos e financeiras vão simplesmente esperar que isso aconteça. Eles estão atentos a tudo e traçam estratégias com base no comportamento do mercado", avalia. Ele acrescenta que o fim das operações não é, normalmente, resultado de concessões excessivas de crédito, mas sim de fraudes e outras ações ilícitas.


O presidente do conselho do Programa de Administração do Varejo (Provar/Ibevar), Cláudio Felisoni de Angelo, compartilha a opinião de Piellusch. Mas, em um primeiro momento, ele se preocupa com a dificuldade para se reduzir as taxas do cartão de crédito. "O governo federal se esforça para ampliar o crédito e baixar as taxas, mas a inadimplência em alta impede que as medidas, na prática, atinjam a linha mais utilizada pelo consumidor", analisa.



Desempenho - Ele ainda aponta que o desempenho do varejo, que começa a emitir sinais de desaquecimento, aliado à atual conjuntura econômica, com previsões mais modestas de crescimento, inibe a alta dos juros. A variação negativa das vendas também contribui para que as taxas cobradas pelo aluguel das máquinas, de responsabilidade do lojista, não sofra reajustes. "No momento, o varejo está sensível a qualquer maturação de custos", afirma.


Já, o economista da Federação do Comércio do Estado de Minas Gerais (Fecomércio Minas) Gabriel de Andrade Ivo acredita que os juros no cartão de crédito podem ser elevados, caso a inadimplência não seja contida. Para ele, os patamares elevados do índice podem ser justificados com base em indicadores sazonais. Mas, a tendência é que a inadimplênica diminua no segundo semestre, o que deve evitar qualquer posicionamento mais radical por parte dos bancos e financeiras.


"A inadimplência está em alta, porque o consumo também cresceu", afirma. Sobre uma possível "quebra" de instituições financeiras, Ivo ressalta que a possibilidade ainda não merece muita atenção, uma vez que, para ele, o sistema financeiro do país é um dos mais robustos e bem regulados do mundo.


O diretor de relações institucionais da Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop), Luís Augusto Ildefonso Silva, informa que o aumento do calote diminuiu o uso dos cartões de loja e favoreceu os de crédito. Estudo da entidade mostra que, enquanto o uso dos cartões de loja caiu de 17%, em 2009, para 7%, em 2012, o cartão de crédito aumentou de 19%, em 2009, para 31% em 2012. "A loja não suporta o risco que o banco suporta", declara. Embora os cartões representem um alívio para os lojistas, não há dúvidas de que os juros ajudam a alimentar a inadimplência.



Veículo: Diário do Comércio - MG

 


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