PIB do 2º trimestre poderia ser maior se a demanda externa tivesse ajudado

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A economia brasileira deve apresentar no segundo trimestre crescimento superior ao visto no trimestre anterior, estimam economistas. A média das projeções de 11 instituições coletadas pelo Valor Data aponta expansão de 0,46% no Produto Interno Bruto (PIB) entre o primeiro e o segundo trimestres, feitos os ajustes sazonais, pouco acima da alta de 0,2% no trimestre anterior. As previsões variam de avanço de 0,3% a 0,8%. A divulgação do resultado pelo IBGE está prevista para esta sexta-feira.

Esse número, no entanto, poderia ser um pouco maior não fosse a perda provocada pelo setor externo. Na conta dos economistas, a demanda interna já deve dar resposta mais forte aos estímulos do governo. De acordo com a média das projeções coletadas pelo Valor Data para esse indicador com dez instituições, o investimento deve deixar três trimestres consecutivos de queda e subir 0,4% no segundo trimestre, em relação ao primeiro, feitos os ajustes sazonais. O consumo das famílias deve ter crescimento ainda mais robusto - as projeções variam entre alta de 0,7% e crescimento de 1,2%.

Somados, os dois indicadores apontam para um crescimento da demanda interna superior ao da média da economia, que foi puxada para baixo pela entrada das importações e menor dinamismo das exportações.

De acordo com os cálculos da BB-DTVM, entre abril e junho a economia brasileira deve ter crescido 0,3% em relação ao primeiro trimestre, feitos os ajustes sazonais, alta apenas ligeiramente superior à expansão de 0,2% do PIB observada no trimestre anterior. A aceleração da demanda doméstica, no entanto, será mais forte: de aumento de 0,6% entre janeiro e março para crescimento de 1,1% no segundo trimestre. "O PIB só não responderá com mais força a esse número porque parte desse crescimento foi atendido por importações", explica Marcelo Arnosti, economista-chefe da gestora de recursos.

Para o Itaú Unibanco, estímulos concedidos pelo governo tiveram papel decisivo na sustentação do consumo - que continuou sendo o principal motor do PIB - no segundo trimestre. Pelos cálculos do banco, apenas a redução do IPI para automóveis deve responder por 0,3 ponto percentual do crescimento do PIB entre o primeiro e o segundo trimestre. Nesse período, a instituição acredita que a economia brasileira tenha se expandido 0,5%, feitos os ajustes sazonais.

Para o investimento, o cenário é de retomada, ainda que moderada, em relação ao tombo de 1,8% observado no primeiro trimestre. Robson Pereira, economista do Bradesco, avalia que, se confirmada, a alta esperada de 0,4% para a formação bruta de capital fixo será importante por reverter o processo de queda na contração dos investimentos, que já dura três trimestres, "abrindo espaço para números melhores nos próximos meses".

Arnosti, da BB-DTVM, avalia que apesar das altas esperadas para o consumo e o investimento, o resultado do segundo trimestre ainda será fraco por causa do setor externo, que deve dar contribuição negativa para o crescimento do país entre abril e junho, não só pelo aumento de 2,2% das importações, mas também por causa da queda de 3,5% das exportações no período.

Pereira, do Bradesco, estima que o setor externo "tirou" do PIB brasileiro no segundo trimestre 0,5 ponto percentual. As exportações, afirma, foram abaladas por medidas protecionistas de parceiros como a Argentina e pela fraqueza econômica no ambiente internacional. O economista Leandro Padulla, da MCM Consultores, ainda acrescenta que a greve nos portos também deve ter prejudicado a balança comercial brasileira.

Pelo lado da oferta, o destaque negativo deve ficar com a indústria, para a qual se espera retração de 2,3% no período, segundo o Itaú. "Esse resultado será uma correção, após alta de 1,7% no primeiro trimestre. O comportamento da indústria no PIB ficará mais coerente com a produção industrial", diz o economista Aurélio Bicalho, do Itaú.

Para Arnosti, a produção industrial deve recuar também em função de um processo de ajuste de estoques que segue em curso, apesar dos estímulos já concedidos ao setor e do patamar de câmbio mais favorável observado no período. Padulla, da MCM, faz avaliação semelhante. "As medidas do governo, como o corte do IPI e a redução dos juros, tiveram um efeito limitado na economia devido aos estoques ainda altos. Com o ajuste, a produção será retomada e o consumo deve crescer mais rápido nos próximos meses", diz.

Fernanda Consorte, economista do Santander, também espera reação significativa da atividade no segundo semestre, apoiada na demanda. Para ela, bancos menos receosos em função da queda da taxa de inadimplência devem contribuir para que o crédito volte a ter papel importante na sustentação do consumo.

O crédito, avalia Arnosti, da BB-DTVM, deve dar suporte adicional a um cenário de demanda sustentada pela massa salarial e pelo efeito defasado e cumulativo de ciclo de afrouxamento monetário de 4,5 pontos percentuais desde agosto do ano passado. Esses elementos, diz Arnosti, tornam possível que o país cresça 4% no fim do ano em relação a igual período de 2011, como sustenta com alguma ênfase o BC.



Veículo: Valor Econômico


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