Salário 'extra' de fim de ano pede alerta ao público

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Reduções dos juros e das taxas bancárias em 2012 fizeram muita gente sair comprando a prazo e no cartão de crédito durante o ano, endividando muita gente



As reduções dos juros e das taxas bancárias em 2012 fizeram muita gente sair comprando a prazo e no cartão de crédito durante o ano, endividando muita gente. Até outubro, 59,2% das famílias brasileiras estavam endividadas, sendo que 20,5% já estavam com dívidas ou contas em atraso — a chamada inadimplência. Maio foi o mês de pico dos endividamentos, quando quase um quarto das famílias (23,6%) estava com os pagamentos de dívidas e contas atrasados, segundo dados da Serasa Experian. Com tanto aperto, a expectativa é que 61% dos brasileiros usarão o décimo terceiro para quitar ao menos parte das pendências, de acordo com levantamento da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).

A decisão, porém, pode não ser a melhor no momento. Para o educador financeiro Reinaldo Domingos, antes de gastar o benefício para aliviar as contas, o melhor para quem está inadimplente é fazer uma “faxina financeira” e diagnosticar o motivo pelo qual se está endividado. O diretor de Educação Financeira da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Fábio Moraes, concorda. “Muitas vezes é preciso cortar até os pequenos gastos: por exemplo, comer fora de casa, tomar  cafezinho na padaria todos os dias, ou confraternizar com amigos.” Domingos adverte que, “no caso do inadimplente, é preciso ter consciência de que, se ele pagar [a dívida agora], não vai resolver nada. O décimo terceiro vai ser usado como areia movediça”, diz.

As quitações de dívidas devem ser feitas de acordo com uma ordem de prioridade. A primeira, segundo o educador, é pagar as dívidas essenciais, como contas de energia, água e telefone, entre outros. Em seguida, deve-se partir para as dívidas com bens penhoráveis. Em terceiro plano ficam as dívidas que são consumidas com juros altos, e, enfim, as de juros menores.

Os maiores juros são encontrados no cartão de crédito rotativo e no cheque especial, nos quais a média atinge 10,69% ao mês (238,30% ao ano) e 8,05% ao mês (153,22% ao ano) respectivamente, segundo a Anefac. Para quem está pendente no cheque especial, um conselho é falar com o gerente de sua conta e retirar o dinheiro da conta corrente antes que ele seja consumido pelo banco.

O pagamento das dívidas também deve ser negociado antes de se optar pela quitação. Segundo o educador financeiro Reinaldo Domingos, em muitos casos é possível abater juros devidos ou reduzir ou ampliar o tempo de pagamento previsto.

A situação é mais tranquila para quem tem dívidas mas está dentro dos prazos de pagamento. “Esse endividado não tem que pensar em usar o décimo terceiro para pagar dívida. Ele já tem tudo controlado, o que ele tem que fazer é usar o dinheiro para ser poupador, mesmo tendo dívida”, recomenda Domingos. Ele aconselha o chamado “endividado controlado” a poupar ao menos 50% do valor do décimo terceiro para garantir despesas futuras que ele poderá ter, criando uma reserva para imprevistos ou para os gastos de janeiro de 2013.

Na situação dos que não têm nenhuma dívida pendente mas também não conseguiram poupar durante o ano, o benefício pode ser usado em parte para as festas de Natal e Réveillon e em parte para iniciar a cultura da poupança. “É importante que essa pessoa equilibrada busque [entender] por  que ela não consegue reter parte do dinheiro. Se ela não decidir ser poupadora, ela se tornará uma endividada no futuro”, alerta.

Às pessoas que já têm costume de guardar dinheiro e fazer investimentos devem encarar o décimo terceiro como um ganho extra. Domingos diz que, neste caso, “o décimo terceiro ajuda a fortalecer os sonhos ou se usa para curtir. É um dinheiro extra que tem que ser encarado com utilização extra”.

Atenção

As festas, porém, não precisam ficar de fora dos planos de gasto do décimo terceiro. A maior parte dos economistas recomenda que os gastos de Natal, que incluem presentes, enfeites, ceia e viagens, não devem ultrapassar 40% da renda familiar. E um dos maiores motivos é a perspectiva de aumento de gastos do orçamento familiar em janeiro, quando os brasileiros devem arcar com compromissos como Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), licenciamento e seguro do automóvel e material escolar.

Quem for às compras deve ficar atento também quanto à forma de pagamento. Segundo a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de São Paulo (Fecomércio-SP), os produtos que são financiáveis (duráveis e semiduráveis) serão mais procurados neste Natal. Portanto, o tipo de financiamento deve ser bem avaliado. No caso do cartão de crédito, além da possibilidade de adiar o pagamento e dividir as parcelas, também há atrativos como promoções e descontos, além de ser de fácil acesso. Não à toa, é o mecanismo que compromete 74,2% dos endividados brasileiros. Domingos afirma que, se o limite do cartão estiver acima de 50% da renda, o melhor é pedir à empresa prestadora do serviço que o reduza, de forma a permitir o controle de gastos.

A escolha pelo pagamento à vista acaba sendo sempre a melhor opção. “Comprar à vista é uma ótima opção quando você tem condições de fazer a reserva financeira e gerar poupança. Quando o consumidor compra à vista, tem que negociar, verificar possibilidade de desconto, o que também ajuda a evitar o acúmulo de prestações”, afirma o educador financeiro da Febraban, Fábio Moraes.

E o décimo quarto?

Não é maioria na população, mas há os trabalhadores que recebem o décimo quarto salário, que  equivale à Participação nos Lucros e Resultados (PLR) da empresa para a qual trabalham.

Para os beneficiários, a recomendação de Domingos é muita atenção. “Esse dinheiro não pode fazer parte do cotidiano. Se cair na conta corrente, vai sumir”, observa. Ele aconselha a usar a renda extra de forma focada para a conquista de objetivos da família, como a compra de um carro ou uma viagem. “Para quem tem PLR, o benefício é usado para sonhos e desejos extras. A reunião familiar pode contribuir bastante”, diz.



Veículo: DCI


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