O saldo foi de US$ 16,8 bilhões em 2012: uma queda de 74% em relação ao ano anterior
Em vez do temido tsunami de dólares, o Brasil teve, em 2012, a menor entrada de moeda americana desde 2008, quando o fluxo cambial no mundo inteiro secou por causa da crise econômica. O resultado de todos os ingressos e das retiradas do país foi de US$ 16,8 bilhões no ano passado: uma queda de 74% em relação a 2011.
Em 2008, no auge da crise financeira, o fluxo cambial no Brasil ficou negativo em US$ 983 milhões. Quando o banco de investimentos Lehman Brothers quebrou, em setembro daquele ano, e jogou o mundo inteiro na maior crise de confiança desde 1929, os investidores retiraram suas aplicações, principalmente, dos mercados em emergentes.
Somente em dezembro, o Brasil perdeu US$ 6,8 bilhões. Foi a saída mensal de dólares mais forte nos últimos quatro anos. Desde novembro de 2008, quando o fluxo ficou negativo em US$ 7,2 bilhões, o país não tinha um déficit tão alto.
Na conta do Banco Central, não estão as transações feitas no último dia 31. O mercado de câmbio funcionou parcialmente nesta data, mas, como foi feriado bancário, a expectativa da autoridade monetária é que esse número seja residual.
Comércio exterior explica queda no fluxo
A maior causa dessa queda brusca no fluxo de dólares este ano é a fraqueza do comércio exterior. A balança comercial brasileira teve um saldo financeiro de US$ 8,4 bilhões no mês passado, ante um resultado de US$ 44 bilhões em 2011. Esse número é diferente do saldo dos embarques e desembarques porque as transações financeiras das compras e vendas podem ser antecipadas ou adiadas.
— No fim das contas, foi até melhor do que a gente esperava — disse o especialista em câmbio da corretora Levycam Johny Kneese, que vislumbrava uma queda ainda maior, por causa do mau desempenho da balança comercial.
No caso das operações no mercado financeiro, o freio não foi tão dramático. O saldo passou de US$ 21,3 bilhões para US$ 8,4 bilhões. O dado comprovou que a ideia de tsunami monetário, ou seja, a invasão de dólares de outros países à procura de lucro fácil, não se concretizou.
— Daqui para frente, tudo vai depender da situação dos Estados Unidos. Se eles forem bem, a gente vai bem. Se forem mal, a gente vai mal — disse Kneese.
Mas o economista acredita que, mesmo se os EUA entrarem em numa nova crise, a economia brasileira deverá sofrer menos porque as turbulências serão localizadas. O nosso comércio exterior, porém, continuará a sofrer já que os americanos são o principal mercado consumidor do mundo.
Veículo: O Globo - RJ