O "pibão" esperado pela presidente Dilma Rousseff dificilmente ocorrerá neste ano, afirmam economistas consultados pelo Valor Data, mas o crescimento da economia brasileira deve superar 3% em 2013 e 2014. Ficará para trás, portanto, o pífio desempenho da atividade na primeira metade de seu mandato, quando o crescimento médio anual foi perto de 1,8%. A possibilidade de dobrar esse ritmo associada a um desemprego muito baixo pode ser um trunfo no processo eleitoral de 2014.
A expectativa é de alguma retomada do setor industrial, em um primeiro momento, por causa de medidas como a redução da tarifa de energia e a desoneração da folha de pagamentos e, mais à frente, em função da recuperação projetada para a demanda global. O consumo das famílias continuará forte e é esperada alguma recuperação dos investimentos.
A nova "matriz macroeconômica" defendida pelo governo, com o real mais desvalorizado em relação ao dólar e juros menores, também será mantida, na avaliação dos analistas. Na média, consultorias e instituições financeiras projetam que a Selic permanecerá estável em 7,25% ao ano ao longo de 2013, com algumas apostas de um moderado ciclo de aperto monetário em 2014.
Nesse cenário, a inflação não converge para o centro da meta perseguida pelo Banco Central, de 4,5% ao ano, mas também não supera, na maior parte das opiniões, o teto de 6,5%, oscilando na banda entre 5,5% e 6,5%. Para segurar pressões inflacionárias, que devem surgir com o reaquecimento da economia, os economistas apostam em novas desonerações. Como resultado, tanto em 2013 quanto em 2014 o governo não deve cumprir a meta "cheia" para o superávit primário, de 3,1% do PIB.
Para o economista-chefe da MCM Consultores, Fernando Genta, o Produto Interno Bruto (PIB) vai avançar 3,3% neste ano e 3,8% em 2014, em linha com o potencial da economia brasileira, estimado em torno de 3,5% pela consultoria. "Vamos crescer o que é possível, dadas as restrições de oferta de mão de obra e baixo nível de investimento."
Ao longo desta ano, a economia deve reagir de forma mais clara ao acúmulo de estímulos, como redução da taxa básica de juros e dos spreads bancários, alteração na tarifa de energia e desoneração da folha de pagamentos, por exemplo, afirma. "Mesmo considerados todos esses fatores, não vemos nada que possa dar um choque de ânimo nos empresários e faça com que os investimentos tenham forte reação em 2013", afirma o economista da MCM.
Para a indústria, no entanto, a combinação entre crédito mais barato e mudança do nível de câmbio deve surtir efeito mais pronunciado, ainda que não seja esperado um desempenho "espetacular", diz Genta. Nos cálculos da MCM, depois de uma queda em 2012, o produção industrial crescerá 4,4% em 2013, e 4,8% no ano seguinte.
"Há uma retomada em curso", diz Marcelo Arnosti, economista-chefe da BB-DTVM, que, no entanto, não projeta que essa recuperação será linear. Arnosti acredita em indicadores de atividade mais fortes no primeiro trimestre, já que a indústria ingressará em 2013 com estoques mais ajustados e o consumo das famílias tende a se sustentar em nível elevado. Arnosti espera, no entanto, alguns solavancos na zona do euro no segundo trimestre, o que pode atenuar a recuperação dos investimentos no ambiente doméstico.
Diante dessa perspectiva, de novo será costurado um acordo entre líderes europeus, que afastará temores de ruptura e permitirá um 2014 mais sólido. "Como nossa indústria é integrada, tende a se beneficiar de um nível de incerteza menor", afirma Arnosti. Nesse cenário, a atividade doméstica reage, levando o BC a voltar a elevar juros em 2014, mas o ciclo de aperto monetário, na avaliação da BB-DTVM, será curto, de 1 ponto percentual, para 8,25% ao ano, ao fim de 2014.
A MCM espera alta ainda menor da Selic, de apenas 0,5 ponto em 2014. "Enquanto puder, o Banco Central vai manter a taxa básica no patamar atual", afirma Genta. Como a perspectiva é de inflação mais pressionada, em função do consumo aquecido e da aceleração dos investimentos, por causa da iminência dos eventos esportivos programados para o país, o BC lançará mão de medidas macroprudenciais (controle de crédito).
Mesmo com o uso dessas medidas, o Santander não acredita que o governo será capaz de evitar estouro da meta de inflação em 2014. O banco projeta 7% de alta para o IPCA no ano da Copa, reflexo da atividade mais forte e também de uma nova rodada de redução nos juros em 2013, para 6,25%, mantendo-se esse nível até o fim do ano seguinte. "O desempenho da economia no segundo semestre do ano passado frustrou as expectativas, abrindo uma nova oportunidade para queda nos juros", diz a economista Fernanda Consorte.
Para ela, o governo vai utilizar também mais artifícios fiscais para reforçar a economia entre 2013 e 2014. Novos cortes em impostos estão no radar do Santander, que, pelos cálculos da economista, poderão ajudar a diminuir a inflação em cerca de 0,2 ponto percentual em 2013, fechando o ano em 6%.
O governo, segundo Alessandra Ribeiro, economista da Tendências Consultoria, está disposto a bancar essa conta porque, mesmo assumindo tais compromissos, a relação entre a dívida líquida e o PIB continuaria decrescente, já que o dólar mais caro valoriza as reservas internacionais brasileiras. As consultorias e instituições financeiras consultadas pelo Valor Data projetam o dólar ao redor de R$ 2,15 em 2013, e R$ 2,20 em 2014.
Para Alessandra, é importante que os gastos do governo tenham reflexos sobre os investimentos, para que isso sustente o crescimento do PIB nos próximos anos. A Tendências estima avanço de 4,6% na formação bruta de capital fixo em 2013, compensando a queda de 3,7% esperada para o ano passado, e elevação em torno de 8% nos investimentos em 2014. "Ainda assim, o consumo das famílias continuaria sendo a principal força da economia, já que responde por cerca de 60% do PIB", diz. O investimento contribui com aproximadamente 19%.
Na avaliação de Aurélio Bicalho, economista do Itaú, a retomada dos investimentos será lenta e insuficiente para que a formação bruta de capital fixo supere 20% do PIB em 2014. Ainda assim, será um nível maior que o observado em 2012, quando a taxa de investimento ficou em torno de 18,5% do produto. "Além dos estímulos de juros, temos elementos específicos, como eventos esportivos, que estimularão essa retomada."
Para Bicalho, as condições favoráveis no mercado de trabalho e a confiança elevada do consumidor vão manter o consumo em nível elevado.
A média das projeções dos economistas aponta crescimento de 6,2% em 2013 e de 6,4% em 2014 das vendas no varejo restrito, que não inclui veículos nem material de construção, depois do avanço de mais de 8% em 2012 pelos cálculos dos analistas. "Neste ano, o reajuste do salário mínimo não será tão forte quanto em 2012, o que dará menos fôlego ao consumo. Ainda assim, haverá bom crescimento, que se dará sobre uma base já alta", prevê Fernanda, do Santander.
Ao mesmo tempo, o mercado de trabalho, no cenário de recuperação traçado pelos economistas, continuará bastante apertado, com taxa de desemprego próxima das mínimas históricas, ao redor de 5,5% ao longo deste biênio.
Para Genta, da MCM, ainda que o crescimento da economia não alcance o esperado pelo governo, a sensação de bem-estar da população será pouco alterada, o que pode ajudar nos planos de reeleição de Dilma Rousseff.
Veículo: Valor Econômico