Número de trabalhadores do país asiático avançou mais de 80% este ano em Minas na comparação com 2011. Comércio e setor de serviços investem para atrair esse público
“No saber falar português. Jornal? No me interessa, no me interessa”. Os comerciantes chineses são desconfiados e arredios, principalmente quando se deparam com as câmeras e os blocos de anotações dos jornalistas. Falar sobre faturamento e estratégia de negócios? Nem pensar. Estão sempre rodeados de funcionários brasileiros que ajudam na tradução quando não entendem alguma conversa. Mas uma dúvida paira no ar: eles não entendem mesmo o português ou a discrição é o segredo do sucesso dos seus negócios?
Ao que parece a estratégia de ser discreto tem dado certo, pois os chineses estão por toda parte em Belo Horizonte. Só para se ter ideia, o Ministério do Trabalho concedeu 177 vistos de trabalho para chineses até setembro em Minas Gerais, alta de 80,6% em relação a todo o ano de 2011. Na esteira do crescimento do número de trabalhadores chineses, surgem os negócios voltados para esse público.
No shopping popular Xavantes, área de reduto de comerciantes asiáticos, no Centro da capital, já existe um restaurante self-service de comida chinesa. Nos balcões, os atendentes se dividem entre chineses e brasileiros. O cardápio também serve aos dois públicos e com preços bem competitivos: o arroz com ovo frito sai por R$ 5. O ravioli chinês no vapor por R$ 10, e o pastel chinês por R$ 6. Na praça de alimentação do shopping, os bebês chineses se misturam aos brasileiros e dão sinais que vieram para ficar. Mas na hora de conversar sobre o negócio, os proprietários chineses dão as costas. “No, no jornal”.
Na escola de mandarim Huawen há atualmente cerca de 11 alunos chineses. Quando foi inaugurada, em 2007, os chineses somavam duas pessoas. “Temos visto mais chineses agora em Belo Horizonte”, afirma Li Zhenwen, proprietário da escola. O chinês é um dos trabalhadores que veio para conhecer Belo Horizonte e por aqui se instalou. “Antes, todos os asiáticos eram considerados japoneses. Olhavam para gente e logo falavam Arigatô (obrigado, em japonês). Agora mudou. Muita gente fala Ni Hao (olá, em chinês).
A família do empresário chinês Roberto Mao Zhen Qiu trabalha há oito anos no restaurante chinês Jin Lon (Dragão Dourado), na Avenida do Contorno, quase esquina com a Avenida Getúlio Vargas, na Savassi. Na administração, ele conta com a ajuda da mulher, Sofia Wu Caifeng, e da filha, Camila Shan. Eles revelam que o número de clientes chineses triplicou nos últimos anos. “A diferença dos chineses para os brasileiros é que eles pedem a comida com um sabor mais original. Cada região da China é diferente”, diz.
Roberto Qiu e sua família se mostram felizes com a vida em Belo Horizonte. “O clima é bom, com tranquilidade. Gostamos dos brasileiros, são mais alegres e comunicativos”, diz Qiu. Mas na hora de tirar a foto para a reportagem, a família recua. Quem se apresentou foi o gerente do restaurante, Gilmar Rodrigues Ribeiro. Ele conta que a diferença do cliente chinês em relação ao brasileiro está principalmente no tempero da comida. “O chinês costuma pedir um molho mais claro”, diz.
“NO CÂMERA” Os chineses dominam o comércio na área boêmia onde fica os shoppings populares de Belo Horizonte. Por lá, circulam até jornais escritos em mandarim. Com dinheiro no bolso, eles conseguem tirar da região até mesmo tradicionais armarinhos, como o Depósito Santa Luzia, que durante anos ficou instalado na região. Mas o estabelecimento, que ficava em loja alugada, foi vencido pelo capital chinês.
Quando o shopping popular Oiapoque foi criado, em agosto de 2003, a intenção da Prefeitura de Belo Horizonte foi retirar os ambulantes da rua. A medida contribuiu para inserir a capital, definitivamente, na globalização popular, protagonizada pelos chineses. O fenômeno chinês nos shoppings populares de BH salta aos olhos dos consumidores, mas o que eles pensam sobre a cidade e seus planos futuros de negócios é difícil de tentar entender. Das câmeras, eles estão sempre escondidos.
Veículo: Estado de Minas