As projeções do Relatório Trimestral de Inflação, divulgado ontem pelo Banco Central (BC), indicam aceleração da economia combinada com sensível recuo da inflação em 2013, o que reforça a expectativa de estabilidade da taxa básica de juros pelo menos por um ano. Até setembro, o ritmo de aumento do Produto Interno Bruto em 12 meses, que deve ser de 1% em 2012, alcançaria 3,3%. Mesmo assim, sem aumento da Selic, a variação anual do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) cairia para 4,8% até dezembro de 2013, após atingir 5,7% em 2012.
Em outro sinal de que o juro básico não volta a subir tão cedo, o BC reiterou que a estabilidade da taxa por "tempo suficientemente prolongado é a estratégia mais adequada para garantir a convergência da inflação para a meta [4,5%], ainda que de forma não linear".
Ficam dúvidas sobre a trajetória dos juros a partir de 2014, ano em que a inflação voltaria a subir para 4,9%, no cenário de referência, que considera Selic constante em 7,25% ao ano e taxa de câmbio também parada, em R$ 2,05. A projeção do cenário de mercado, que pressupõe aumento dos juros para além de 8% em fins de 2014, sugere que, com elevação da Selic, a inflação seria de 4,8% naquele ano. No cenário de mercado, a inflação na verdade demoraria mais a cair, pois sairia de 5,7% em 2012, para 4,9% em 2013 e 4,8% só em 2014. Além da hipótese de taxa de juro mais alta em 2014, o cenário de mercado se diferencia do de referência pela hipótese de câmbio.
A aceleração do PIB até setembro não será inflacionária porque 3,3% é um ritmo que "se acomoda confortavelmente dentro do que acreditamos ser o potencial da economia brasileira", disse o diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton Araújo.
Revisado pela terceira vez, de 1,6% para 1%, o crescimento projetado para 2012 é que está bem abaixo do potencial. Ainda assim, a inflação chegará a 5,7% neste ano por causa, principalmente, dos efeitos da desvalorização cambial e dos problemas climáticos que afetaram safras e fizeram subir preços de commodities agrícolas e de alimentos
O BC diz que esses efeitos sobre os índices gerais de preços já foram em "grande parte" transmitidos aos preços ao consumidor. Mas como o repasse não foi integral ainda estão no conjunto de riscos inflacionários considerados daqui para frente e que impedem projetar inflação mais perto do centro da meta no horizonte de dois anos.
Entre os fatores de queda da inflação em 2013 está o cenário internacional de baixo de crescimento econômico, por ser "importante fator de contenção da demanda agregada" da economia brasileira. A contribuição da demanda externa para o crescimento do PIB até setembro deverá ser negativa em 0,2%.
A evolução da taxa de câmbio, cuja desvalorização elevou preços no atacado em 2012, também ajudará a controlar a inflação. O BC reforçou os sinais de que não quer uma desvalorização maior do real. O diretor citou ainda uma moderação da expansão do crédito, que recuará de 16% para 14%. "Do ponto de vista do crédito para consumo, a restrição orçamentária das famílias foi alcançada", disse.
O BC espera moderação também dos ganhos salariais, para um nível compatível com o crescimento da produtividade das empresas. A política fiscal será outro fator desinflacionário em 2013 e 2014, pois o BC conta com o cumprimento da meta de superávit primário sem os ajustes aos quais o governo está recorrendo em 2012 e que permitem maior gasto público.
Do ponto de vista da demanda, o consumo das famílias liderará o crescimento do PIB no período de 12 meses até setembro de 2013, aumentando 4% (ante 3% em 2012). O consumo do governo vai aumentar 2,9%, desacelerando em relação a este ano (3,2%). Os investimentos produtivos vão crescer 3,1%. Esse ritmo, embora inferior ao do consumo das famílias, representa mudança mais acentuada em relação a 2012, quando se espera queda de 3,5%. A perspectiva é favorável em função de reduções já ocorridas da taxa de juros, ingressos de investimentos diretos do exterior, programa de concessão de serviços públicos e gradual recuperação da confiança dos empresários.
Do lado da oferta, a expansão de 3,3% do PIB será puxada pelo setor agropecuário (4,8% após queda de 1% em 2012). O setor de serviços deverá crescer 3,2% (ante 1,6% em 2012). O PIB da indústria, que recua 0,5% em 2012, deverá aumentar 2,8%.
Veículo: Valor Econômico