BC prevê recuo de preços e volta a indicar juro estável

Leia em 3min 40s

As projeções do Relatório Trimestral de Inflação, divulgado ontem pelo Banco Central (BC), indicam aceleração da economia combinada com sensível recuo da inflação em 2013, o que reforça a expectativa de estabilidade da taxa básica de juros pelo menos por um ano. Até setembro, o ritmo de aumento do Produto Interno Bruto em 12 meses, que deve ser de 1% em 2012, alcançaria 3,3%. Mesmo assim, sem aumento da Selic, a variação anual do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) cairia para 4,8% até dezembro de 2013, após atingir 5,7% em 2012.

Em outro sinal de que o juro básico não volta a subir tão cedo, o BC reiterou que a estabilidade da taxa por "tempo suficientemente prolongado é a estratégia mais adequada para garantir a convergência da inflação para a meta [4,5%], ainda que de forma não linear".

Ficam dúvidas sobre a trajetória dos juros a partir de 2014, ano em que a inflação voltaria a subir para 4,9%, no cenário de referência, que considera Selic constante em 7,25% ao ano e taxa de câmbio também parada, em R$ 2,05. A projeção do cenário de mercado, que pressupõe aumento dos juros para além de 8% em fins de 2014, sugere que, com elevação da Selic, a inflação seria de 4,8% naquele ano. No cenário de mercado, a inflação na verdade demoraria mais a cair, pois sairia de 5,7% em 2012, para 4,9% em 2013 e 4,8% só em 2014. Além da hipótese de taxa de juro mais alta em 2014, o cenário de mercado se diferencia do de referência pela hipótese de câmbio.

A aceleração do PIB até setembro não será inflacionária porque 3,3% é um ritmo que "se acomoda confortavelmente dentro do que acreditamos ser o potencial da economia brasileira", disse o diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton Araújo.

Revisado pela terceira vez, de 1,6% para 1%, o crescimento projetado para 2012 é que está bem abaixo do potencial. Ainda assim, a inflação chegará a 5,7% neste ano por causa, principalmente, dos efeitos da desvalorização cambial e dos problemas climáticos que afetaram safras e fizeram subir preços de commodities agrícolas e de alimentos

O BC diz que esses efeitos sobre os índices gerais de preços já foram em "grande parte" transmitidos aos preços ao consumidor. Mas como o repasse não foi integral ainda estão no conjunto de riscos inflacionários considerados daqui para frente e que impedem projetar inflação mais perto do centro da meta no horizonte de dois anos.

Entre os fatores de queda da inflação em 2013 está o cenário internacional de baixo de crescimento econômico, por ser "importante fator de contenção da demanda agregada" da economia brasileira. A contribuição da demanda externa para o crescimento do PIB até setembro deverá ser negativa em 0,2%.

A evolução da taxa de câmbio, cuja desvalorização elevou preços no atacado em 2012, também ajudará a controlar a inflação. O BC reforçou os sinais de que não quer uma desvalorização maior do real. O diretor citou ainda uma moderação da expansão do crédito, que recuará de 16% para 14%. "Do ponto de vista do crédito para consumo, a restrição orçamentária das famílias foi alcançada", disse.

O BC espera moderação também dos ganhos salariais, para um nível compatível com o crescimento da produtividade das empresas. A política fiscal será outro fator desinflacionário em 2013 e 2014, pois o BC conta com o cumprimento da meta de superávit primário sem os ajustes aos quais o governo está recorrendo em 2012 e que permitem maior gasto público.

Do ponto de vista da demanda, o consumo das famílias liderará o crescimento do PIB no período de 12 meses até setembro de 2013, aumentando 4% (ante 3% em 2012). O consumo do governo vai aumentar 2,9%, desacelerando em relação a este ano (3,2%). Os investimentos produtivos vão crescer 3,1%. Esse ritmo, embora inferior ao do consumo das famílias, representa mudança mais acentuada em relação a 2012, quando se espera queda de 3,5%. A perspectiva é favorável em função de reduções já ocorridas da taxa de juros, ingressos de investimentos diretos do exterior, programa de concessão de serviços públicos e gradual recuperação da confiança dos empresários.

Do lado da oferta, a expansão de 3,3% do PIB será puxada pelo setor agropecuário (4,8% após queda de 1% em 2012). O setor de serviços deverá crescer 3,2% (ante 1,6% em 2012). O PIB da indústria, que recua 0,5% em 2012, deverá aumentar 2,8%.



Veículo: Valor Econômico


Veja também

Índice de Confiança do Consumidor cai pelo terceiro mês consecutivo

O Índice de Confiança do Consumidor, medido pela Fundação Getulio Vargas (FGV), caiu pelo te...

Veja mais
O varejo faz as contas

O governo surpreendeu os empresários na última quarta-feira ao incluir o comércio varejista no paco...

Veja mais
BC reduz previsão de alta do PIB para 1%

Previsão de alta de 1,6% foi reduzida, segundo o BC, por causa da crise globalA crise financeira internacional pr...

Veja mais
Governo anuncia novas desonerações e prorroga mais uma vez redução do IPI

Medidas, que somam R$ 4,5 bilhões, foram anunciadas horas depois de Dilma afirmar que em 2013 cortar impostos ser...

Veja mais
Comércio varejista será beneficiado com desoneração da folha de pagamentos

A partir de abril, os empresários do comércio varejista passarão a pagar menor contribuiç&at...

Veja mais
Governo anuncia pacote de estímulos de ao menos R$ 4,5 bilhões

A primeira medida anunciada é a conclusão das negociações em torno da proposta do governo pa...

Veja mais
Por que Mantega deve ficar

Ao atacar o ministro da Fazenda brasileiro, a revista britânica The Economist ignorou seus acertos na conduç...

Veja mais
Comércio reduz de 4% para 3% projeção de venda para o Natal

Associação comercial diminuiu expectativa; antecipação de compras e endividamento das fam&ia...

Veja mais
Alimentos puxam aceleração do IPCA-15

Puxada por alimentos, serviços e cigarros, a inflação vai se acelerar intensamente em dezembro, de ...

Veja mais