Puxada por alimentos, serviços e cigarros, a inflação vai se acelerar intensamente em dezembro, de acordo com os economistas. A média das estimativas de dez consultorias e instituições financeiras consultadas pelo Valor Data aponta alta de 0,66% no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo -15 (IPCA-15), prévia da inflação oficial do país, com as previsões variando entre 0,61% e 0,70%.
O avanço médio projetado ultrapassa tanto a alta de 0,54% vista no IPCA-15 em novembro quanto a elevação de 0,60% do IPCA no mês passado. Caso se confirme, o IPCA-15 terá subido 5,75% em 2012, menos que os 6,56% de 2011, porém mais que os 5,64% acumulados em 12 meses até novembro. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga hoje os resultados de dezembro do IPCA-15.
Neste mês, segundo os economistas, a inflação foi fortemente influenciada pelos avanços sazonais de alimentos e pelas pressões - algumas típicas de fim de ano - de serviços. "O alívio promovido pela deflação de agropecuários no atacado já acabou", diz Natacha Perez, do Banco Fator, prevendo elevação de 1,10% para o grupo alimentação e bebidas no IPCA-15.
Ela observa que o Índice Geral de Preços - 10, da Fundação Getulio Vargas (FGV), mostra que a queda de 1,10% nos preços dos alimentos no atacado em novembro se transformou em alta de 1,21% em dezembro, eliminando a fonte de descompressão no varejo. Em novembro, o ritmo de alta de alimentos e bebidas no IPCA-15 havia enfraquecido, chegando a 0,83%, pouco mais da metade da alta de 1,56% registrada um mês antes. No IPCA do mês passado, o avanço foi ainda menor, ficando em 0,79%.
"Carnes, aves e ovos, hortaliças e verduras puxarão os aumentos de preços ao consumidor, tanto por uma questão climática quanto pela influência das festas de fim de ano", afirma Fabio Romão, da LCA Consultores. "Os alimentos serão a principal fonte inflacionária em dezembro, mas serviços também pressionarão."
A expectativa de Romão é de alta de 0,8% nos serviços em dezembro, superando o avanço de 0,71% em novembro. "As pessoas estão com uma renda extra, devido ao décimo-terceiro salário, o que pode incentivar aumentos maiores. "
Entre os serviços que mais devem afetar a inflação no mês, está o empregado doméstico. O item, que representa 3,7% do IPCA-15 e 10,8% dos serviços, segundo Romão, vai subir 0,8%. Em novembro, a alta foi de 0,66%, após recuo de 0,17% em outubro. Outros serviços - alimentação fora de domicílio, aluguel, condomínio e energia elétrica - também ficam mais caros.
As festas de fim de ano e a chegada das férias também impulsionam as vendas de pacotes de viagens e passagens. Pelos cálculos do Fator, os aumentos em dezembro serão de 9% e 7%, respectivamente. "O consumo das famílias está mais forte no quarto trimestre por conta do fortalecimento do mercado de trabalho e do crédito. Em dezembro, isso é potencializado pelas festas de fim de ano", afirma Fernanda Consorte, do Santander.
Reforçando o conjunto das altas, há o fumo. Em antecipação à alta do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), que entrará em vigor em janeiro de 2013, as companhias já promovem reajustes. Romão estima que os aumentos nos cigarros reforçarão a inflação de dezembro em 0,03 ponto percentual. O Fator aposta em influência menor, de 0,01 ponto.
Para Natacha, do Fator, mesmo se forem descontados do IPCA-15 os itens de maior volatilidade, a inflação se mostra mais persistente. A média dos três principais núcleos do IPCA-15 avançará de 0,55%, em novembro, para cerca de 0,60% em dezembro, indicando inflação anualizada de 7,5%.
"Esperamos que esse patamar baixe em 2013, com o desconto nas contas de energia, mas existem outras pressões, como o aumento no transporte urbano, que deve vir maior que o normal, porque em 2012 não houve reajuste em várias cidades, devido às eleições municipais", diz Natacha.
Veículo: Valor Econômico