Há pelo menos um setor na economia brasileira que está se beneficiando da alta do dólar: o varejo. Os empresários das grandes redes do setor estão vendendo produtos comprados com a taxa cambial inferior a R$ 2, porque todo processo de importação destas empresas acontece com um ano de antecedência.
Nesse contexto, é relevante a situação dos estoques das empresas. Excedentes não são viáveis no varejo, uma vez que elevam os custos da operação. Com isso, algumas redes recebem ao longo do ano os produtos encomendados em janeiro.
Se necessário, em tempos de dólar em alta, as novas compras devem ser dirigidas à indústria brasileira. Segundo empresários do setor, para este ano, momento em que a moeda americana foi a mais de R$ 2 - mesmo já tendo apresentado viés de baixa -, é provável que os players troquem de fornecedor.
Segundo Juliano Ohta diretor de marketing e compras da TelhaNorte, a procura pelos produtos importados e de marca própria fizeram com que a rede ampliasse as importações. "Hoje representam de 4% a 5% do faturamento. O volume mais que dobrou do ano passado para cá", disse o executivo ao DCI.
Ainda segundo Otha, as compras desses produtos ocorrem ao longo do ano, pois em sua grande maioria são artigos não sazonais, mas por vezes as negociações duram um ano. "Nesses casos fazemos um contrato de compra de dólar futuro para nos protegermos do câmbio", disse. Os produtos com maior procura são os porcelanatos, mas segundo Otha, a venda de importados também é grande na linha de acessórios para banheiro, lixeiras e ferramentas.
Questionado sobre a continuidade da oscilação do dólar, o executivo da Telhanorte afirmou que trocar por uma indústria própria nacional seria a solução mais salutar. "O mais correto seria passar a usar os produtos nacionais." Para o diretor isso está sendo estruturado, e não tem data certa para acontecer.
"É cedo para dizer que faremos essa substituição para a produção daqui, mas se o dólar passar de R$ 4 vai ser necessário analisar mais essa hipótese", concluiu ele.
Quem também pode vir a substituir seu fornecedor é a Riachuelo, explicou Flávio Rocha presidente da rede e do Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV). "Para a Riachuelo é válida a questão de optar por produtores nacionais. Devido o apelo de moda, elas conseguem promover mais agilidade no abastecimento". Segundo Rocha, para a varejista é viável ter um número maior de artigos de produtos nacionais, uma vez que a empresa não trabalha com estoques altos - se baseia na perspectiva de vendas do Índice Antecedente de Vendas (IAV) do IDV, para fazer suas compras e abastecer suas lojas. "Com a indústria nacional é possível reforçar a compra caso haja necessidade, com os importados isso não acontece pois é necessário mais tempo para a entrega", argumentou.
Estoques
Na opinião de Fernando de Castro diretor da Saint-Gobain, controladora da Telhanorte desde 2000, e também vice-presidente do IDV, para a indústria é viável manter estoques excedentes, mas para o varejo seria onerar ainda mais a operação.
"Para a indústria estocar é viável. Já no varejo, hoje é fundamental administrar com estoques baixos", disse.
"Nas lojas de material de construção, por exemplo, os estoques são fixos. Se a área de armazenagem é de 35 mil metros, por exemplo, não se compra mais que o espaço comporta".
A afirmação foi reforçada por Marcos Gouvêa de Souza, sócio-diretor da GS&MD - Gouvêa de Souza. Para o especialista em varejo, os empresários devem se basear no comportamento de compra do consumidor para tentar prever o quanto comprar e atender a demanda. "O varejo é pautado pelo comportamento do consumidor. Se errar, significará que terá muitas sobras e por consequência terá de fazer promoções, o que não é bom para o operação. Tem que ter intuição".
O especialista explicou também que os estoques do varejo - operação que tem giro rápido de venda -, em sua grande maioria estão baseados na expansão de loja.
"Os estoques crescem na medida em que o setor se expande. Se a perspectiva é ampliar a operação de 10% a 15%, os estoques ficam em linha com isso", concluiu ele. Para os executivos, a questão cambial impactará sim o setor futuramente caso continue em constante oscilação, já que os empresários costumam segurar as suas margens para que não sejam obrigados a fazer repasses para o consumidor.
"O câmbio pode pressionar os produtos importados, mas o varejo só ampliou essa participação dentro das redes pois há dificuldade no abastecimento interno. Essa pressão pode significar aumento dos preços, que é um quadro desfavorável, pois o consumidor é muito sensível a isso", disse Castro.
Veículo: DCI