Apesar da desaceleração da economia, o Brasil subiu de quinto para quarto principal destino de investimentos produtivos em 2012, informou a Unctad, braço das Nações Unidas para o desenvolvimento. O país recebeu US$ 65 bilhões, o equivalente a 4,8% dos recursos mundiais – atrás de EUA, China e Hong Kong.
– Não dá para dizer que o Brasil deixou de ser o queridinho dos investidores – avalia Luis Afonso Lima, presidente da Sociedade de Estudos Transnacionais e da Globalização (Sobeet), que analisa os dados da Unctad para Brasil.
A projeção deste ano é que o fluxo de recursos para o Brasil encolha para US$ 60 bilhões.
Jonathan Wheatley Editor-adjunto de mercados emergentes do Financial Times
Em seis anos como correspondente do diário britânico Financial Times (FT) no Brasil, o jornalista Jonathan Wheatley aprendeu uma lição: jamais noticiar o que o governo promete, mas sim o que cumpre. Há uma distância cada vez mais clara, explica Wheatley, hoje editor-adjunto de mercados emergentes do FT. As previsões equivocadas da equipe econômica brasileira já foram alvo do humor britânico da publicação, considerada uma das mais importantes do mundo dos negócios: no final do ano passado, a presidente Dilma Rousseff e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, foram comparados, respectivamente, a uma rena e um duende. Wheatley está em Porto Alegre hoje para palestra da revista Voto no Hotel Sheraton, às 19h30min. Antes, respondeu a algumas perguntas de ZH por e-mail. Veja os principais trechos.
Zero Hora – Por que a crise internacional e a possível retirada de estímulos pelo governo americano afetam vários mercados emergentes, mas batem mais forte no Brasil?
Jonathan Wheatley – O Brasil está exposto porque tem um dos maiores e mais líquidos mercados. Por isso, quando os investidores precisam vender algo, muitas vezes é mais fácil vender no Brasil. Mas os investidores também têm preocupações específicas com o Brasil, como a redução do crescimento econômico e o ambiente internacional em mudança, um cenário menos benéfico para os exportadores de produtos primários.
ZH – As críticas em típico humor britânico do FT ao governo brasileiro são feitas no mesmo tom a outros mercados emergentes?
Wheatley – Não, o Brasil não é particularmente engraçado. Os posts a que você se refere eram peças de final de ano na quais nós tentamos adotar um tom mais leve. Ocorre que algumas das coisas mais interessantes que aconteciam naquele momento estavam no Brasil.
ZH – Como o FT vê hoje as previsões oficiais de inflação, PIB e consumo do Brasil, já que o FT ironiza com frequência o otimismo do governo brasileiro com os rumos da economia?
Wheatley – Depois de muitos anos cobrindo o Brasil, aprendi a noticiar ações em vez de intenções do governo. Todos os governos tendem a acentuar o positivo. Mas o Brasil tem feito um pouco mais do que é crível. E os investidores têm notado isso.
ZH – Economistas brasileiros insinuaram que as críticas do FT refletiriam o ressentimento dos britânicos em relação ao fato de que o Brasil chegou a ultrapassar a Grã-Bretanha como a sexta maior economia do planeta.
Wheatley – Os britânicos estão muito preocupados com o estado de sua própria economia, que tem muitas, muitas falhas. Se o Brasil é maior ou menor, preocupa menos.
ZH – Como a onda de protestos no Brasil afeta a percepção em relação ao país?
Wheatley – Em geral, acho que muitos investidores vão ver os protestos como positivos, como um exemplo de democracia em ação. Mas muitos, provavelmente, irão adiar decisões até que vejam a ação que o governo tomará além do discurso.
Veículo: Zero Hora - RS