Preços agrícolas e industriais aumentam forte no atacado

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Um forte avanço nos preços das matérias-primas, cujos preços são influenciados por fatores externos e também são sensíveis à variação do dólar, puxou a inflação medida na primeira prévia de setembro do Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M), divulgado ontem pela FGV. A alta foi de 1,02% na primeira prévia de setembro, bem acima do 0,13% da primeira prévia de agosto.

Entre as maiores influências de alta no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPA), componente que responde por 60% da variação do IGP-M, destacam-se as commodities. O item soja em grão passou de deflação de 2,82% na primeira prévia de agosto para alta de 9,72% na primeira medição de setembro; minério de ferro saltou de menos 4,14% para inflação de 2,79%, enquanto o farelo de soja avançou de 4,57% para 6,91%.

O superintendente-adjunto de inflação do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), Salomão Quadros, calcula que a alta da soja respondeu por um terço da alta na primeira prévia do IGP-M de setembro em relação ao resultado de agosto. Ele ressalta, contudo, que outras commodities influenciaram o resultado.

No caso da soja, item agropecuário de maior peso na formação da inflação atacadista, relatórios de clima menos otimistas no exterior em agosto esfriaram expectativas em relação à produção do item no mercado internacional. Isso puxou para cima a cotação do produto na bolsa de Chicago, lembrou o economista - e pôs fim à queda de preços da soja no IGP-M no mercado doméstico. "Dessa vez, o comportamento de alta no preço da soja foi causado estritamente por influência desses relatórios de clima, e não por impacto do dólar", frisou o economista.

Se a soja não sofreu forte impacto do câmbio, o mesmo não se pode dizer da inflação de materiais para manufatura, que acelerou de 1,58% para 2,59% entre agosto e setembro, sempre olhando para os dados da primeira prévia. "Esses itens, que são insumos para a indústria, contam com forte presença de importados", explicou, acrescentando que o farelo de soja, também um insumo industrial - e mais caro devido à disparada no preço da soja em grão -, contribuiu para a inflação no atacado.

Além da soja em alta e do câmbio, a primeira prévia de setembro sofreu influência do minério de ferro mais caro. Quadros lembrou que, no primeiro semestre desse ano, incertezas em relação à demanda chinesa, deixaram o preço do item relativamente comportado no início do ano. "Mas a maioria dessas incertezas já se dissipou e agora o preço do minério voltou a subir", acrescentou.

Assim como o atacado, os preços subiram no varejo na primeira prévia de setembro, com avanço de 0,20%, após queda de 0,04% em agosto, resultado afetado pelo fim da queda de preços nos alimentos.

Na avaliação de Jankiel Santos, economista-chefe do BES Investimento, a alta da primeira prévia IGP-M foi disseminada entre todos os componentes do indicador e aponta que "dificilmente" o índice fechado do mês subirá menos do que a taxa apurada na leitura atual. Ele vai revisar para cima sua estimativa de 1% para o avanço do IGP-M no mês em função do resultado do primeiro decêndio, e não descarta uma alta de até 1,3%.

Segundo Santos, a surpresa para cima com a primeira prévia foi generalizada, já que tanto os produtos agrícolas como os industriais aumentaram acima do esperado. O IPA avançou de 0,15% para 1,42%, com influência da parte agropecuária (-0,51% para 2,22%) e também da parte industrial (0,40% para 1,13%).

O economista-chefe do BES avalia que o avanço dos preços agropecuários foi puxado não só pelas perspectivas menos favoráveis para a safra dos Estados Unidos, mas também por questões internas, já que produtos como laranja e suínos também estão em ascensão. além do impacto do dólar mais caro. No segmento industrial, diz, os reajustes podem não ter sido causados somente pelo novo patamar da moeda americana, mais próximo de R$ 2,40. "Há uma contaminação do câmbio, mas o produtor também pode aumentar seus preços além da depreciação observada para recompor margens".

Para Adriana Molinari, da Tendências Consultoria, a influência do dólar em alta na inflação, que já provoca aumentos de preços no atacado, deve ser mais visível nos preços do varejo no fim de setembro, e se fortalecer mais ainda em outubro. Segundo ela, a Tendências tem acompanhado de perto a influência cambial na inflação.

A consultoria já elevou de R$ 2,25 para R$ 2,35 a expectativa de cotação do dólar até o fim do ano - e isso deve conduzir a uma revisão, para cima, das projeções das taxas do IGP-M referentes a setembro e a 2013, atualmente em 0,53% e em 4%, respectivamente. "Essas expectativas antigas foram calculadas com base na nossa projeção anterior de câmbio" disse, detalhando que, agora com a expectativa de um real mais depreciado, as taxas do IGP-M precisam acompanhar esse novo cenário.



Veículo: Valor Econômico


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