Reajuste 'moderado' de preços de alimentos ajudará inflação

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A tendência de queda dos preços internacionais dos principais produtos agrícolas, que predominou desde meados do ano passado, pode até ser estancada em função do surgimento de novos problemas climáticos, mas dificilmente o mundo vai assistir - a curto ou mesmo médio prazos - um período longo de aumentos substanciais das cotações dos alimentos como o observado entre 2005 e 2011. Especialistas dizem que o mais provável é que haja uma fase de alterações mais moderadas nos preços desses produtos. Para o Brasil, esse é um cenário positivo no que tange ao combate à inflação, mas que preocupa do ponto de vista do comércio internacional já que os alimentos (e o minério de ferro) respondem por boa parte das nossas exportações.

Na semana passada, em edições diferentes, o Valor publicou entrevistas com dois analistas das questões agrícolas que concordaram em si sobre as perspectivas para as cotações internacionais dos alimentos. Para o economista Christopher Hurt, da Universidade de Purdue, nos Estados Unidos, a tendência é que a agricultura experimente um longo período de "moderação". Ele prevê um cenário de crescente equilíbrio entre oferta e demanda por alimentos, margens de lucro mais apertadas no campo e menos estímulos ao aumento da produção, mas minimiza a possibilidade de uma crise estrutural. A demanda chinesa por carnes (e, consequentemente, a de milho e soja para a produção de ração) tende a desacelerar nos próximos anos, assim como o uso de milho para a fabricação de etanol nos EUA. A China é a grande locomotiva da demanda, e o fato é que sua economia está desacelerando. Isso vai reduzir o ritmo da transição alimentar pela qual está passando, o que significa que o consumo de carnes vai crescer menos.

Hurt acrescenta que, a despeito da economia chinesa vir crescendo em ritmo mais fraco, o consumo per capita de proteínas animais (incluindo o de pescados) na China pode se aproximar dos patamares observados nos países desenvolvidos num prazo de cinco a dez anos. Ou seja, a demanda por alimentos da parte dos chineses não vai continuar empurrando para cima as cotações internacionais, mas continuará firme o suficiente para impedir uma desvalorização muito acentuada.

Já o ex-ministro da Fazenda, Antônio Delfim Netto, que também ocupou a pasta da Agricultura durante o governo militar de João Figueiredo, disse não acreditar que vá ocorrer uma redução muito importante da taxa de crescimento da demanda de produtos agrícolas nos próximos anos. O que vai mudar, seguramente, na sua opinião, é estrutura da demanda, com o aumento do número de consumidores com renda para buscar produtos de maior valor proteico. Ele também prevê uma relativa estabilização dos preços já que o "avanço espetacular da China não vai se repetir". O país, previu Delfim, vai continuar crescendo 4,5%, 5% ao ano. E mais importante: vai aumentar muito a urbanização, o que reduz a oferta de produtos agrícolas de um lado e aumenta a demanda de outro, porque aumenta a renda.

Por enquanto, a marca do comportamento dos preços de produtos agrícolas no mundo nos últimos meses tem sido a queda. Em agosto, o índice de preços globais de alimentos da FAO caiu a 201,8 pontos, ante os 205,6 de julho, dando continuidade à trajetória descendente iniciada em maio.

No grupo dos cereais - cujo índice específico passou de 227,3 pontos, em julho, para 210,9 no mês passado, na quarta retração consecutiva - pesou a recomposição da oferta de milho nos EUA nesta safra 2013/14, cuja colheita começará a ganhar fôlego nas próximas semanas. Mesmo com o clima adverso em regiões do Meio-Oeste americano, que provocou altas expressivas de preços em julho, a tendência de recomposição da oferta prevaleceu e abriu espaço para a valorização.

No mercado doméstico, os dados divulgados na sexta-feira pelo IBGE mostram que o movimento de desaceleração dos alimentos - forte entre maio e julho - foi interrompido em agosto, quando esses preços ficaram praticamente estabilizados. O principal indicador da inflação do país, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), apresentou um aumento de 0,24% no mês passado e a previsão dos especialistas é de que alimentos e bebidas vão voltar a pressionar o índice em setembro.



Veículo: Valor Econômico

 


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