Pressão de alimentos deve voltar ao IPCA

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O aumento de 0,24% no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) permitiu uma desaceleração na inflação acumulada em 12 meses, que passou de 6,27% em julho para 6,09% no mês passado. Para os próximos meses, os analistas esperam índices mais altos, puxados por alimentos, impacto do câmbio e um provável reajuste nos combustíveis. Para setembro, as apostas variam entre 0,45% e 0,58%. As mais altas já embutem reajuste dos combustíveis.

O movimento de desaceleração nos alimentos, que ganhou força em maio e chegou a julho com deflação de 0,33%, foi estancado em agosto, quando os preços ficaram praticamente estáveis. Embora a alta de 0,01% tenha sido mais leve que o esperado pelos economistas, a expectativa é de nova alta dos alimentos já em setembro, refletindo o que já aconteceu no atacado.

Os cálculos da Votorantim Corretora apontam avanço de 0,45% no grupo alimentação e bebidas em setembro, estimativa semelhante à da LCA Consultores, de elevação de 0,42% no período. Já a Tendências Consultoria projeta alta de 0,39% para a categoria neste mês.

No atacado, os preços dos alimentos deram um salto no fim do mês passado, deixando para trás a deflação que era vista desde julho. O Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI) mostrou que os produtos agropecuários subiram 0,36% em agosto, revertendo a queda de 0,27% contabilizada um mês antes e contribuindo para a forte aceleração do indicador. Em agosto, o IGP-DI subiu 0,46%, bem acima do 0,14% de julho.

A sequência de IGPs mostra que o momento da virada nos alimentos se deu nos últimos dez dias de agosto, pois até o IGP-M (dados até o dia 20 de cada mês) os preços seguiam trajetória declinante, chegando a cair 0,60%. Os IGPs são calculados pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e diferem entre si pelo período de coleta dos dados.

Dentre os produtos que mais puxaram a inflação no atacado no mês passado estão leite, aves e suínos. Tais produtos, segundo a economista Adriana Molinari, da Tendências Consultoria, estão entre os que prometem pressionar o IPCA em setembro. No IPCA já é possível ver alta no preço do leite longa vida, que no mês passado ficou 3,75% mais caro.

Três fatores, segundo o economista-chefe da Concórdia Corretora, Flávio Combat, explicam esse avanço. O primeiro é o aumento da demanda, com a população consumindo mais leite diante do crescimento da renda nos últimos meses. Agosto, pontua o economista, é um período em que já há confinamento de gado, e os animais começam a ser alimentados com ração. A escalada do dólar nas últimas semanas e o aumento nos preços dos grãos em decorrência de problemas climáticos nos Estados Unidos, ressalta ele, elevaram os custos da ração, encarecendo a produção. E como o Brasil importa leite, o câmbio tem reflexo direto nos preços.

Outro produto que está sendo impactado pela valorização da moeda americana e deve influenciar os preços no varejo, destacam os economistas, é o trigo. Tanto a Tendências como a LCA Consultores esperam aumentos relevantes em farinhas, massas e panificados.

Na avaliação do superintendente-adjunto de inflação do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), Salomão Quadros, a alta do dólar pressionou o IGP-DI em agosto, mas o impacto foi moderado. "No ano passado, tivemos uma desvalorização cambial semelhante à desse ano e o repasse ao IPA [Índice de Preços ao Produtor Amplo] foi mais rápido. Acredito que agora seja mais lento em razão dos elevados estoques industriais. Acho que o repasse continuará ocorrendo, mas ele será diluído no tempo e, talvez, na intensidade", afirma.

O aumento no dólar influenciou ainda os preços dos artigos de residência no IPCA, que subiram 0,89%, após a alta de 0,28% em julho. Para Combat, o repasse cambial ao consumidor está longe de acabar. "As empresas estavam evitando esse repasse porque já haveria um aumento previsto com a volta do IPI", afirma o economista referindo-se ao Imposto sobre Produtos Industrializados sobre eletrodomésticos e móveis, que a partir de julho voltou a ser cobrado. "Mas como a alta do dólar foi muito forte, ficou difícil segurar."

Outro reajuste difícil de evitar, de acordo com o economista da Concórdia, é o da gasolina. Para ele, o aumento virá ainda em setembro, ajudando a acelerar o IPCA para 0,58% neste mês. Ele projeta um aumento de cerca de 10% nos postos de combustíveis.

A Votorantim e a Tendências projetam um reajuste menor nas bombas, de 5% e 4,3%, respectivamente. Para setembro, a expectativa da Tendências e da Votorantim é de elevação de 0,45% no IPCA. Já a LCA, assim como a Concórdia, prevê avanço de 0,58% no indicador.



Veículo: Valor Econômico


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