Juros futuros saltam após vendas no varejo

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Os juros futuros deixaram o gradualismo dos últimos pregões de lado e foram às alturas ontem na BM&F, impulsionados pelo resultado surpreendente das vendas no varejo em julho. Nem mesmo o recuo do dólar, que fechou em queda de 0,26%, a R$ 2,2740, e a descida do rendimento dos títulos do Tesouro americano (Treasuries) foram capazes de tirar o fôlego das taxas dos principais contratos futuros de Depósito Interfinanceiro (DI).

O IBGE informou que as vendas no varejo subiram 1,9% em julho em relação a junho, muito acima do esperado (0,3%). Com a atividade mostrando sinais de vitalidade, voltaram a crescer os temores de um repasse da depreciação do real para os preços ao consumidor nos próximos meses. Ontem, em evento com a diretoria da Associação Nacional dos Jornais (ANJ), o presidente do BC, Alexandre Tombini, disse que a "condução adequada da política monetária limitará a transmissão da desvalorização do câmbio para a inflação no horizonte relevante".

Na BM&F, a taxa do contrato com vencimento em janeiro de 2014 - que reflete a expectativa o ciclo atual de aperto monetário - fechou a 9,29% (ante 9,25% no pregão anterior). Na sexta passada, o contrato havia encerrado o dia a 9,22%, mostrando que parte do mercado já apostava que a taxa básica Selic terminaria o ano a 9,75%. Com a alta dos últimos pregões e a escalada de ontem, voltou a ser consensual a perspectiva de Selic em dois dígitos, com duas altas seguidas de 0,50 ponto (em outubro e novembro).

"Há muita preocupação com a pressão do câmbio, principalmente depois que a primeira prévia do IGP-M de setembro mostrou que já houve repasse no atacado", disse o estrategista-chefe do Banco Mizuho do Brasil, Luciano Rostagno.

Também é grande a preocupação com o rumo da inflação ao longo do próximo ano, dada a perspectiva de que o governo possa deixar o reajuste dos combustíveis para 2014. Ecoaram no mercado de juros ontem as declarações feitas na quarta-feira à noite pela presidente da Petrobras, Maria da Graça Foster. Ela disse "não" à sinalização para aumento da gasolina este ano.

Com o aumento das incertezas e preocupações com a política fiscal, os prêmios de risco aumentam. O DI com vencimento em janeiro de 2015 fechou ontem a 10,49% (ante 10,36% ontem). O derivativo para janeiro de 2017 fechou a 11,72% (ante 11,57%). A inflação implícita nas NTN-B (títulos públicos ligados à inflação) com vencimento em 2015 disparou e atingiu 6,429% (ante 6,343% no dia anterior), perto do teto da meta de inflação (6,5%) perseguida pelo Banco Central. Isso revela o desconforto dos investidores com as perspectivas para a inflação ao longo dos próximos meses, apesar da trégua da alta do dólar em setembro.

Com a melhora do cenário de aversão a risco, os investidores institucionais e estrangeiros estão reduzindo a posição comprada em dólar (aposta na alta da moeda) no mercado futuro, que somavam US$ 7,330 bilhões e US$ 16,564 bilhões, respectivamente. "Os investidores estão reduzindo a posição comprada em dólar diante da injeção de liquidez pelo BC e da percepção de que o Fed poderá adiar a redução dos estímulos monetários", diz Diego Donadio, estrategista do BNP Paribas.

O BNP Paribas espera que a redução dos estímulos monetários pelo Fed comece só em dezembro. "O mercado já se ajustou a esse cenário e se vier uma redução das compras na reunião de setembro poderá trazer impacto para as moedas emergentes", diz Donadio. O BNP prevê o dólar a R$ 2,45 no fim de 2013.



Veículo: Valor Econômico


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