Efeito do aumento da Selic é maior sobre as pessoas físicas do que sobre as instituições financeiras no país
A escalada dos juros afetou bem mais as pessoas físicas do que as instituições financeiras, que também tiveram que pagar mais caro para tomar dinheiro emprestado depois que o Banco Central (BC) iniciou o processo de alta da taxa Selic. Entre abril e setembro, ao passo que a taxa Selic – que serve de referência para empréstimos entre os próprios bancos – subiu 1,75 ponto, o custo para contratar financiamentos pelo consumidor aumentou, em média, 2,16 pontos.
Em algumas linhas já consideradas caras, essa alta chegou a ser até duas vezes maior do que a variação da Selic no período. É o caso, por exemplo, do empréstimo junto a financeiras, cuja taxa ao ano chegou a marcar, em setembro, 126,99%, uma alta de 4,03 pontos sobre o patamar praticado em abril, de 122,96%. Os números fazem parte de um levantamento feito pelo ESTADO DE MINAS com base em dados do BC e da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac).
Outra linha que ficou ainda mais salgada foi o cheque especial, que tem, tradicionalmente, a segunda taxa de juros mais alta entre as cinco principais modalidades de crédito mais utilizadas pelo brasileiro, atrás somente do cartão de crédito. Em abril, mês em que o BC deu início ao processo de alta da Selic, à época em 7,25% ao ano, os juros praticados nessa linha eram, em média, de 143,55% ao ano. Cinco meses depois, quando a taxa básica já havia subido para 9% ao ano, os bancos passaram a cobrar, em média, 147,10% ao ano de quem entrasse no cheque especial, uma diferença de 3,55 pontos.
Para a economista Zeina Latif, doutora em política monetária pela Universidade de São Paulo (USP) e sócia da Gibraltar Consulting, essa discrepância entre a alta da Selic e o maior custo em contrair empréstimos se deve ao menor crescimento da oferta de crédito, que afeta, principalmente, as instituições privadas. “Temos visto apenas os bancos públicos aumentarem suas carteiras de crédito. Ao mesmo tempo, os custos para manter uma operação bancária no país permanecem elevados, como salários de funcionários, impostos e outras despesas administrativas. Então, para não ter uma diminuição na sua margem de lucro, o banco repassa, sempre, essa perda ao cliente”, disse.
Impacto faz
dólar desabar
A perspectiva de que a taxa básica de juros brasileira volte a dois dígitos e de que esteja próximo um acordo entre republicanos e democratas nos Estados Unidos sobre o aumento do teto da dívida do governo fizeram o dólar fechar ontem em queda, para o menor patamar em quase quatro meses. O dólar comercial, usado no comércio exterior, caiu 1,13%, a R$ 2,181 – menor valor desde 18 de junho, quando estava em R$ 2,178.
De acordo com especialistas, apesar de a elevação do juro básico feita pelo Banco Central ter vindo em linha com o esperado, surpreendeu a manutenção do comunicado da autoridade, que voltou a indicar que seguirá subindo a Selic para conter a inflação no país. “A taxa de juros pode voltar a dois dígitos, o que atrairia mais investimentos externos para o Brasil e, consequentemente, mais dólares. Com a oferta maior da moeda norte-americana, a cotação tende a cair”, explica Guilherme Prado, especialista em câmbio da corretora Fitta DTVM. (Com agências)
Veículo: Estado de Minas