Indicadores sugerem dezembro morno, apesar da aceleração de preços

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Os primeiros indicadores de atividade relativos ao mês de dezembro e relatos das associações industriais indicam que dezembro - apesar da aceleração da inflação - foi um mês de atividade morna. Confirmam esse quadro as vendas mais fracas no Natal e o movimento de veículos pesados em rodovias pedagiadas, que caiu 4% em relação a novembro, segundo o Índice ABCR de Atividade.

Os relatos das entidades empresariais contrariam o Índice de Gerentes de Compras do HSBC (PMI, na sigla em inglês), que avançou de 49,7 pontos em novembro para 50,5 pontos no último mês de 2013. O indicador foi influenciado por um crescimento da produção e do volume de pedidos - algo que não acontecia desde junho.

Nas estatísticas, o varejo deve receber ajuda das vendas fortes de automóveis, puxado pela antecipação de demanda provocada pelo aumento do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) a partir de janeiro, já que o segmento automotivo tem peso importante sobre o varejo.

Novas compras de automóveis, contudo, podem ter afetado a renda disponível para a compra de outros bens. Segundo a Serasa Experian, as vendas do varejo no país subiram 2,7% no período entre 18 a 24 de dezembro, o menor percentual desde quando o dado começou a ser medido, em 2003. A média anual de crescimento no período foi de 7,55%.

A projeção preliminar da LCA Consultores para a produção de dezembro é de recuo de 1,2% na comparação com novembro, feito o ajuste sazonal. A estimativa foi elaborada com base na queda de 5% da produção de veículos, de acordo com números da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) dessazonalizados pela consultoria - a LCA também usou dados da sondagem industrial da Fundação Getulio Vargas (FGV) e da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Segundo Bráulio Borges, economista-chefe da LCA, houve um descompasso entre varejo e indústria em dezembro de 2013. Enquanto as vendas de automóveis subiram 4% sobre novembro, sempre com o ajuste sazonal da consultoria, a produção encolheu. "Isso é explicado pelos estoques elevados", diz Borges, ao passo que, nas concessionárias, a recomposição já anunciada do IPI para janeiro levou consumidores a antecipar suas compras, assim como a perspectiva de preços maiores em função da exigência de airbags e freios ABS em todos os carros produzidos.

Para o economista, o resultado líquido da evolução dos dois setores - comércio e indústria - deve ter sido crescimento nulo da atividade em dezembro, mas mesmo assim as perspectivas de recuperação no quarto trimestre de 2013 estão mantidas. Por ora, a LCA trabalha com alta de 0,8% do Produto Interno Bruto (PIB) no período, suficiente para compensar o tombo de 0,5% observado de julho a setembro. Borges ainda afirma que os indicadores de confiança do empresariado, que melhoraram no mês passado, são indícios de que a reação da economia pode continuar no começo de 2014.

Conversas com empresários do setor têxtil indicam que o último mês de 2013 não foi muito diferente em relação às encomendas, diz Fernando Pimentel, diretor-superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit). "As confecções, que são nossas grandes clientes, ainda estão retomando suas atividades". Para o primeiro trimestre de 2014, a única ajuda à indústria têxtil pode partir de uma inflação menor dos alimentos, que minou a capacidade de consumo em igual período do ano passado, sustenta Pimentel.

Para o segmento de calçados, dezembro foi ainda pior do que o padrão do mês. Heitor Klein, presidente-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), explica que, após o fim das entregas de Natal, a produção do setor se volta para atender os pedidos do mercado externo. As barreiras comerciais impostas pela Argentina, porém, diminuíram drasticamente as encomendas do exterior, cenário que se acentuou em dezembro e também em janeiro, relatou.

Como o mês de dezembro foi de atividade mais frágil do que o previsto, o presidente de Abicalçados afirma que as expectativas para 2014 ficaram um pouco mais nebulosas. Ele lembra que o período de janeiro a março costuma ser de consumo menor para os calçados, o que não deve mudar este ano. "A volta às aulas pode resultar em alguma elevação, mas seria algo muito específico para o setor escolar", disse.

No meio da cadeia, o setor químico ainda não tem dados fechados para dezembro, mas o presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), Fernando Figueiredo, avalia que o último mês de 2013 deve ter sido estável para a atividade, segundo as perspectivas da maioria dos empresários consultados em novembro. Assim, afirma Figueiredo, causou surpresa o indicador PMI, do HSBC, ter apontado um maior volume de novos pedidos para os fabricantes de bens intermediários naquele mês.

Segundo Figueiredo, o câmbio mais desvalorizado e a desoneração de matérias-primas podem ajudar a elevar a competitividade dos produtos químicos brasileiros em 2014, mas não há perspectivas de grande crescimento do consumo, em linha com o ânimo mais contido nas projeções para o PIB.



Veículo: Valor Econômico


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