Cenário macroeconômico pede cautela entre os varejistas

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Nada de tirar o pé do acelerador, nem tão pouco investir em projetos de pesados. A palavra de ordem no comércio varejista este ano parece ser "cautela", com atenção maior para demandas das próprias empresas. Com as incertezas do cenário macroeconômico e político, impactados também pelo calendário diferenciado com a Copa do Mundo e as eleições, os empresários do comércio varejista têm analisado que o melhor será investir para "arrumar a casa", ou seja, direcionar o foco para a capacitação dos funcionários, regularizar as demandas internas das operações e ajustar a gestão das empresas.

Apesar do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) ter alcançado alta de 2,3% no ano passado, antes 2012, o percentual ficou aquém dos 3,5% previstos no início do ano anterior. Dessa maneira, o setor está mais atento em 2014, e a previsão para o PIB é de ficar em torno de 2%, o que já repercute entre os varejistas.

Aos que desenvolveram planos de expansão ou estavam otimistas quanto as possibilidade de faturamento e inauguração de lojas, o conselho é direcionar o potencial de investimento para novos projetos, treinamento pessoal interno e informação. "É hora de consolidar a presença no mercado", disse o consultor e professor do Centro de Excelência em Varejo FGV-SP, Maurício Morgado. Para ele, o poder de consumo em 2014 deve manter-se estável e o giro do mercado dependerá mais que nunca da classe C. A nova classe média já vê o aumento da inflação, mas continua predominando na carteira de clientes das principais varejistas.

Jean Makdissi, diretor da Intima Store, rede de lojas de atacado e varejo na região de Brás, avalia que a precaução é, de fato, o mais apropriado pelo menos no primeiro semestre deste ano. "Estávamos planejando uma expansão e a reforma do segundo piso de uma das lojas, mas estamos revendo. Vamos segurar esse dinheiro para eventual necessidade". Makdissi, que também é conselheiro executivo da Associação de Lojas do Brás (Alobrás). Segundo o conselheiro, as lojas vinculadas à Alobrás faturaram R$ 12,6 bilhões no amontoado de 2013. Para este ano, estima-se crescimento de 4%.

As previsões para o PIB são pautadas pelo cenário instável que se observa no País há alguns meses: alta da inflação, esperado crescimento na taxa básica de juros (Selic) e a baixa no Índice de Confiança do Consumidor (ICC), que no final deste mês mediu 105 pontos. Marcos Fernandes Gonçalves, professor da FGV/EAESP e consultor da Fapesp, ao considerar o varejo como a ponta do iceberg da economia, aconselha aos varejistas que observem o desenrolar das decisões financeiras dos EUA e da China. Sobre as recentes medidas do governo federal no âmbito da macroeconomia, Fernandes avalia que a curto prazo prejudicam o bolso do consumidor brasileiro, mas a médio e longo prazo viabilizarão a retomada de investimentos e crescimento gradual e consistente da economia.

Para o diretor de relações institucionais da Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop), Luís Augusto Ildefonso da Silva, "qualquer interferência negativa nos processos burocráticos e competitivos trazem falta de consistência aos resultados. No início de 2013, o governo projetava crescimento de 3,5% e terminou o ano com 2,3%, ou seja, uma queda na evolução econômica". Para Silva, isso reduz a expectativa para qualquer empresário. "Algumas lojas estocaram mais em 2013, pela perspectiva das informações no início do ano. O comércio não cresceu e sobraram mercadorias, que tiveram de ser liquidadas. As vendas existiram, mas o resultado operacional foi de menor lucratividade."

Segundo ele, como grande parte do varejo é baseada nos ramos de moda e calçados, além de tecnologia, esses segmentos têm de vender rápido para não terem encalhe. Este ano, ele acredita que o comportamento dos empresários seja, por isso, diferente. O diretor da Alshop opinou que para 2014 os índices indicam incertezas na economia, logo, isso deve exigir dos empresários uma análise mais delicada e aprofundada de seus próprios negócios. "Temos um ano diferenciado. A Copa já provou que só aumentará a receita de bares, restaurantes e supermercados, mas não o comércio como um todo. Há uma discussão de que na data de jogos da Seleção Brasileira poderá ser considerado feriado. Comercialmente teremos menos dias no calendário, e menos vendas".

Retomada de investimentos


Para a Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores (Abad), o resultado do PIB do ano passado foi positivo e não deve ser desprezado, contudo ainda é insuficiente. "Tem como aspecto positivo o aumento da participação dos investimentos, apesar de o consumo continuar a ser o principal motor da economia", ressaltou José do Egito Frota Lopes Filho, presidente da entidade.

A tendência de retomada para garantir a sustentabilidade do próprio consumo e para permitir o avanço nas reformas de infraestrutura é vista como algo determinante. "O crescimento baixo é crônico e significa sinal de alerta para o governo, que precisa oferecer as condições econômicas e regulatórias necessárias para a realização de novos investimentos."



Veículo: DCI


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