Os preços dos alimentos subiram em janeiro menos que o esperado, impulsionando as vendas nos supermercados e contribuindo para um crescimento nas vendas do varejo mais forte que o previsto por grande parte dos economistas. As vendas do varejo restrito (excluem automóveis e materiais de construção) subiram 0,4% na comparação com dezembro, feitos os ajustes sazonais, segundo o IBGE, contrariando estimativas que previam estabilidade ou queda no indicador. A média das projeções de 19 bancos e consultorias ouvidos pelo Valor Data apontava retração de 0,1% no período.
Entre dezembro e janeiro, alimentação em domicílio subiu 0,9%, de acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), abaixo da média dos últimos cinco anos, de 1,3%. Nesse período, as vendas nos supermercados avançaram 1% e podem ter sido impulsionadas também pela onda de calor das primeiras semanas de 2014, afirma a LCA Consultores em relatório.
Nos próximos meses, o quadro deve mudar, avalia Mariana Oliveira, economista da Tendências . A expectativa é que o recente aumento nos preços dos alimentos, causado principalmente pela estiagem prolongada, tenha reflexo no varejo. "Não creio que isso vá aparecer nos dados de fevereiro, mas a partir de março as vendas podem perder fôlego", diz.
O comércio restrito, segundo Mariana, deve registrar um resultado positivo em fevereiro, próximo ao verificado em janeiro, se beneficiando do efeito-calendário o Carnaval foi em março). Entretanto, ela diz que a baixa confiança do consumidor e a queda no movimento nas lojas, apontada pela Serasa, sugerem que as vendas não avançarão além desse patamar.
Embora o crescimento de 0,4% nas vendas do comércio restrito em janeiro compense a queda de 0,2% no mês anterior, o resultado não é suficiente para tirar o setor da estagnação vista desde o fim do ano passado, segundo a técnica da coordenação de serviços e comércio do IBGE, Aleciana Gusmão.
A perspectiva para este ano, na avaliação de Guilherme Maia, economista da Votorantim Corretora, é de certa estabilidade na expansão do comércio, como indica a média móvel trimestral. Nos três meses encerrados em janeiro as vendas do comércio aumentaram 0,2%, mantendo a intensidade verificada nos três meses findos em dezembro. "Não podemos descartar a possibilidade de nova aceleração, mas considero pouco provável", afirma Maia, que estima elevação de 4,5% no comércio varejista em 2014, pouco acima do crescimento de 4,3% registrado em 2013 e nos 12 meses findos em janeiro. "O mercado de trabalho está mais fraco, mas ainda é favorável ao consumo. Isso deve evitar variações bruscas nas vendas", diz.
Mariana, da Tendências, estima que a alta nas vendas do varejo restrito vai desacelerar a 4% até o fim de 2014. Para o varejo ampliado (inclui automóveis e materiais de construção), a expectativa é que a expansão fique em 3,3%, taxa verificada nos 12 meses encerrados em janeiro. Em 2013, o varejo restrito elevou as vendas em 3,6%.
Para a economista, o efeito do novo ciclo de alta nos juros, iniciado em abril do ano passado, já pode ser percebido nas vendas de bens duráveis. Entretanto, fatores pontuais podem influenciar as vendas, gerando volatilidade, como os incentivos à compra de móveis, eletrodomésticos e equipamentos de informática pelo programa Minha Casa Melhor. Em janeiro, as vendas de móveis e eletrodomésticos cresceram 1,2%, após queda de 2,4% em dezembro.
Veículo: Valor Econômico