Agenda Brasil-Japão pode incluir acordo de comércio

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Por Rodrigo Pedroso | De São Paulo

Uma das intenções da visita oficial do governo e empresariado do Japão ao país é aumentar as exportações ao Brasil, tradicionalmente superavitário no comércio bilateral. Neste ano, os dois lados da corrente de comércio -soma entre compras e vendas - estão em queda. Os japoneses veem oportunidades sobretudo nas áreas de alimentos industrializados e produtos farmacêuticos e médico-hospitalares. A indústria brasileira, por sua vez, olha um possível acordo de livre comércio e cooperação econômica com os japoneses como uma chance para aumentar e diversificar as exportações ao país, concentradas em carnes, minérios e grãos.

No primeiro semestre do ano, na comparação com o mesmo período do ano passado, o Japão vendeu 12% menos ao Brasil (US$ 3 bilhões), enquanto as compras caíram 15% e foram para US$ 3,3 bilhões. Com isso, a corrente de comércio ficou em US$ 6,3 bilhões, 14% menor do que ano passado, na mesma comparação. A desaceleração do consumo e o recuo da produção industrial explicam o encolhimento dos desembarques.

A JTB, empresa privada japonesa que mapeia e estimula trocas comerciais de empresas do Japão com o exterior, está promovendo viagens mensais de executivos ao Brasil para a prospecção de novos negócios. Uma das áreas com maior potencial é a de alimentos. Com o apoio do governo, está sendo montada uma estratégia de inserção de franquias de alimentação no mercado brasileiro, que vai demandar a importação de produtos industrializados produzidos no Japão.

Hisashi Ichikawa, gerente-chefe da Lapita, empresa-braço da JTB para a realização de comércio, afirma que o boom de restaurantes japoneses nas grandes cidades brasileiras na última década pode ser melhor aproveitado. Ele cita que a familiaridade com a culinária japonesa abre espaço para a entrada de alimentos produzidos no Japão. A expansão no consumo brasileiro desse tipo de alimento nos últimos anos, conta ele, foi absorvida por empresas de Taiwan e Coreia do Sul. "Eles entraram antes, mas agora queremos pegar esse espaço."

O setor de equipamentos médico-hospitalares, que já vende ao Brasil, tem planos de ampliar a presença no mercado interno. Lucas Shirahata, presidente da Hypercreative, conta que sua empresa desenvolveu em parceria com a JTB um software que calcula os custos de importação ao Brasil. Impostos, encargos, tipo de frete e tempo estimado entre embarque nos portos japoneses e desembarque da mercadoria no Brasil são calculados para dar previsibilidade às operações comerciais. Um dos grandes entraves para os empresários japoneses era a dificuldade em estimar os custos com a operação de comércio exterior.

Em um ano, segundo Shirahata, o software foi pensado, negociado e lançado no mercado. As pequenas e médias empresas japonesas, que não possuíam escala para vender ao exterior ou encontravam dificuldades em prever os custos, agora estão com planos para tentar entrar no país. Além de japoneses, o software está também está sendo usado por alemães que exportam ao Brasil.

A política econômica do primeiro-ministro Shinzo Abe, conhecida como Abenomics, está fornecendo crédito farto e barato às indústrias com planos de expansão de produção de exportação, segundo Ichikawa. "Esse movimento começou com as grandes empresas e agora está descendo para as pequenas e médias", diz.

Os japoneses, ainda segundo o empresário, estão vendo o Brasil como um mercado para ser planejado a longo prazo. A ideia é usar o país como hub para a entrada nos países vizinhos sul-americanos. "A economia brasileira não está tão bem como antes, mas olhamos em um horizonte mais à frente", afirma.

O interesse brasileiro em fortalecer as relações comerciais com o Japão, por outro lado, está mais relacionado com a busca por aumento de competitividade da indústria, transferências de tecnologia e inserção em cadeias globais de valor, na visão de Roberto Gianetti da Fonseca, vice-presidente do conselho de Comércio Exterior da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp). Ano passado, a indústria nacional começou a negociar com a associação japonesa da indústria (Keidanren).

Está em pauta o Exchange Partnership Agreement (EPA, na sigla em inglês), acordo de cooperação econômica, que também inclui o livre comércio, a ser realizado no âmbito do Mercosul. No próximo mês, uma comitiva de empresários brasileiros liderada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) vai a Tóquio, capital japonesa, para tentar avançar nas negociações.

O desejo da indústria brasileira, segundo Gianetti, é que o acordo "saia o quanto antes". Ele atribui a dificuldade no avanço das negociações a "uma falta de interesse do governo brasileiro em negociar esse tipo de acordo com o Japão."

Este ano, no entanto, ele não vê possibilidade de avanço real de um possível acordo, em função das eleições. O cenário atual e futuro da economia do Japão, que começa a dar sinais de recuperação depois de duas décadas de baixo crescimento e deflação, é outro atrativo visto pela indústria para se aproximar mais do Japão.


Veículo: Valor Econômico


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