Reajuste nos preços administrados no próximo ano deve manter o IPCA em elevação, corroendo a renda dos trabalhadores. No entanto, política de correção salarial deve minimizar impactos.
De acordo com especialistas entrevistados pelo DCI, as correções que serão feitas nos preços administrados no próximo ano deve manter a inflação em alta, atingindo, dessa forma, o poder de compra da população com menos renda.
No entanto, uma eventual manutenção da atual política de reajuste de salário deve minimizar os impactos da elevação de preços sobre a renda dos trabalhadores.
Pela regra vigente, os salários são reajustados pela soma da variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) e do Produto Interno Bruto (PIB) de dois anos antes.
O INPC, que mede a inflação das famílias com rendimento de um e cinco salários mínimos, já vem acumulando números altos.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o INPC de setembro variou 0,49%, ante 0,18% registrando em agosto. Com isso, em doze meses, o índice acumula variação de 6,59%, acima dos 6,35% relativos aos doze meses anteriores e também do teto da meta, estabelecida em 6,59%.
Assim como o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a maior pressão do INPC veio da alta de preços dos alimentos, principalmente por conta da alta de preços da carne, em 5,16% no INPC, e em 3,17% no IPCA.
O índice de inflação oficial do País está em 6,75% em 12 meses e foi impactado, em setembro, em 30% pela variação dos alimentos.
Regiões
Cidades como Rio de Janeiro e Recife estão registrando os maiores índices de inflação na faixa da população com menor renda, em 7,68% e 7,29% respectivamente. Já o INPC de Curitiba está em 6,87%, e o de Porto Alegre e Belo Horizonte, em 6,66%.
São Paulo e Belém estão registrando as menores variações para o INPC, em 6,02% e em 6,22%, respectivamente.
O professor do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec) e sócio da Valorum Consultoria Empresarial, Marcos Sarmento Melo, diz que o desrepresamento dos preços administrados em 2015 deve manter a inflação alta, prejudicando o poder de compra dos brasileiros, principalmente na ausência de uma política de reajuste salarial que leve em conta a variação de inflação.
"A inflação é o principal aspecto que corrói o poder de compra das pessoas, mais do que o crescimento do PIB. Apesar delas não acompanharem o desempenho dos índices oficiais de preços, elas sentem em seu cotidiano a alta da inflação quando vão ao supermercado e percebem que não conseguem fazer mais a mesma cesta de antes", afirma ele.
"É bem provável que 2015 seja um ano de ajustes na economia. Deverá haver alguma redução nos gastos públicos que, junto à liberação de preços controlados, irá afetar diretamente o bolso da população", complementa Melo.
Reajuste salarial
O economista e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Agostinho Pascalicchio, afirma que os reajustes nos preços controlados também irão exigir uma elevação nos juros, o que será mais fator de contribuição para a perda do poder de compra dos trabalhadores. "Acredito que temos uma situação mais acomodada nesse ano. Os ajustes serão mais fortes em 2015", diz ele.
"No entanto, manter a atual política de reajuste salarial pode compensar essa perda do compra das pessoas. É uma política positiva e que proporcionou uma evolução na renda dos trabalhadores. Em minha opinião, ela não deve ser alterada", complementa.
O professor de economia da Universidade de Brasília (UNB), Roberto Bocaccio Piscitelli, também concorda com Pascalicchio. Para ele, independentemente do partido que venha a assumir o governo no ano que vem, será muito difícil desconsiderar a inflação como um componente para reajustar salários.
"Esse tipo de reajuste foi uma conquista da sociedade e permitiu que houvesse uma ascensão de classe", diz ele. "O que deve ser objeto de discussão mais ampla é o indicador do nível de produtividade como componente dos reajustes salariais, já que ele pode proporcionar aumento mais baixo de salário", finaliza.
Veículo: DCI