Varejo atrasa definição de orçamento

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As empresas do setor de consumo e varejo têm encontrado dificuldades para definir o orçamento de 2015. Normalmente, um cálculo prévio é aprovado pelos controladores, no máximo, entre fim de novembro e início de dezembro, mas fontes ouvidas contam que há adiamentos e orçamentos ainda em aberto. "Poucas empresas já têm isso no papel e aprovado pelo conselho de administração", diz um membro de conselho de três redes varejistas.

Incertezas no campo econômico, como crescimento real da renda e nível de consumo das famílias, interferem nesse cálculo, segundo executivos ouvidos pelo Valor nas últimas semanas. Projeções para câmbio, inflação e taxa de desemprego também afetam diretamente esse planejamento. Algumas empresas optaram por estabelecer faixas para alguns indicadores.

"Em termos de variação real da renda, a previsão é queda de 1%, com taxa de desemprego em 5,9% e alta de 1,5% a 1,8% no consumo das famílias. E quanto ao câmbio, previu-se uma faixa mais ampla, de R$ 2,70 a R$ 2,90. As linhas gerais estão aprovadas, mas há volume maior de incertezas no orçamento do ano que vem", diz um diretor financeiro de uma cadeia.

"É um ano diferente dos anteriores, com muitas variáveis em suspenso. Não necessariamente porque vemos algo ruim, mas porque se sabe que é mais difícil mesmo fazer as projeções hoje", disse, semanas atrás, Christophe José Hidalgo, diretor vice-presidente de finanças do Grupo Pão de Açúcar. "A gente se comporta nesses cenários sendo mais conservador em termos de despesas e tentando ser mais competitivo e eficiente. Vamos ter que usar melhor os recursos e já estávamos preparando a companhia para isso, para enfrentar qualquer situação".

O Magazine Luiza trabalhava para concluir o orçamento, semanas atrás, considerando uma expansão modesta do Produto Interno Bruto (PIB) em 2015, disse Marcelo Silva, diretor superintendente. "Para 2015 estimamos crescimento [da companhia] em dois dígitos baixos", disse ele. Uma expansão de 15% nas vendas é considerada pela rede uma taxa média.

O Carrefour deve atualizar dados do orçamento de 2015 em duas semanas, e considera hipótese de estabilidade até leve queda em volume vendido no próximo ano - algo que pode ser compensado, diz Charles Desmartis, presidente do Carrefour, por ganhos de eficiência criados com recentes reestruturações internas.

Empresas contam que há outras variáveis pouco claras e com peso direto na definição do orçamento anual. Reajustes de tarifas de energia e água em 2015, em meio a um cenário de risco de racionamento, impactam diretamente as despesas operacionais das companhias. A hipótese de manutenção da política de aumento da taxa básica de juros - para abril de 2015, pesquisa Focus do Banco Central prevê 12,25% - aumenta o custo do capital e o custo da dívida das empresas, além de inibir aumentos dos gastos das famílias.

A definição da equipe econômica dias atrás deixou mais claro o caminho de uma política de crescimento um pouco mais ortodoxa, mas executivos ressaltam que faltam ainda ações mais claras do governo que possam atenuar o atual clima de desconfiança do consumidor na economia. "Não há uma percepção no mercado de mudança desse ambiente nos próximos meses", diz um dirigente de uma rede. "Entre outubro e novembro ratificamos o orçamento de 2015 considerando um PIB zero e Selic em torno de 12% em dezembro. Se não batermos o orçamento já está claro com os controladores que era um ano com mais indefinições", diz um diretor de varejista.

"O que eu quero para 2015 é tentar alcançar o orçamento projetado em 2014, e que não foi alcançado", diz José Barral, presidente do Sonda Supermercados. "É um dos anos mais difíceis de se definir orçamento que já vi até hoje [...]. Antes a gente olhava mais para vendas e trabalhava despesas depois, agora despesa é prioridade".

Ao contrário de anos anteriores, o que também tem pesado nas análises para 2015 é a indefinição a respeito do desempenho de dezembro, que, tradicionalmente, traz vendas de 30% a 35% maiores do que um mês sem festas. A expectativa é de um Natal modesto. No varejo, dezembro de 2014 será um balizador para se definir indicadores mais próximos da realidade de 2015, na tentativa de se desenhar previsões mais acertadas.



Veículo: Valor Econômico


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