Os dados, divulgados ontem, apontam para mais um ano de preços em alta no vare-jo,mesmo que o índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2014, o indicador oficial usado pelo governo nas metas de inflação,fique abaixo do limite permitido. O IPCA de dezembro e do ano fechado será divulgado hoje, no Rio. Levantamento feito ontem pela AgênciaEstado com economistas do mercado financeiro de 50 instituições aponta para uma projeção média de 6,41%, pouco abaixo do limite de 6,5% a meta de 4,5% mais 2 pontos porcentuais de margem de tolerância.
Por causa dos preços no atacado, o IGP-DI de 2014 ficou em 3,78% (0,38% em dezembro), menor variação desde 2009,fase aguda da crise internacional iniciada em 2008, enquanto o índice de Preços ao Consumidor/Disponibilidade Interna (IPC-DI), componente que mede a variação de preços ao consumidor, teve alta de 6,87% ano passado, a maior desde 2003. Tarifas. "O risco de a inflação ao consumidor ficar acima do limite (da meta do governo) é palpável em 2015", afirmou o pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV Salomão Quadros.
O principal vilão da inflação deste ano serão as tarifas de serviços públicos, os chamados preços administrados -conta de luz, passagem de ônibus, contade água etc. "Ainfla-ção no varejo deve puxar mais. Tem energia elétrica, alimentos e tarifas de ônibus", afirmou o economista Bernard Gonin, da Bozano Investimentos. Segundo Quadros, os aumentos na conta de luz já foram os responsáveis pelo maior IPC-DI desde 2003. Os gastos com conta de luz, que haviam recuado 15,08% em 2013, na esteira das medidas adotadas pelo governo, cresceram 14,75% em 2014.
Ainda no item de administrados, os reajustes das tarifas de ônibus no Rio e em São Paulo, congeladas desde as manifestações de 2013, deverão ter peso relevante. Sob pressão. No cenário traçado por Quadros,ainflaçãofica-rá pressionada o ano inteiro porque não haverá alívio suficiente de outros itens. Nem mesmo os preços do atacado -que não entram no IPCA, índice de preços ao consumidor, mas compõem os IGPs daFGV - deverão repetir os recuos verificados em 2014.
Além disso, os preços internos ainda sofrerão pressão da desvalorização cambial - mesmo que as cotações internacionais caiam, o preço aqui fica mais caro por causa do dólar mais elevado. O câmbio, aliás, é mais um risco para a inflação ao consumidor em 2015, segundo Quadros. O pesquisador tampouco crê em desaceleração relevante dos preços de serviços. "A precondição para os serviços desacelerarem é que os salários desacelerem, mas isso depende de o mercado de trabalho piorar", disse Quadros, acrescentando que, embora essa piora já tenha começado,ela tende a ser demorada.
Veículo: O Estado de S. Paulo