Dólar e repasses de custos devem pressionar inflação, dizem especialistas

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Depois dos aumentos da energia e dos combustíveis que impulsionaram os índices de preços no início do ano, a inflação está sendo pressionada por novos fatores. A alta do dólar e o repasse aos consumidores do aumento de custos de produção se tornaram os novos vilões dos preços, segundo especialistas ouvidos pela Agência Brasil. A divulgação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de abril indicou que, passados os impactos dos reajustes de preços administrados, uma onda de aumentos em itens de consumo manterá a inflação em níveis altos. No mês passado, os grupos que mais puxaram o índice oficial da inflação foram saúde, alimentação e bebidas, habitação e vestuário.

“Esse comportamento indica que a inflação voltou a ir para itens de consumo. Alguns diziam que os preços parariam de subir depois do reajuste de preços administrados, mas o fato é que eles não arrefeceram, mesmo com a economia desaquecida”, diz o coordenador do curso de economia do Ibmec, Márcio Salvato. Segundo o professor, parte da alta para bens de consumo foi motivada por empresários que esperaram para repassar aos preços finais o impacto da conta de luz e dos fretes mais altos. Em relação à saúde, que registrou as maiores altas de preços no mês passado, o reajuste dos medicamentos interferiu no IPCA.

Professora da Fundação Getulio Vargas (FGV) e membro do Conselho Federal de Economia, Celina Ramalho aponta outro fator que deve manter a inflação alta nos próximos meses: o dólar. Segundo ela, o aumento em torno de 15% da moeda norte-americana em 2015 está começando a ser repassado aos preços das mercadorias importadas ou com matérias-primas importadas.

“Em grande medida, a alta do dólar reflete o ajuste da economia americana, mas há fatores internos afetando o câmbio. Como o câmbio está volátil e muitos contratos são fechados com meses de diferença, leva algum tempo para que a variação do dólar seja transferida para o consumidor”, adverte.

Para a professora, a inflação continuará a ser pressionada tanto pelo dólar como pelos repasses dos custos dos atacadistas para o varejo. “Não é uma pressão tão grande como a dos aumentos da energia e dos combustíveis no início do ano, mas o IPCA continuará a passar por uma tendência de elevação nos próximos meses e com grandessíssima probabilidade de fechar acima do teto da meta.”

De acordo com o consultor de varejo Alexandre Ayres, a inflação está mudando o comportamento do consumidor. “Desde o ano passado, as vendas estão caindo nos supermercados tradicionais e subindo nas redes de atacadistas. Em vez de buscar marcas mais caras em embalagens menores, o consumidor está buscando marcas mais baratas em embalagens maiores, com custo unitário da mercadoria mais baixo”, explica.

Em abril, o IPCA atingiu 0,71%, com queda de 0,61 ponto percentual em relação a março (1,32%). No entanto, o índice no acumulado de 12 meses subiu para 8,17%, acima do teto de 6,5% para a meta de inflação em 2015. Segundo o último Relatório de Inflação, divulgado em março, o Banco Central acredita que o IPCA fechará o ano em 7,9%.



Veículo: Diário de Pernambuco


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