Fuga para o Exterior. Queda das importações supera a baixa das exportações e saldo volta ao positivo neste ano. Especialista diz que vendas para fora são "única saída" para empresas.
A diferença entre as exportações e importações brasileiras deve terminar o ano na casa dos US$ 15 bilhões, o que representa 0,7% do Produto Interno Bruto (PIB). Com economia desaquecida, o setor externo aparece como válvula de escape para empresas.
O cálculo da balança comercial no PIB, feito pela Tendências Consultoria, mostra avanço de 5,9% do segmento em relação ao ano passado. Em 2014, as compras superaram as vendas para outros países e o impacto no PIB foi negativo em 0,1%.
"O setor externo vai amenizar um pouco a retração da economia neste ano", ressalta Rafael Bassiotti, economista da Tendências Consultoria. De acordo com Armando Monteiro, ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), o saldo entre exportações e importações vai fechar o ano em US$ 15 bilhões. Em 2014, a conta ficou deficitária em US$ 4 bilhões.
Entretanto, o valor das vendas e das compras feitas pelo Brasil caíram neste ano. Até o mês passado, foram recebidos US$ 160,5 bilhões por exportações e gastos US$ 148,3 bilhões com importações. Em relação a 2014 os dados mostram quedas de 16,4% e 23,5%, respectivamente. O volume exportado, por outro lado, aumentou: de 477 bilhões de quilos no ano passado para 524 bilhões de quilos em 2015.
No Brasil, a exportação de bens e serviços representa apenas 11,5% do PIB, um dos números mais baixos em todo o planeta. Os outros emergentes do Brics, por exemplo, superam esse patamar: África do Sul (31,3%), China (22,6%), Índia (23,6%) e Rússia (28,6%). As informações são do Banco Mundial.
Para José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), as exportações aparecem como a "única saída" para empresários do País neste momento, "porque o mercado interno está parado". O especialista diz que "todos vão ter que exportar, vão fazer o possível e o impossível para conseguir vender para outros países".
Entre janeiro e outubro, o número de empresas que exportaram foi de 18.864, crescimento de 4% em relação a igual período 2014, quando 18.139 companhias fizeram esse tipo de negociação. Castro destaca também o impacto da desvalorização do real: "o câmbio acaba sendo um fator de competitividade no País, já que traz resultado mais rápido, e acaba incentivando mais gente a vender para fora".
De acordo com o Relatório Focus, o dólar deve ser negociado por cerca de R$ 4,08 em 2016. Ainda assim, a AEB estima quedas nas exportações (-2,9%) e nas importações (-9,5%) para o ano que vem. "Esses resultados vão gerar um superávit maior que o de 2015, ainda que seja um 'superávit negativo', causado pela diminuição maior das importações e não pelo aumento das exportações", explica Castro.
Se as previsões do Relatório Focus para crescimento econômico, dólar e balança comercial se concretizarem, o impacto do setor no PIB poderá chegar a 2,3% no ano que vem.
Segundo o Plano Nacional de Exportações do MDIC, o Brasil tem uma participação de apenas 1,2% nas exportações de bens no mundo. O documento informa também que há "claro espaço para incremento" desse número.
"Se quisermos realmente aumentar as exportações, precisaremos de mais investimentos do governo, principalmente em infraestrutura. Mas, infelizmente, com a carência de recursos que temos nesse momento, acho que não vai haver muita mudança no ano que vem", conclui Castro.
Produtos e destinos
Entre janeiro e outubro deste ano, a soja continuou como líder isolada na pauta de exportação brasileira, representando 12,5% das vendas (US$ 20,2 bilhões). E a China segue na liderança entre os maiores países compradores, responsável por 19,5% das negociações, ou US$ 31,3 bilhões.
Veículo: Jornal DCI