Crise deverá ficar mais profunda em 2016

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                            Especialistas preveem piora do quadro econômico com medidas monetárias restritivas para conter a inflação.

Se 2015 foi um ano de arrocho fiscal, inflação alta, juros elevados e famílias endividadas, 2016 não deve ser diferente. Especialistas consultados pela reportagem acreditam que o nó da política nacional deve fazer com que o governo, em prol da permanência no "poder", continue adotando medidas monetárias restritivas para tentar conter a inflação, mas que não devem impedir a continuidade do quadro de infraestrutura precária, carência de investimentos, falta de confiança, desemprego e endividamento público e das pessoas.

Para o professor de economia brasileira e finanças da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG), Ário Andrade, tudo indica que não haverá retomada da economia em 2016. "A crise política traz expectativas negativas e de piora no quadro econômico", disse. Para ele, a política de segurar a inflação aumentando os juros não está conseguindo ter êxito e, ao mesmo tempo, um ajuste fiscal mais profundo é inviável devido aos riscos políticos.

"O receituário que vem sendo adotado com uma política monetária mais restritiva não está conseguindo quebrar o aumento da inflação. Precisamos de uma política fiscal mais profunda, com mais cortes, mas isso é politicamente inviável hoje. Além disso, o grande problema do País hoje é que o governo gasta mais do que arrecada", avaliou Andrade.

Andrade lembrou que o debate sobre o aumento da taxa básica de juros (Selic) voltou à tona e as perspectivas indicam uma Selic a 15,5% ao ano já para o início de 2016. "Em uma economia que já está combalida, isso é dar um choque de 220 volts", lamentou. Outro aspecto abordado pelo economista foi a incapacidade de o consumo fomentar a economia.

"A dinâmica econômica de crescimento nos últimos anos foi mantida com o consumo das famílias e menos investimentos, mas isso será difícil de ser mantido com uma inflação na casa dos 10% para 2016", afirmou o economista, lembrando ainda que as pessoas estão endividadas e o desemprego está aumentando.

Para o professor da PUC-MG, a saída para a economia nacional são os investimentos em infraestrutura, mas desde que isso não seja feito pela União e pelo poder público em geral, que já não têm capacidade de investir. Além disso, o nó político atual, com ameaças de impeachment e pressão de todos os lados, impede o governo de realizar as reformas trabalhistas e previdenciária, por exemplo, sob risco de "suicídio" do próprio governo.

"Saudades" - O sócio e Gestor de Fundos de Renda Variável e Multimercados da L2 Capital Partners, Marcelo López, acredita que em 2016 "vamos ter saudades de 2015". Segundo ele, o Produto Interno Bruto (PIB) nacional deve cair menos no próximo exercício, mas o problema é que a base deste ano já é negativa. "Não acho que será pior, mas vamos ter queda em cima da queda deste ano", acrescentou.

López analisa que o governo federal deve adotar uma política mais expansionista de crédito, o que é até esperado pelo mercado com a confirmação de Nelson Barbosa como ministro da Economia. Porém, para ele essa não é a solução para a economia nacional. "A perspectiva é de que a inflação deve subir e os juros também", disse.

O analista explicou que, em função da situação política, o governo não deve arriscar uma política de incentivo aos investimentos privados e juros mais baixos, onde a economia poderia crescer, porque isso levaria cerca de um ano para ser efetivado, prazo longo para quem quer se manter no "poder". "A situação política está afetando a economia do País e isso é um mal", frisou.

De acordo com López, o governo não deve fazer as reformas trabalhista e previdenciária porque elas também representariam um risco para a permanência no Planalto. Assim, ele espera que algumas reformais pontuais podem ser feitas.

 


Veículo: Jornal Diário do Comércio - MG


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