BC deve começar a elevar juros neste mês, aprofundando quadro recessivo

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Com a possibilidade de o Banco Central (BC) voltar a subir os juros já neste mês, economistas não descartam que a queda no Produto Interno Bruto (PIB) neste ano possa ser semelhante à esperada para 2015, no patamar de 3,7%.

Segundo instituições financeiras consultadas pelo BC no Boletim Focus, a taxa básica de juros (Selic) pode ter aumento de 0,5 ponto em janeiro (dia 20), chegando a 14,75% ao ano e, no final de 2016, alcançar taxa de 15,25%, aprofundando, dessa forma, o quadro recessivo da economia do País.

A retomada do aperto monetário deve elevar a taxa média de desemprego para 10,2% e a relação dívida bruta / PIB a 73%, segundo a economista da GO Associados, Mariana Orsini.

"O aumento da taxa de juros vai provocar uma redução mais forte dos investimentos que são importantíssimos para manter o nível de emprego alto. Com a retração dos aportes e, consequentemente do crescimento, é provável que o PIB deste ano se aproxime ou repita o desempenho de 2015", prevê o economista Celso Grisi, presidente do Instituto Fractal de Análises de Mercado.

O Boletim Focus já aponta queda de 2,95% na economia em 2016 e retração de 3,71% em 2015. Há um mês, as projeções eram de 2,31% e de 3,50%, respectivamente.

"Aumentar os juros em uma economia com o emprego em retração, inflação alta e câmbio acima de R$ 4 só intensifica a queda do PIB. Com isso, a atividade econômica deve registrar números cada vez mais negativos", observa Norberto Giuntini, professor do Instituto Mauá de Tecnologia.

Orsini também avalia que o PIB pode se deteriorar ainda mais, porém destaca que a previsão da GO Associados, por enquanto, é de PIB negativo em 3% em 2016.

Virene Matesco, professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV), lembra que a elevação dos juros vai contribuir para a piora da dívida bruta do Brasil sobre o PIB, relação que registra 65,1% até novembro do ano passado e que, segundo ela, deve ultrapassar a marca dos 70% ao longo deste ano.

Segundo a economista da GO Associados, a relação dívida / PIB deve alcançar 73% em 2016, já contando com as pedaladas fiscais, que são os atrasos de pagamentos da União a bancos públicos, durante o primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff.

Desemprego

Com os juros altos, retração dos investimentos e queda na economia, a GO Associados também prevê aumento da taxa média de desemprego neste ano para 10,2%. Para 2015, a previsão da consultoria é de taxa média de 7%.

Matesco ressalta que a perda do poder de compra dos trabalhadores também deve ser maior em 2016, tendo em vista o encarecimento do crédito frente à alta da Selic. Para ela, isso tende a ocorrer mesmo com o recuo dos preços administrados em 2016.

Segundo o Boletim Focus, a inflação dos administrados deve passar de uma variação positiva em 18% em 2015 para 7,50% ao final deste ano.

A pesquisa mostra ainda que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve registrar alta de 6,87% em 2016 e de 10,72% em 2015. As novas previsões foram divulgadas ontem pelo BC.

Justificativa

Além de inflação alta em um patamar de mais de 10%, as incertezas em torno da política fiscal são outra justificativa para o aumento de juros, segundo Giuntini e Orsini.

A economista da GO Associados relembra que o BC já vinha apontado preocupação na condução das contas públicas nas atas do Comitê de Política Monetária (Copom).

Além disso, há ainda a perspectiva de afrouxamento na política fiscal com o economista Nelson Barbosa à frente do Ministério da Fazenda.

Giuntini considera contraditório elevar juros em uma economia recessiva e diz que isso é resultado de uma falta de definição na política brasileira.

"A única coisa que estamos fazendo nesse momento são ações isoladas em termos de política econômica", diz o professor do Instituto de Tecnologia Mauá. "É contraditório aumentar os juros em uma economia recessiva e com a dívida crescendo. O que o governo faz para minimizar isso é emitir títulos da dívida, jogando a dívida para a frente", complementa Giuntini.

Indicadores

A pesquisa do Banco Central também traz a projeção para a inflação medida pelo Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI) que permanece em 6,14%, este ano. Para o Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M), a estimativa foi ajustada de 6,48% para 6,51%. A projeção para o Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (IPC-Fipe) segue em 5,81%. E a previsão para a alta dos preços administrados permanece em 7,5%.

Já a perspectiva para a cotação do dólar subiu de R$ 4,20 para R$ 4,21, no fim deste ano. A estimativa para o déficit em transações correntes, que são as compras e vendas de mercadorias e serviços e as transferências de renda do país com o mundo, passou de US$ 38,6 bilhões para US$ 38,5 bilhões, este ano. A previsão para o superávit comercial (exportações maiores que importações de produtos) subiu de US$ 33 bilhões para US$ 35 bilhões.

O investimento direto no País (recursos estrangeiros que vão para o setor produtivo) deve chegar a US$ 55 bilhões.

A dívida líquida do setor público deve chegar a 40% do PIB, de acordo com a estimativa das instituições financeiras.

O mercado financeiro também voltou a elevar sua expectativa para a Selic no encerramento de 2017. De acordo com o Focus, a taxa de juros estará em 12,50% em 31 de dezembro de 2017, e não mais em 12,25%, como previam os analistas uma semana antes.

 



Veículo: Jornal DCI


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