Na avaliação de economista, o ministro da Fazenda, ao listar a infraestrutura e construção civil como áreas prioritárias mostra que desenvolvimento da oferta deve ser opção de alavancagem.
As sinalizações do ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, apontam para uma retomada, ainda que tímida, do estímulo ao crédito pelo lado dos investimentos, diferentemente do que ocorreu na última década, com o incentivo ao consumo.
A avaliação é do professor de economia da ESPM, Orlando Assunção Fernandes, que pondera, entretanto, que os estímulos precisarão ser feitos sem oneração ao Tesouro Nacional, para que se cumpra o ajuste nas contas públicas neste ano.
Ontem, Barbosa se reuniu com bancos públicos e privados para discutir medidas de incentivo ao crédito. O líder da Fazenda tem defendido que os setores da construção civil, infraestrutura e agronegócio sejam foco prioritário das linhas de financiamento.
"As áreas mencionadas pelo ministro me parecem ser as mais adequadas nesse momento para serem foco de incentivo. Pois elas têm relação com o desenvolvimento da oferta, algo que não feito no País na última década. Pelo contrário. Foi dado incentivo em massa ao consumo", afirma o professor da ESPM.
Orlando acrescenta que a falta de investimentos na oferta provocou uma queda no Produto Interno Bruto (PIB) potencial do Brasil, que saiu de cerca de 4% em 2010 para 2% em 2015. O PIB potencial é a capacidade que o País tem de crescer sem provocar pressões inflacionárias. "Investir em infraestrutura e construção civil é uma forma de desenvolver a capacidade produtiva para que, quando a demanda for retomada, não ocorra pressões inflacionárias. Você equilibra produção com consumo. Já o crédito ao setor agrícola é importante para alavancar o segmento exportador, que já está se beneficiando com o patamar do câmbio".
O professor de administração do Instituto Mauá de tecnologia (ITM), Francisco Olivieri, é crítico ao caminho sinalizado por Barbosa. Na avaliação dele, o ministro indica que dará continuidade à política de incentivos setoriais dos três governos anteriores.
"Direcionar crédito traz desequilíbrios para a economia, pois alguns setores, nesse modelo, se desenvolvem menos que outros. O ideal é criar linhas de crédito de inovação para segmentos com potencial de agregar valor à economia", analisa Olivieri.
Otto Nogami, do Instituto Insper, concorda com a avaliação de Olivieri, acrescentando que as áreas prioritárias listadas por Barbosa indicam que o financiamento tende a ir para as grandes empresas, em detrimento das pequenas e médias, repetindo o modelo de financiamento utilizado em períodos anteriores.
Olivieri comenta ainda sobre a proposta do governo feita para os bancos públicos, como o BNDES, Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil (BB), de utilizar os pagamentos das "pedaladas fiscais" no oferecimento para criar as linhas de crédito. Para ele ainda, esses recursos, que somam cerca de R$ 60 bilhões, são insuficientes para impulsionar o crescimento da economia.
Já na opinião de Fernandes, apesar do montante não ser suficiente para reverter toda a queda no PIB, este traria, ao menos, um alívio ao indicador e pode servir como o início de um processo de desenvolvimento da oferta no País.
Além disso, afirma que, na atual conjuntura, é inviável estimular o crescimento de todos os segmentos da economia.
A preocupação comum dos economistas é o modelo financeiro a ser utilizado na criação das linhas de crédito. Para todos eles, o executivo não pode mais utilizar os recursos do Tesouro para subsidiar taxas de juros menores, como a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), atualmente em 7,5%. "Não há espaço fiscal para subsídios. Se isso acontecer, terá um impacto forte nas contas públicas, deteriorando ainda mais a percepção de risco do País", alerta o economista da GO Associados, Alexandre Andrade.
Para Olivieri, será difícil, para Barbosa, convencer os bancos privados a conceder linhas de crédito com juros menores, em um momento em que o "risco do País" é alto.
Além disso, Andrade acrescenta que a crise de confiança no governo pode fazer com que os empresários fiquem receosos para tomar crédito.
Para ele, as medidas mais viáveis para a retomada de crescimento, atualmente, são o ajuste fiscal como forma de retomar credibilidade, o "destravamento" das agendas de concessões e parceria públicos-privadas (PPPs), além de maior segurança jurídica dos marcos regulatórios.
BNDES
Após um ciclo de alta puxado por investimentos de governos locais e avanços em parcerias público-privados (PPP), os desembolsos BNDES para os projetos de mobilidade urbana terão um tombo de 20% a 25% em 2016. A falta de dinheiro público para investir, diante da crise fiscal da União e dos Estados, inibe a chegada de mais projetos e, sem eles, 2017 também será ano de queda.
Veículo: Jornal DCI