Aumento do dólar pressiona inflação, importação e endividamento externo

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Moeda americana, cotada acima dos R$ 4, traz problemas para a economia brasileira: os índices de preços avançam, as dívidas internacionais crescem e as compras fora do País são prejudicadas.

A valorização do dólar frente ao real, comemorada por exportadores, também tem impactos negativos sobre a economia brasileira. Desde janeiro do ano passado, a unidade da moeda norte-americana ficou R$ 1,40 mais cara.

O baque do aumento cambial afeta, por exemplo, a já elevada inflação do País, deixando mais caros os produtos importados e os produtos que usam insumos internacionais, explica Mauro Rochlin, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Outro efeito sobre os preços é causado pela diminuição da competição. "Os produtos internacionais perdem espaço no País e os empresários brasileiros podem aumentar os preços internos por terem menor concorrência", comenta Rochlin.

Antônio Carlos dos Santos, professor de economia da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), diz que a alta dos preços causada pelo câmbio é mais sentida pela classe média, que compra produtos com mais componentes estrangeiros. "São, por exemplo, o macarrão italiano, o vinho europeu, os eletrônicos americanos, que ficam mais caros agora". Entretanto, o especialista lembra que também podem ser elevados os preços de remédios e antibióticos, mercadorias compradas por todas as classes sociais.

Por outro lado, o especialista ressalta efeitos positivo das mudanças trazidas pela alta do câmbio. "Os produtos que ficam muito caros para serem importados podem ser substituídos por opções nacionais, o que causa a geração de mais empregos no Brasil."

Santos lembra também que a desvalorização do real tende a atrair os turistas e a manter os gastos dos próprios brasileiros no País. "Com a alta do câmbio, menos gente viaja para fora e mais gente escolhe opções aqui dentro."

Balança comercial

Na contramão das exportações, favorecidas pela alta do dólar, as compras do exterior são prejudicadas pela valorização da moeda estrangeira. Em 12 meses do ano passado, as importações recuaram 25% ante o acumulado de 2014.

"Se os empresários deixam de importar bens da capital que estão muito caros, acontece um sucateamento da produção no País, que fica menos competitiva", alerta Francisco Olivieri, professor de administração do Instituto Mauá de Tecnologia.

A melhora da balança comercial registrada no ano passado, quando o superávit se aproximou dos US$ 20 bilhões, "se deve principalmente à queda das compras no exterior", comenta Santos. Em 2015, o valor total das exportações caiu (-15%) mesmo com a desvalorização do real.

"Justamente nesse momento de câmbio favorável, as commodities têm cotação reduzida, então a balança comercial acaba não sendo tão ajudada", explica Olivieri.

Enquanto a queda dos produtos básicos afeta parte da economia do País, situação diferente é vivida pelos exportadores de manufaturados. "A indústria nacional acaba sendo a grande ganhadora com a alta do câmbio, crescendo em competitividade", diz Rochlin.

Endividados

Mais uma notícia ruim trazida pela elevação do câmbio é o aumento do buraco na conta daqueles que tenham dívidas fora do País. "Muitas empresas brasileiras tomaram recursos no exterior e ficaram com dívidas muito grandes depois da alta do dólar", afirma Olivieri.

O professor da Mauá alerta que as companhias nessa situação podem se tornar inadimplentes e ter problemas por falta de liquidez. "Vale e Petrobras, por exemplo, vivem problemas por terem altos endividamentos em dólar", complementa Rochlin.

Olivieri conclui: "o custo de novas tomadas de empréstimo em outros países também aumenta, já que o risco de não pagamento cresce com a elevação do câmbio".

Previsões

Os especialistas entrevistados pelo DCI acreditam que o dólar encerrará 2016 em patamar superior aos R$ 4,03 em que a moeda se encontra ontem.

"Deve chegar a R$ 4,50 durante o ano, por causa do cenário de instabilidade política, e depois cair até cerca de R$ 4,25", estima Olivieri. Para o professor, o câmbio ideal ficaria por volta dos R$ 3,50, "seria bom para exportadores e importadores e não causaria impacto forte sobre a inflação".

Santos segue linha de raciocínio parecida. "Acho que se não houver nenhum problema no campo político, que tem contaminado o ambiente econômico, o dólar deve ficar perto de R$ 4,20 no final do ano. Mas isso depende muito de vários fatores, como as escolhas do Banco Central em 2016."

 



Veículo: Jornal DCI


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