A mudança de tom na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada ontem, foi interpretada por muitos analistas como um sinal de que o Banco Central prepara o terreno para um corte de juros ainda neste ano, possivelmente no segundo semestre. Essa percepção passou a ganhar fôlego no mercado. O cenário também é afetado pela pressão de setores importantes dentro do governo e de lideranças políticas para que o BC comece a reduzir logo os juros, ajudando na retomada da economia.
Na última reunião, realizada há uma semana, o Copom manteve a taxa básica de juros, a Selic, em 14,25% ao ano, por 6 votos contra 2 que defenderam a alta de 0,5 ponto porcentual.
Ontem, após a divulgação da ata, o AE Projeções, serviço da Agência Estado, consultou 36 analistas do mercado financeiro. Alguns chegaram a alterar seus cenários após o documento. Oito deles, trabalham com um cenário de estabilidade do atual patamar de 14,25%, enquanto os demais 28 acreditam que o BC iniciará um ciclo de alívio na taxa.
Os profissionais do Itaú Unibanco preveem que os cortes da Selic terão início em agosto, num processo contínuo que deve levar a taxa para 10,50% ao fim de 2017. “A demanda fraca e o fim do efeito do ajuste de preços relativos (administrados e câmbio) abrem espaço para uma gradual redução da inflação”, disseram os economistas, em relatório.
Já a Saga Capital prevê manutenção da taxa básica por um longo período. “A queda da inflação no segundo semestre deve ser menor do que vamos observar no primeiro semestre, mantendo o risco para 2017”, avaliou o economista William Michon Jr. “Seria importante haver maior consolidação do cenário político e inflacionário antes de haver quedas na taxa de juros.”
Apesar da expectativa de muitos analistas de que haverá corte de juros em breve, uma fonte graduada da equipe econômica ouvida pelo Estado afirmou que ainda não há espaço para flexibilização da política monetária com previsões tão altas para inflação. “A visão é a mesma que tínhamos há um mês, não foi alterada”, disse a fonte. Com o IPCA mais baixo do que o esperado em fevereiro, o mercado passou a acreditar que o corte dos juros está próximo.
Mas, na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária, o BC aumentou suas projeções para 2016 e 2017 e avaliou que a alta dos preços continua “resistente” neste início de ano. Apesar da alta de preços, o BC avalia que a economia em recessão tende a trazer alívio para a inflação de forma mais intensa do que o esperado inicialmente.
A diretoria do BC chegou a retirar do documento uma expressão que foi a marca de sua comunicação desde junho do ano passado para reforçar o compromisso com o combate à inflação. O Copom não fala mais sobre a necessidade de “determinação e perseverança” para evitar que a alta dos preços observada em 2015 se transmitisse para prazos mais longos.
Na ata, o BC diz que “remanescem incertezas” sobre a recuperação das contas públicas, a inflação corrente e as expectativas de alta dos preços. Segundo a instituição, a projeção para a inflação está acima da meta de 4,5% para este e o próximo ano nos dois casos. Em grande parte, segundo o BC, a alta da inflação foi provocada pela nova onda de reajuste de tarifas e impostos promovida por governadores e prefeitos para reforçar o caixa.
Veículo: Jornal O Estado de S. Paulo