Queda do PIB faz inflação desacelerar em março, mas o ritmo ainda é tímido

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O agravamento da recessão começa a provocar a desaceleração dos preços em março, mas o ritmo não é de queda expressiva devido à forte indexação dos contratos com base na inflação passada, de dois dígitos nos últimos 12 meses.

Segundo o Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV), o Índice Geral de Preços - 10 (IGP-10) desacelerou para 0,58%, em março, ante 1,55% apurado em fevereiro.

O Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) de 15 de março de 2016 também apresentou variação de 0,65%, 0,03 ponto percentual abaixo da taxa registrada na última divulgação (0,68%).

"Ainda tem muitas pressões sobre a inflação. Não vejo uma grande desaceleração em curso. Na média, a inflação está rodando num patamar muito elevado, de 1% ao mês e 12% ao ano. Mas, da mesma forma que ocorreu com o emprego, com o agravamento da recessão na economia, em algum momento, a inflação deve desacelerar mais", diz o economista da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), Fabio Pina.

O economista diz que pela situação ruim da economia, com queda 3,2% do produto interno bruto em 2015, a inflação deveria estar próxima de zero. "Surpreende o dado inflacionário, não é uma inflação de demanda, a queda de consumo foi entre 10% a 12%. Há outros fatores influenciando a inflação", diz.

Pelos dados do Ibre/FGV, a taxa acumulada do IGP-10 em 2016, até março, foi de 2,84%. Em 12 meses, o IGP-10 registrou alta de 11,78%.

Sobre os fatores que mantém a inflação resistente, Fabio Pina lembrou que há falta de competição na economia brasileira e que os aluguéis e salários são reajustados pela inflação passada, que foi alta.

"Cerca de 90% dos contratos de aluguéis ainda são reajustados pelo IGP-M. Só contratos novos são renegociados. E os salários [de quem está trabalhando] são reajustados pela inflação passada", disse Pina sobre a chamada inércia inflacionária, a indexação.

Em relatório a clientes, o Credit Suisse também alertou que as fortes chuvas nas regiões Sul e Sudeste também afetaram as principais regiões produtoras de alimentos in natura. "As fortes chuvas provavelmente contribuirão para uma reversão do movimento de desaceleração dos preços desses alimentos em março."

O banco também lembrou aos seus clientes que o fim da isenção do Imposto sobre Produtos Industriais (IPI) em produtos eletrônicos influencia a inflação dos bens industriais.

No aspecto positivo, a menor inflação em preços administrados virá da mudança das bandeiras (de vermelha para amarela, e de amarela para verde) nos preços da energia elétrica nos meses de março e abril, respectivamente.

O índice do grupo matérias-primas brutas registrou variação de 0,97%. Em fevereiro, a taxa foi de 1,96%. Contribuíram para a desaceleração do grupo os itens: soja (em grão) (1,02% para -5,72%), milho (em grão) (20,01% para 5,72%) e cana-de-açúcar (3,97% para 2,73%).

O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) registrou variação de 0,61%, em março, ante 1,64%, em fevereiro. O destaque foi o grupo Alimentação (2,06% para 0,96%). Nesta classe de despesa, vale mencionar o comportamento do item hortaliças e legumes (15,19% para -3,88%).

Também apresentaram decréscimo em suas taxas de variação os grupos: educação, leitura e recreação (3,60% para 0,16%), transportes (2,26% para 0,72%), habitação (1,05% para 0,12%), saúde e cuidados pessoais (0,72% para 0,70%) e vestuário (0,43% para 0,31%).

Nestas classes de despesa, destacam-se os itens: cursos formais (6,51% para 0,05%), tarifa de ônibus urbano (6,69% para 0,19%), tarifa de eletricidade residencial (1,09% para -2,76%), serviços de cuidados pessoais (1,06% para 0,46%) e roupas femininas (0,36% para 0,30%), respectivamente.

Efeito do câmbio

Pina ressalta que cerca de 50% dos preços no Brasil são influenciados pelo câmbio, mas que a cotação do dólar tem sofrido muita volatilidade nas últimas duas semanas.

"Se com a chegada do Lula na Casa Civil tiver uma confirmação de uma guinada à esquerda, com a proposta de utilizar as reservas cambiais e usar os bancos públicos para dar crédito, o dólar vai subir e dispara a inflação. Mas se por outro lado, houver uma mudança ortodoxa, com ida de Henrique Meirelles para o Banco Central ou para a Fazenda, talvez teremos um câmbio mais comportado", disse.

 



Veículo: Jornal DCI


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